Foto histórica do primeiro campeonato da AST, em 1983
A Associação dos Surfistas de Torres (AST) realizou, no dia 29 de novembro de 2013 um grande jantar pela comemoração aos 30 anos da instituição. Estiveram presentes mais de 200 pessoas, dentre elas atletas de renome mundial como Rodrigo ˜Pedra™ Dornelles, Neco Padaratz, Daison Pereira, Figue Diehl, dentre outros. Autoridades locais e simpatizantes do esporte tiveram a oportunidade de participar da celebração.
*Por Guilherme Rocha
Macaco: Relembrando a história da AST
O engenheiro Marco Antí´nio Colares é um cidadão de muita participação na história de Torres. Para o pessoal do surf ele é mais conhecido como Macaco, um dos fundadores da Associação dos Surfistas de Torres (AST) há 30 anos atrás. Conversei com Macaco no jantar de aniversário da AST “ que aconteceu no salão da Sociedade Amigos da Praia de Torres (SAPT). Ele recapitulou alguns fatos que marcaram o surf em nosso município. Foi na Guarita que rolou o 1 º campeonato de surf em Torres, lá no ano de 1968, patrocinado pelo jornal Correio do Povo. Já em 73 e 74 começaram campeonatos realizados através da SAPT. Era aqui que as festas sempre aconteciam, disse ele. A partir destes campeonatos começou a surgir uma galera de Torres praticando surf: Felipe Raupp, Alexandre Raupp, Carlos Jones Salles. Foram os precursores que se criaram na cidade. Não tínhamos as roupas de borracha de hoje, mas o pessoal encarava o surf no inverno, só de lycra, lembra Macaco.
E foi a partir da fundação da Federação Gaúcha de Surf (FGS) em 1979, que começaram a rolar os campeonatos locais, com a participação dos surfistas nativos de Torres. Mas o surfista aqui na cidade era membro de uma tribo pequena, naquela época. Foi quando nos reunimos para criar a AST em 1983, buscando valorizar os atletas daqui. Conforme me disse Macaco, no começo dos anos 80 ainda rolava uma certa ˜rixa™ entre os surfistas nativos de Torres e o pessoal de fora. Mas a partir da criação da AST um respeito pelo surfista local foi se construindo, e passamos a ter maior integração com a galera que não morava aqui.
O primeiro campeonato da AST, há 30 anos atrás, ocorreu fora do veraneio, em setembro, com a presença em peso da galera da cidade. Foi o Eduardo Martins que ganhou, o nosso ˜Cupim™, que por muito tempo foi o surfista mais competitivo de Torres. Saiu daí também o primeiro filme de surf local, mostrando os competidores do campeonato, constata Macaco, que continuou. Logo começaram a rolar outras etapas, já fizemos um ranking municipal e a associação foi vingando. Nos vinculamos com a FGV e o pessoal começou a competir em outras praias do litoral norte: Tramandaí, Atlântida. Nesta época, a galera aqui de Torres também começou a fazer várias trips pra pegar onda nas praias de Garopaba e Imbituba (SC). E eram lugares de difícil acesso, estradinhas estreitas de chão batido, daí sempre rolavam uns carros atolados também. E neste lapso temporal de 30 anos “ desde a década de 80 até a atualidade – Macaco pensa que muita coisa mudou no mundo do surf. Hoje em dia a internet tá ai, te dizendo a ondulação que vai entrar, os ventos que vão soprar. Antigamente era tudo na intuição, a gente só sabia que tinha que acordar cedo pra garantir umas ondas boas, um mar sem vento, finaliza o fundador da AST.
Fernandinho e as trips do passado
Nativo aqui de Torres e figura tradicional do surf aqui na cidade, João Fernando de Freitas, o popular ˜Fernandinho™, também deu um depoimento ao jornal A FOLHA relembrando sua participação í frente da Associação de Surfistas de Torres. Comecei a surfar por incentivo do meu irmão, e com muito apoio do Marco Antí´nio ˜Macaco™, sempre um exemplo de pessoa para mim. Foi ele que me conseguiu um trabalho para que eu pudesse comprar a primeira prancha. Sempre acreditei muito no esporte, e quando fui presidente da AST realizamos 11 etapas no campeonato municipal, uma grande quantidade de eventos de surf.
E Fernandinho ainda lembrou a descontração das trips quando começaram os campeonatos interassociaçíµes do Litoral Norte. Enchíamos a van e íamos para outras praias aqui do litoral. A gurizada ia fumando o seu ˜cigarrinho mágico™ e queimava os bancos da van (risos). Mas Torres foi campeã 5 vezes consecutivas competindo contra Tramandaí, Capão da Canoa, indicou um orgulhoso Fernandinho, que complementa: Toda a gurizada do surf local se revelou nestes campeonatos: da AST: O Pedra (Rodrigo Dornelles), o Daison Pereira, o Robson Gobatto e vários outros talentos da nossa cidade. E a gente espera que novos talentos surjam no futuro: agora estou ajudando um jovem de família humilde e que é muito novo (pela lei) para trabalha. Consegui uma prancha e roupa de borracha para ele começar no surf, finaliza o ex-presidente da AST.
