(Poucos) nomes femininos nomeando ruas Torres

E nao é só em Torres... "No Brasil, dos mais de 830 mil logradouros (rua, avenida, alameda, etc.), cerca de 402 mil eram do gênero masculino e apenas 108 mil eram do gênero feminino, equivalente a 13% do total."

8 de maio de 2023

Recebi um e-mail de uma aluna da rede escolar estadual (E.E. Marcílio Dias), onde ela dizia que estava fazendo uma pesquisa sobre as ruas do Município de Torres. No e-mail ela citou um artigo meu que falava exatamente sobre este assunto.

A pesquisa dela é sobre o nome das ruas que existem na cidade (município) do gênero feminino. Trabalho árduo e ao mesmo tempo fácil! Sim fácil, porque ela encontrou apenas três. Árduo, porque ela teve que olhar rua por rua até chegar a este desfecho.

Não sei qual a profundidade da pesquisa, mas a questionei sobre a dificuldade de encontrar ruas dedicadas às mulheres em uma sociedade patriarcal em que os homens são os primeiros a serem homenageados. Certamente encontraria muito mais ruas com nome de homens do que de mulheres.

No Brasil, dos mais de 830 mil logradouros (rua, avenida, alameda, etc.), cerca de 402 mil eram do gênero masculino e apenas 108 mil eram do gênero feminino, equivalente a 13% do total. Quanto à localização, a maior parte dos logradouros que homenageiam mulheres são ruas de caráter local, de pouco movimento e distantes das zonas centrais que, diferentemente de ruas muito movimentadas, vias arteriais e estradas, recebem nomenclaturas de ilustres figuras masculinas.

Porém, além disso, cabe questionar muitas vezes os critérios destas escolhas. Considero que deveria ser público a forma de escolha do nome de ruas em uma cidade. Sei que muitos destes nomes são sugeridos através de entidades e apresentados por vereadores, porém os critérios dessas sugestões e escolhas deveriam ser conhecidos e aceitos por toda a sociedade.

Os nomes das ruas de uma cidade são definidos pela Câmara Municipal, através de projetos de leis votados pelos vereadores eleitos. É importante ressaltar que em algumas situações essas definições de ruas, praças e logradouros ocupam boa parte das proposituras analisadas, discutidas e aprovadas pelo Legislativo.

O tipo de escolha certamente faz parte da herança de tempos passados, onde a adoção de nomes masculinos para ruas era o usual. Modernamente estão sendo adotados nomes femininos. Além do problema de gênero, soma-se a forma e os parâmetros para a escolha.

Encontrei uma lei promulgada e sancionada pelo prefeito do Município de Torres, Severiano Rodrigues da Silva, em 4 de março de 1949, onde tinha algumas orientações para a colocação de nomes nas ruas do município. No artigo 16 estavam detalhadas as normas a serem seguidas nas designações das ruas, avenidas e praças: 1 – Não serão demasiado extensas, a fim de não prejudicar a clareza e precisão das indicações; 2 – Não serão repetidas; 3 – Não poderão conter nome de pessoa viva; 4 – Deverão estar de acordo com a tradição, representar nomes de vultos eminentes ou beneméritos, feitos e datas gloriosas da História ou nomes geográficos.

A propósito, o nome das ruas com nomes do gênero feminino pesquisado pela aluna foram as seguintes: Rua Cândida da Silva, no bairro Getúlio Vargas, rua Dona Lucilia, e rua Dona Olízia, ambas no bairro São Brás. De acordo com a aluna, as três ruas são principais, podendo existir mais algumas em vielas ou em ruas sem saídas.

Encontrei sim, mais algumas ruas do gênero feminino: a rua Dona Amélia, na Vila São João e outra de mesmo nome na cidade de Torres; rua Donatila Borba, no bairro Centenário; rua Maria Meurer Matos, Dona Esperança e rua Eponina Teixeira Bauer, todas na vila São João; e a rua Nair Macedo, no bairro Igra Norte. Aumentando assim, para dez nomes femininos e, aparentemente, relacionados com a cidade e o município como um todo.

Se pensarmos no gênero em si, ainda teríamos as que se enquadram tanto no gênero quanto em outro tipo de classificação como santos, divinos, religiosos (talvez?). Ainda assim seriam, de alguma forma, feminino, na ordem: rua Santa Helena (Bairro Guarita); rua Santa Rita (Vila São João); rua Santa Vitória (Itapeva Norte); rua Santana (Bairro São Francisco); rua Nossa Sra. do Rosário (Praia Weber); rua Santa Catarina (Balneário Pérola); rua Três Marias (Bairro Centenário). Totalizando, agora, dezessete ruas. Ainda assim, muito pouco se compararmos com a quantidade de ruas existentes no município inteiro.

São mais ou menos 400 ruas com nomes de cidades (Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Brasília), estados (Acre, Amazonas), lugares (Riacho, Itapeva, Salinas), dias importantes (Sete de Setembro, 21 de Maio), números (1, 2, 3), famílias nativas (Cunhas, Machado), acontecimentos (Independência), torrenses ilustres (Alfiero Zanardi, Alferes Manoel Ferreira Porto), e apenas dezessete nomes femininos, sendo dez de mulheres, aparentemente, torrenses. Digo aparentemente, pois esses nomes certamente renderão uma nova pesquisa para conhecer a história dessas figuras que mereceram ter seus nomes eternizados em ruas no lugar em que viveram.

 

Fontes: https://ruas-brasil.openalfa.com/torres.

 




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