TORRES EM AQUARELAS

Vou mostrar os primeiros registros sobre Torres e os artistas pioneiros que além de deixarem belas obras de arte, ajudaram a perpetuar imagens históricas da cidade.

26 de julho de 2021
Texto por Roni Dalpiaz (Mestre em Marketing, Administrador, Turismólogo e Artista Plástico -  e-mail: ronidalpiaz@gmail.com )

Torres sempre teve uma linda paisagem vista de qualquer ponto da cidade e como passagem de viajantes do Brasil e do mundo, inspirou diversos artistas ao longo dos anos.

Vou mostrar os primeiros registros sobre Torres e os artistas pioneiros que além de deixarem belas obras de arte, ajudaram a perpetuar imagens históricas da cidade.

 

Em 1920 o naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire, não pintou a paisagem, mas a descreveu muito bem. Chegando a Torres em 4 de junho de 1820 relata:

Sempre areia e mar. Enquanto nos dias anteriores só avistávamos uma praia esbranquiçada que se confundia com o céu na linha do horizonte, hoje, ao menos, deparamos dois montes denominados Torres, porque realmente avançam mar adentro, como duas torres arredondadas.

Seis anos depois passou por estas paragens Jean-Baptiste Debret (1768-1848) um pintor, desenhista e professor francês que integrou a Missão Artística Francesa (1817), que fundou, no Rio de Janeiro, uma academia de Artes e Ofícios, mais tarde Academia Imperial de Belas Artes, onde lecionou. Quando voltou à França (1831) publicou o livro Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil (1834-1839), documentando aspectos da natureza, do homem e da sociedade brasileira no início do século XIX. Debret deixou em solo brasileiro três belas aquarelas de Torres, que na sequência vou mostrá-las.

A primeira, deve ter mais ou menos 10×30 cm e mostra os três morros que praticamente estão dentro do mar, e entre os dois morros do centro aparece a pequena guarita. No fundo se vê o verde das matas com uma linha de montanhas ao fundo amarelado do céu.

 

As aquarelas de Debret parecem realmente interpretar a descrição de Saint-Hilaire …

Para as bandas do oeste, recomeçamos a avistar a grande cordilheira que há muito tempo não víamos. Cerca de uma légua daqui, encontramo-nos à margem do rio Mampituba (pai do frio), que, atravessando a praia, se lança no mar, após separar a Província de Santa Catarina da Capitania do Rio Grande; passamo-lo do mesmo modo que o rio Araranguá.

 

Nesta aquarela acima, com as mesmas dimensões da anterior, Debret retrata uma cena comum naquela época, a dificuldade da travessia do rio Mampituba. Naquela época a ligação do rio com o mar não era fixa e isso era um grande empecilho na entrada norte de Torres.

O naturalista Saint-Hilaire também descreve a entrada e a guarde de Torres desta forma:

É também à guarda de Torres que se paga o pedágio. Continuando a viagem, chegamos aos montes que têm esse nome; um relvado muito rente ao chão, um pouco mais elevado que a praia, estende-se à beira-mar, acima do monte que fica mais ao norte.

 

Esta aquarela (10×30 cm) revela Torres em 1826: a casa do alferes (a esquerda), no centro a igreja, retratada dos fundos (talvez escondendo a sua frente inconclusa), a direita está um portão que representava a entrada da cidade.

Essas últimas três aquarelas fazem parte do acervo do museu Castro Maya no Rio de Janeiro.

 

Outros artistas que passaram por Torres e também a retrataram com beleza e detalhamento. Um deles foi Herrmann Rudolf Wendroth, um mercenário e artista plástico alemão que veio para o Brasil em 1851, contratado para lutar na Guerra contra Rosas. Chegou ao Rio Grande do Sul por mar, dali seguiu em viagem por diversas partes do interior do estado, fixando em aquarelas e desenhos os tipos humanos locais e a paisagem urbana e natural, num documento visual precioso daquela época, executado com grande sensibilidade estética e por vezes mostrando uma veia satírica. Faleceu em torno de 1860.

Nos deixou esta aquarela descrevendo-a como Penedos de Torres (1852) no fim da província de São Pedro do Rio Grande do Sul. A aquarela de Wendroth retrata duas das torres ao amanhecer, destacando a torre sul e a guarita como tema central e uma pequena parte da torre do meio.

 

Tal qual Wendroth, Francis Pelichek, retratou Torres mostrando parte da vila de pescadores da forma que era em 1927, em uma aquarela sobre papel (32,5 x 41,5 cm). Francis Pelichek nasceu em Praga no ano de 1896 e faleceu em Porto Alegre em 1937. Foi um pintor, desenhista e professor ativo em Porto Alegre no início do século XX. Chegou ao Brasil por volta de 1920, naturalizando-se brasileiro. Lecionou no Instituto de Belas Artes da UFRGS de 1922 até sua morte. Suas obras são encontradas nos acervos do Centro Cultural APLUB, da Pinacoteca Aldo Locatelli, da Pinacoteca Barão de Santo Ângelo, do MARGS e do MASP, assim como em coleções particulares.

 

Depois dos pioneiros, Torres continuou sendo retratada através de pinturas por artistas de diversas partes do Brasil e do mundo e também por artistas locais que através de um movimento artístico souberam valorizar a paisagem e os talentos da terra.

 

Fontes:

SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem ao Rio Grande do Sul . Brasília: Senado Federal, 2002. (Coleção O Brasil visto por estrangeiros),

CARDOSO, Eduardo. A Invenção de Torres – Herrmann Rudolf Wendroth – Unisinos, 2008.

PELICHEK. Francis. Acervo Artístico da Pinacoteca Barão de Santo Ângelo do Instituto de Artes/Ufrgs.

 

 

 

 




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