Eleições: A SORTE ESTí LANí‡ADA! OU NíO?

25 de outubro de 2014

Por Paulo Timm

 

Dizem alguns   que a prudência é  o olho das virtudes, de tanta importância que a ela atribuem. Para outros, ela não passa de uma qualidade. Todos concordam, porém, que o  pecado se revela pelos excessos reiterando a máxima de que não há  disfarce do rosto que salve os defeitos da alma. Vá lá! Será que a sorte das eleiçíµes está , realmente, lançada?

 

Na verdade, a  campanha eleitoral chegou ao fim. Provavelmente, muitos estarão lendo esta coluna já com os resultados de domingo, dia 26, definidos. í€ Dilma ou  Aécio, a um deles, as batatas, como dizia Machado de Assis sobre os perdedores. Aliás, já disse aqui que não haveria vencedor no segundo turno, mas perdedor, ou seja, aquele que mais sofreu diante da desconstrução e dos ataques. í‰ a consagração do Bateu, Levou…!. No caso, levou… a Presidência da República.

 

Mas, afinal, tendo em vista as últimas pesquisas IBOPE e DATAFOLHA, que apontam ligeira vantagem í  Dilma, nos marcos de um empate técnico, será que as eleiçíµes estão mesmo definidas?   O PT ficará mais um mandato no Governo, no plano dos vinte anos de inclusão, como insistem seus lí­deres? Ou o PSDB voltará triunfante? O prestigiado Cientista Polí­tico, Marco Antonio Teixeira, diz que tudo está indefinido. Vejamos :

 

Os números apontam, em primeiro lugar para o empate técnico, isto é, para a perfeita competitividade matemática dos dois candidatos. Mas há, nesta eleição, uma extrema volatilidade no processo. Dilma, no começo, correu na frente. Depois, tropeçou na Marina que correu por fora e impressionou todo mundo. Então veio o primeiro turno e Aécio surpreendeu, projetando sua preferência nas primeiras pesquisas. Agora Dilma volta de novo para o primeiro lugar. E agora, o que vai acontecer no domingo?   Tudo pode acontecer. Mesmo com  a tendência favorecendo Dilma, o número de indecisos ainda é grande -6% -, suficiente para levar a vitória para um ou outro lado. Nestes indecisos há uma margem significativa, que é uma reserva de indecisão, entre 10% a 20% num quadro de indefinição muito amplo. Independente destes e apesar de um ligeiro favoritismo  para Dilma entre os restantes, em função da maior presença de mulheres entre eles, mais inclinados í  candidata, há um fato compensador í  Aécio, cuja maior votação está no Sudeste: Nesta região o número de abstenção e votos nulos é menor do que no Nordeste, onde ela- Dilma – arrasa. No fundo, portanto, o que vai decidir, provavelmente na madrugada de sábado para domingo, a eleição, é uma eleitora com o perfil da Da. Nenê,  a simpática personagem da Grande Famí­lia, da Globo,  mãe de famí­lia, moradora do Sul/Sudeste, com ní­vel de renda e instrução médio, ligeiramente conservadora. Esperemos…

 

O mais curioso de toda esta campanha é que o maior problema apontado em todas as pesquisas “ SAíšDE “ não veio í  tona.   VIOLíŠNCIA, segundo maior problema, foi pouco tratado, quase sempre remetido aos Governos Estaduais, constitucionalmente responsáveis pelo assunto. SANGUE nos debates, sem qualquer remissão a programas dos candidatos,  embora condenado por 71% dos brasileiros, paradoxalmente, deu a maior audiência ao SBT . Marcou de tal forma esta eleição que uma experiente jornalista, Eliane Cantanhede, da FSP, diz que será lembrada daqui a dez anos. Entenda-se… Não obstante, algumas coisas ficaram  patentes:

 

1.            A campanha, para o bem ou para o mal “ a meu juí­zo perigosamente “ ideologizou-se em termos de uma esquerda ( Dilma/PT oferecendo-se como condutora de um fio de  esperança para os mais pobres, já que pouco se fala propriamente em trabalhadores, numa clara evidência da imensa quantidade de pessoas ainda fora do mercado e da cidadania neste paí­s) versus uma direita,  (Aécio/PSDB oferecendo-se como alternativa ética num modelo de reorganização mais eficiente do Governo e da economia brasileira, numa maior  articulação com o processo de globalização). Alguns analistas colocam a disjuntiva como uma opção entre uma Alternativa Democrática, representada pelo PT, no sentido de incorporação ao mercado e í  cidadania e uma Republicana, como critério de uma gestão mais civilista da máquina pública, com vistas ao melhor desempenho da economia a largo prazo.

 

2.            Tal ideologização não ocorreu por acaso ou por mero proselitismo das opçíµes em jogo. O PT no Governo, de sua parte, arriscou-se em programas que, na verdade, nada têm de socialistas. São mais bem assistenciais ou compensatórios, voltados í  segmentos mais vulneráveis da população, como Politica Afirmativa de Cotas, Salário Famí­lia, o próprio aumento real do Salário Mí­nimo. Tudo isto situou o PT junto ao eleitorado, da mesma forma que Getúlio Vargas e o PTB haviam feito no passado. O PSDB, seu contendor,  diante disto, desde há dois anos, quando seu grande referencial, o Presidente FHC escreveu sobre o assunto, recomendou que a ação do Partido se voltasse para as classes médias. Fez, pois, sua aposta e está colhendo bons resultados, sobretudo onde este segmento social está mais consolidado. Mesmo na classe C emergente, dados demonstram que os eleitores estão muito rachados. Não se sentem obrigados a votar no PT.

 

Uma coisa, porém,  enfim, é certa: Independentemente de quem ganhe a Presidência, te-lo-á feito com a aprovação em torno 1/3   dos eleitores, eis que outro tanto terá votado na Oposição e igual  porcentagem, í  vista dos indicadores dos últimos pleitos, será debitada “ ou creditada “ í  alienação eleitoral, o conjunto de pessoas que não comparecem í s urnas, ou, comparecendo, votam nulo ou por abstenção. Isto aponta para um conselho: Um mí­nimo de contenção nas manifestaçíµes pela vitória. Afinal, o(a) Presidente (a) eleito(a) terá que governar para todos os brasileiros, inclusive “ talvez principalmente “ para  os 2/3 que não o sufragaram. Portanto, é bom não exagerar no que os gregos chamavam de hubris, o excesso que pode descambar para um perigoso desequilí­brio capaz de sensibilizar coraçíµes e mentes. Dizia Sun Tsu, autor da Arte da Guerra, que mesmo diante da virtual vitória sempre o exército vencedor deveria deixar uma saí­da honrosa para o perdedor, nem que fosse por precaução: um animal acuado é capaz de reunir forças inusitadas. O Brasil é maior do que a campanha eleitoral que finda. í‰ maior do que as ambiçíµes em jogo. í‰ maior do que o  eleito pode oferecer.   Isto deve orientá-lo a um ato de humildade  diante do resultado, reconhecendo a imensa tarefa que terá pela frente, principalmente a de reunificar a famí­lia brasileira e retomar o desempenho da economia nacional. Não será fácil. Mas é o que esperamos…

 


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