Na semana passada me deparei (no jornal Zero Hora) com algumas fotos e um breve histórico de um dos icônicos hotéis do litoral norte: o hotel Termas Xangri-Lá, que nasceu como “Hotel Cassino Xangri-Lá”.
Como fui professor de Turismo na universidade durante 18 anos, orientei inúmeros TCC’s e um deles era justamente sobre o Hotel Termas Xangri-Lá e a sua influência no município de mesmo nome.
Aqui a grande sacada do trabalho de conclusão: o hotel que surgiu em um lugar chamado “Capão Alto”, teve a força de modificar o nome do local e mais do que isso, deu o seu próprio nome a ele.
Mas essa história pode ser perdida. Os habitantes do local, com o passar dos anos e o desaparecimento do hotel, nem irão mais ligar o nome do hotel ao do município. E se não ficar registrado de alguma forma, este fato será esquecido.
O interessante de toda a história do hotel é que ela é muito parecida com a do hotel Picoral daqui de Torres, evidenciando a vocação turística do litoral norte gaúcho já no início do século XX.
Vou aproveitar e contar um pouco desta rica história, através do texto de uma ex-aluna Caroline Brocker, a história desse que foi um dos grandes hotéis de nosso litoral.
Para falar do hotel é necessário antes mostrar um pouco do cenário onde ele surgiu. Como sabemos, os primeiros habitantes do litoral norte foram os descendentes de portugueses que, a partir de 1732, chegaram e receberam as sesmarias na “Paragem das Contas” na bacia do rio Tramandaí. Isso viria a ser o começo do território de Conceição do Arroio, hoje Osório. Logo depois vieram também os imigrantes italianos que foram se assentando na parte montanhosa do litoral norte, como Santo Antônio da Patrulha, e outros imigrantes como os açorianos e africanos que atraídos pela facilidade de adquirir terras também vieram para o Litoral Norte.
Com o início do século XX iniciou também o precário povoamento dessas terras. Na década de 1910 algumas famílias, que residiam no campo, vinham até o mar para pescar; foi por volta de 1920 que começaram a chegar os primeiros veranistas vindos da serra a cavalo ou por charretes puxadas por mulas. Em Capão da Canoa encontravam-se os primeiros hotéis do litoral Norte como o Bom Filho, que depois passou a se chamar Hotel Grizza, o Pedro Nunes (cujo letreiro foi pintado por um dos hóspedes) e o Hotel Riograndense, onde no inverno eram celebradas as missas.
A viagem de Porto Alegre a Capão da Canoa era feita em três etapas: Porto Alegre-Palmares de vapor, Palmares-Osório de trem e de Osório a Capão da Canoa de vapor novamente.
Em 1950, Xangri-Lá, que se chamava Capão Alto, pertencia a Conceição do Arroio, hoje Osório. A empresa Territorial Capão da Canoa Ltda, deliberou adquirir uma nova área de 220 hectares, localizada ao sul do então balneário de Capão da Canoa, propriedade da viúva Malvina Maria de Almeida. Seu filho o senhor Ramiro Correa da Silva e seu sócio José Agostinelli, com o objetivo de implantar nessa nova área um novo loteamento exemplar que fosse capaz de logo alcançar um grande êxito nas vendas.
Logo após a empresa Territorial Capão da Canoa Ltda ter adquirido a área de 220 hectares da viúva e os sócios terem implantado o loteamento denominado Xangri-Lá, outros empresários passaram a especular a área para comprar ao norte de Xangri-Lá. Surgiram, então, os outros balneários: Remanso, Coqueiros, Marina, Maristela, Arpoador, Noiva do Mar e Rainha do Mar que hoje fazem parte do município de Xangri-Lá.
“Acontecimento de relevo no setor de veraneios foi sem dúvida a inauguração do Novo Hotel Cassino Xangri-Lá, em Capão Alto. Arquitetura moderna rivalizando-se com o que de mais avançado existe, no mundo, em estações de veraneio.” Esta manchete estampava o jornal O Pioneiro, de Caxias do Sul, já antevendo o grande sucesso do hotel que fora inaugurado no verão de 1957.
Em abril de 1956 começaram o alicerce do hotel que foi projetado pelo arquiteto Beronesi, trabalhavam na construção em torno de 50 pessoas. Muitos desses trabalhadores vieram em busca de emprego pela fama da construção do hotel que se espalhou por todo o litoral gaúcho e parte de Santa Catarina.
Fontes: Almanaque Gaúcho, Ricardo Chaves/Zero Hora; Caroline Brocker, Hotel Termas de Xangri-Lá, A história oral de um município.
