Um site publicou, na sexta-feira passada (dia 11 de fevereiro), uma notícia cuja manchete dizia o seguinte: “Falsa policial civil é presa após atuar por sete meses na delegacia de Torres”. Na matéria, a informação principal era de que uma mulher de 46 anos estaria a sete meses se passando por policial civil dentro da Delegacia de Polícia de Torres. E que a mesma teria sido presa (não informava por quem) quando foi flagrada extorquindo uma comerciante da cidade em nome da Polícia Civil. A noticia botava no centro das acusações a gestão da delegacia de Torres, mas não evidenciou a posição da chefia da delegacia – para checar o lado do delegado sobre o assunto.
A FOLHA Torres entrou em contato com o delegado de Polícia de Torres, Juliano Carvalho Aguiar,e recebeu a resposta do titular da delegacia local. Ele lamentou a forma distorcida em que a matéria (anteriormente citada) foi publicada, assim como lamentou que “até alguns de seus amigos pessoais teriam compartilhado a matéria nas redes sociais, sem falar com ele anteriormente”.
Juliano confirmou que aconteceu, sim, a lamentável postura da representante do Conselho Municipal Dos Direitos das Mulheres (Comdim) , quando esta mulher pediu dinheiro para empresários e pessoas torrenses em nome da Polícia Civil (e de outras entidades que estão sendo definidas na investigação), sem haver nenhuma demanda da delegacia neste sentido. Mas o delegado Juliano explicou que o caso já estava sendo investigado pela cúpula da polícia no RS e que, inclusive, o flagrante e a prisão da infratora foram feitos pelos próprios servidores da delegacia de Torres.
Não existia ‘falsa policial’, mas sim uma parceria com o Comdim
O delegado reclamou que – na matéria incorretamente publicada, citada anteriormente – tenha também sido estampado o conceito de haver uma “falsa policial” dentro da delegacia, assim como questionou a mesma reportagem por sugerir que a mulher presa tinha livre trabalho dentro da DP de Torres com esta função. Ele lembrou que não existe, e nunca existiu, falsa policial trabalhando na delegacia. O que teria acontecido, conforme o delegado, foi uma parceria feita entre a delegacia de Torres, o Ministério Público (MP) da Comarca (por parte do promotor Vinícius de Melo Lima) e do Comdim de Torres, no sentido de trabalhar o acolhimento das mulheres que iam à delegacia para denunciar violência doméstica contra elas ou contra crianças. E que a parceria teria sido feita justamente por demanda do MP e do Comdim – porque à época haviam reclamações públicas de que o posto especializado no atendimento da mulher vítima de violência doméstica (já implantado em Torres) estaria sendo subutilizado, o que abriu espaço para a parceria. Ou seja: “a pessoa presa era membro do Comdim, e estava ajudando nas abordagens das mulheres que iam à DP de Torres denunciarem casos de agressões”, afirmou o titular da DP de Torres Juliano Aguiar.
Mulher recebia elogios pelo trabalho na parceria
O delegado também relatou que a pessoa – flagrada pedindo dinheiro indevidamente em nome da Polícia Civil local – estava recebendo elogios da sociedade por seu trabalho na parceria. Juliano Carvalho Aguiar disse, inclusive, ter ficado decepcionado com a revelação do aproveitamento indébito da mulher ao usar o nome da polícia para demandas em benefício pessoal. Ele lembrou, ainda, que as delegacias de todo o Brasil utilizam de recursos humanos de fora de suas estruturas no trabalho. São servidores de prefeituras, de universidades e estagiários que trabalham nas delegacias para ajudar na (ainda precária) disponibilidade de recursos humanos e materiais que estas passam, mazela decorrente das delegacias estarem sempre demandando mais dinheiro do que é disponibilizado pelos orçamentos dos governos estaduais.
A mulher – membro do Conselho dos Direitos das Mulheres e presa em flagrante – já foi solta por conta de um pedido da justiça, para que a mesma responda o processo em liberdade.
Nota de esclarecimento do Comdim
Em decorrência da repercussão do caso, a presidente do Conselho Municipal dos Direitos de Mulheres de Torres (COMDIM), Melissa Fraga, encaminhou nota ao jornal A FOLHA a fim de esclarecer que o conselho é composto por 14 membros, 07 governamentais e 07 da sociedade civil. “Sendo assim, não temos responsabilidade por atitudes particulares de cada conselheira, nem autorizamos ser usado o nome deste conselho para pedir qualquer coisa. Temos o compromisso de zelar pelos direitos e combater diariamente toda e qualquer tipo de violência contra mulher”, ressaltou Melissa.
“Fatos ocorridos na semana passada em que envolveram o nome deste conselho , não são de nossa responsabilidade pois salientamos que não é prática deste conselho pedir qualquer tipo de contribuição financeira para nenhuma atividade. Com relação a conselheira envolvida recebemos da mesma pedido de afastamento deste conselho. Ficamos agora no aguardo que a justiça apure os fatos e traga a tona toda verdade”, concluí a presidente do Comdim.