0 paí­s das diferenças.

25 de março de 2012

 

Maria Helena Tomé Gonçalves

  Embora a gente sinta muito orgulho de ser brasileiro, há momentos, e muitos, nos quais um forte sentimento de indignação se apossa de nós, de todos aqueles que tem um certo ní­vel de consciência social e de conhecimento do direito í  igualdade em relação í s disparidades que acontecem no paí­s. No mesmo momento em que o governo gaúcho alega não ter condiçíµes de cumprir a lei do piso salarial nacional para os professores, os sagrados juí­zes do mesmo Estado reivindicam auxí­lio moradia “ traduzida pelo próprio Judiciário para Parcela Autí´noma de Equivalência “ PAE, nascida de uma Lei Federal que equiparou os vencimentos dos deputados federais e magistrados. Entre 1994 e 1998 os deputados federais recebiam três mil reais de auxí­lio-moradia a tí­tulo de se deslocarem de seus Estados para o exercí­cio do mandato em Brasí­lia (mesmo existindo os apartamentos funcionais destinados a eles). Agora nossos sagrados juí­zes estaduais querem receber “ e certamente receberão “ o pagamento retroativo desse auxí­lio, cujo montante ficará para cerca de novecentos juí­zes e/ou sucessores, em média de oitocentos e vinte mil reais per capta. Vale ressaltar que cada juiz gaúcho já recebe esse tal auxí­lio moradia embora não se desloque do Estado para o seu exercí­cio profissional e sabe, de antemão ao fazer o concurso público, que deverá residir no municí­pio da comarca onde exercerá sua função de juiz, além de que seus salários já estão acima do teto máximo constitucional (recebem cerca de vinte e seis mil reais mensais).

  Mesmo sendo muito ruim de raciocí­nio dá para perceber a enorme discrepância entre os três poderes brasileiros. Enquanto Legislativo e Judiciário se locupletam com altí­ssimos salários e uma variada gama de penduricalhos ditos legais, em nome de suas enormes responsabilidades sociais, em nome de seus altos ní­veis de estudo e conhecimentos exigidos pelos cargos (com exceção de certos cargos eletivos como deputados e presidente que até podem ser semialfabetizados), a maioria das categorias dos quadros do Executivo que também tem enormes responsabilidades sociais e altos ní­veis de estudo e conhecimentos, são pagos com salários miseráveis e cada vez que tem direito legal a aumentos determinados pelo ní­vel de inflação do paí­s ou outros í­ndices e não aumentos reais de melhorias salariais, é preciso fazer greves, deploráveis greves, campanhas, batalhas, manifestaçíµes e toda sorte de açíµes para chamar a atenção sobre a necessidade de atualizar um pouquinho seus parcos salários. Os juí­zes e os deputados não precisam nada disso.

  O próprio TCE “ Tribunal de Contas do Estado “ aponta o rombo que o pagamento retroativo do auxí­lio moradia dos juí­zes fará nos cofres do Rio Grande. í‰ inadmissí­vel que o salário de um único juiz possa pagar o piso salarial de cerca de dezoito professores, que não tem direito a auxí­lio moradia e que também precisam sustentar suas famí­lias. E que também fazem concurso público. Além do mais o professor é aquela pessoa que cada vez mais cedo participa da formação das nossas crianças, as quais vão para as creches e escolinhas cada vez mais cedo. Esses professores lidam com o que é mais precioso num paí­s “ a infância. Por isso precisam de muito estudo, de uma ótima formação e merecem uma boa remuneração pelo seu trabalho. Questiono se a responsabilidade social do juiz é assim tão mais relevante que a do professor. Ressalte-se que não terí­amos juí­zes sem professores. Mas acho que os juí­zes e os deputados dessa geração que está aí­ não tiveram bons professores de Educação Moral e Cí­vica do tempo da Ditadura, pois suas reivindicaçíµes, se não são ilegais, são imorais e vergonhosas. Talvez porque os tais professores de Moral e Cí­vica não eram professores de carreira, mas pessoas da comunidade nomeadas pelo Governo, entre elas, padres e juí­zes. Conceda-se auxí­lio moradia retroativo para os pobres juí­zes e que danem-se os professores, os médicos, os soldados, os bombeiros…


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