Os plásticos, amplamente utilizados devido ao seu baixo custo, durabilidade e facilidade de processamento, representam hoje um grande desafio ambiental. Com uma produção global de 390,7 milhões de toneladas em 2021, o material se acumula no ambiente, especialmente em ecossistemas marinhos e costeiros, ameaçando a biodiversidade local.
Um estudo realizado pela PUCRS na Praia Grande, localizada em Torres (RS), avaliou a contaminação por microplásticos, pequenas partículas de plástico com menos de 5 mm de diâmetro, na área. “Este é o primeiro estudo a identificar e quantificar os principais tipos de microplásticos em diferentes locais dessa região”, destaca a comunicação da universidade.
Para avaliar essa contaminação, foram coletadas amostras de areia em 30 pontos equidistantes na extensão da Praia Grande. Essas amostras foram submetidas a uma série de processos, como separação por densidades, digestão química e técnicas de microscopia de fluorescência para a quantificação das partículas. “Ao fim, foi constatado que a média de microplásticos é de 650 partículas por kg de areia, algo assustador, uma vez que essas partículas podem se transferir para a cadeia alimentar”, alertam os organizadores do estudo.
A pesquisa destacou que, mesmo o Brasil possuindo uma das costas mais extensas e ricas em biodiversidade, a poluição plástica já foi detectada em várias áreas, especialmente no Sudeste e Nordeste. No Sul, áreas costeiras e fluviais, como a desembocadura do Rio Mampituba, limite de Torres, são mais vulneráveis devido às atividades humanas intensas de agricultura, turismo e pesca.
Para Maurício Reis Bogo, professor da Escola de Ciências e Saúde da Vida da PUCRS e coorientador do estudo, os microplásticos podem causar potenciais implicações na fauna marinha ou aquática, e até mesmo ambiente terrestre. “Podemos estar comendo algo orgânico, que não tem inseticida ou pesticida, mas tem plástico. Então é uma coisa que precisa de alerta”, destaca o professor.
Minimizar presença de resíduos plásticos no meio ambiente
Para mitigar a poluição de partículas nas áreas costeiras é necessário que sejam elaborados planos municipais de gerenciamento de resíduos mais eficientes. Segundo Kauê Pelegrini, idealizador da pesquisa e doutor formado pela PUCRS, esse planejamento municipal precisa ser feito, pois os plásticos chegam à costa através de rios que desembocam no litoral.
“Evitar ou minimizar que os resíduos plásticos atinjam o meio ambiente é fundamental para reduzir a presença de microplásticos nessas regiões. Limpezas nas praias também são muito importantes e eficazes, visto que quanto mais tempo os resíduos plásticos estiverem expostos à radiação solar, às águas do mar e outras formas de intemperismo, maior a propensão de geração de microplásticos”, comenta, alertando para a urgência de uma educação e conscientização ambiental mais eficaz, a fim de reduzir descartes inadequados por falta de informação.
Kauê destaca que, apesar dos dados preocupantes sobre a contaminação da praia, o saldo final da pesquisa foi extremamente positivo. Além de gerar informações valiosas, o projeto fortaleceu a colaboração entre grupos dentro e fora da Universidade interessados na interface entre plásticos e meio ambiente, abrindo caminhos para futuras investigações e ações de mitigação.