Lauro, Fernandinho, Alexandre e Aleixo: muita história sobre as ondas de Torres
Homenagens aos surfistas locais
Foram muitos os depoimentos inclusos no cerimonial da grande comemoração que teve lugar em celebração aos 30 anos da Associação de Surfistas de Torres. Foram homenageados nomes que fizeram parte da história da AST: Carlos Joni (que foi o primeiro presidente da entidade), e outros ex presidentes como Breno Clezar e Felipe Raupp. Surf é vida, saúde e companheirismo, fortalece o espírito do ser humano em tempos que as pessoas se preocupam tanto com dinheiro e individualismo. E é gratificante ver a boa relação que se estabeleceu entre o surf e Torres, e deve-se reconhecer a força de vontade de nossos surfistas. Lembro que chegamos a usar um caminhão de lixo como arquibancada nos primeiros campeonatos da AST. Mas o surf na cidade foi evoluindo, com o apoio das prefeituras do passado também (como a de Clovis Webber) e também dos pescadores (nunca um surfista morreu preso em redes de pesca por aqui), que sempre tiveram um debate harmonioso com os surfistas. E graças ao talento de nossos atletas, Torres passou a ser reconhecida mundialmente. Aliás, o Pedra é um patrimí´nio da cidade, tinha que haver uma estátua em homenagem a ele aqui em Torres, bem como a AST é um patrimí´nio da cultura torrense, disse Felipe Raupp, um dos professores de surf pioneiros no RS. Ele lembrou ainda a disputa entre Daison Pereira e Rodrigo Pedra Dornelles em uma final de campeonato Brasileiro na Joaquina, em Florianópolis (SC).
Surfistas locais do passado e do presente também foram homenageados no jantar da AST, em meio a salva de palmas e assovios: Marcel Miranda, Robson Gobatto, Daison Pereira, Iuri Silva, Adrian Trias, Eduardo Cupim Martins, Figue Diehl, Denis Machado, Emerson Perez, Pedro Gross, Renan Borba, Eduardo Grossmann, Cristiano Gonçalves. Outro dos ˜pais do surf™ de Torres, Alexandre Bayma Menezes discursou na festa. í‰ importante lembrar do apoio dos pais dos surfistas, que desde os primórdios do esporte na cidade sempre estavam presentes. E as ondas de Torres também estão de parabéns: temos boas bancadas, vários picos diferentes para o surf. Falta pouco para o projeto Torres Surf City, é só sair do papel, disse Alexandre. A família de Zeca Scheffer (in memorian) também recebeu homenagem na celebração, sendo ovacionada pela galera presente em momento de muita emoção.
O legado da Família Dornelles
Muita gente foi lembrada no jantar da AST, mas certamente a Família Dornelles foi a mais prestigiada de todas. E não foi í toa: Os irmãos Ricardo (Fogo), Rodrigo (Pedra) e Stéfano tornaram-se surfistas profissionais e difusores do estilo de vida que o surf proporciona. E dentre estes três irmãos, o Rodrigo ˜Pedra™ Dornelles tornou-se a maior referência da história do surf gaúcho, participando do WCT por 4 temporadas e chegando a ser o melhor surfista brasileiro em 2007, quando ficou na 18 ª posição no mundial.
O patriarca deste clã, pai dos três surfistas, também foi homenageado: Espero que novas levas de bons atletas surjam em Torres nos próximos anos, e que eventos como este se repitam para prestigiar o esporte, disse ele. Já o ídolo máximo de nossa cidade, Rodrigo ˜Pedra™ Dornelles, agradeceu aos seus pais por lhe darem a oportunidade de surfar, bem como aos amigos, a esposa e aos filhos. Se algum dia conseguiu representar Torres em qualquer lugar foi graças ao apoio de vocês. Parei de competir mas espero ter dado um bom exemplo para as geraçíµes futuras, destacou Pedra.
Rodrigo ˜Pedra™ Dornelles: ícone maior do surf torrense, mostrando que sabe
Neco Padaratz também apareceu na festa
E outro ídolo do surf brasileiro esteve presente no jantar em comemoração aos 30 anos da AST: bicampeão do WQS (Word Qualification Series), vencedor de duas etapas do mundial (WCT), o catarinense Neco Padaratz é um dos brasileiros mais reconhecidos mundialmente no esporte, e foi a surpresa da noite. Tinha 10 anos de idade quando eu vim aqui pra Torres pela primeira vez com meus irmãos. í‰ramos 5 apertados no carro e se perguntado: Aonde a gente tá? A gente não sabia direito ainda, só imaginávamos que acabariamos na praia. Daí dormíamos em casas vazias daqui, mesmo. Com 13 anos eu já conhecia Torres, e vim no Mingau aqui da SAPT (festa juvenil do clube na época) com o Ademir Kalunga (big rider brasileiro), que era uns 2 anos mais velho. O Pedra já nessa época era meu parceiro, e um rival nas ondas também “ o que seria meu primeiro título no surf quando moleque ele tirou de mim, lá em Santa Catarina!, lembrou Neco (que é dois anos mais novo que o Pedra)
Bem humorado, Neco Padaratz continuou com seu discurso falando da amizade com Pedra. Parabenizo o meu amigo Rodrigo Dornelles, que a gente chamava de Dorminelles nas trips, (porque ele tava sempre dormindo). Já eu era o contrário, né? Sempre agitado, fazendo barulho.
Em momento onde o passado ia sendo relembrado, Neco também fez algumas reflexíµes sobre nossa existência neste mundo. Quando a gente é criança não sabe muito, quanto mais idade temos melhor entendemos as coisas. Eu eu fui aprendendo com a vida, meio sozinho, não tinha pai e mãe muito presentes. O que eu acho é que a vida é só uma passagem, vamos aprendendo com os nossos erros sempre. Eu continuo sendo eu mesmo, e hoje o que me fascinam são as crianças, já que são elas que vão manter a semente. Agradeço a todos pela homenagem, talvez seja a última vez que seja lembrado (risos). Agradeço ao surf e aos tubos também, e aos momentos que passei sozinho dentro deles, finalizou Neco Padaratz.