Por Guilherme Rocha*
Uma pesquisa realizada recentemente revela que o brasileiro está indo contra a corrente do desenvolvimento cultural em um ponto importante: reduziu-se o número de leitores e de livros lidos (per capita) nos últimos anos. Dentre os culpados para esta situação estariam a falta de tempo, o desinteresse e o domínio da televisão sobre as mentes da maioria. Nesta matéria, universitários de comunicação discorrem suas opiniíµes sobre a constatação, e uma livraria de Torres faz um contraponto a tese da redução (pelo menos para nossa cidade)
A pesquisa
Os brasileiros lêem hoje menos do que liam há cinco anos. í‰ o que revela a pesquisa Retratos da leitura no Brasil, do Instituto Pró-Livro. A terceira edição da pesquisa apresentada no dia 28 de março, revelou que a população leitora diminuiu no país. Enquanto, em 2007, 55% dos brasileiros se diziam leitores, hoje esse porcentual caiu para 50%. O estudo mostrou ainda que 75% dos brasileiros nunca pisaram em uma biblioteca.
São considerados leitores aqueles que leram pelo menos um livro nos três meses anteriores í pesquisa. Diminuiu também, de 4,7 para 4, o número de livros lidos por ano. Isso que entraram nessa estatística os livros iniciados, mas não acabados. Na conta final, o brasileiro leu 2,1 livros inteiros e desistiu da leitura de 2. Em nível comparativo, nos Estados Unidos a média de livros lidos é de 15 por ano, enquanto na Dinamarca a população lê mais de 15 livros por ano.
A pesquisa foi feita pelo Ibope Inteligência por encomenda do Instituto Pró-Livro (IPL), entidade criada em 2006 pela Câmara Brasileira do Livro (CBL). Participaram também o Sindicato Nacional de Editores e a Associação Brasileira de Editores de Livros Escolares. O levantamento foi realizado entre junho e julho de 2011, com 5.012 pessoas de 315 municípios brasileiros. Todas as regiíµes do País foram incluídas e a margem de erro é de 1,4%.
Do livro digital ao domínio da televisão
Para compor o mapa da leitura, questíµes diversas foram analisadas. Os principais motivos que mantêm leitores longe de livros são falta de tempo (53%) e desinteresse (30%). O livro digital, novidade que vêm se consolidando, já é de conhecimento de 30% dos brasileiros e 18% deles já os usaram. Dos que já leram o livro neste formato, apenas 6% disseram que não voltariam a lê-los em uma tela
Em pesquisas passadas a mãe aparecia como principal incentivadora da leitura. Mas este quadro também mudou. 45% dos entrevistados indicaram o professor como sendo a principal figura no relacionamento com os livros. A biblioteca é o lugar escolhido para a leitura de um livro por apenas 12% dos brasileiros – 93% dos que leem o fazem em casa. Ter mais opçíµes de livros novos foi apontado por 20% dos entrevistados como motivo para frequentar uma biblioteca. Porém, para 33% dos brasileiros, nada os convenceria a entrar em uma.
Entre os passatempos preferidos dos entrevistados, ler livros, jornais e textos na internet ocupa a sexta posição, com 28% (Na pesquisa anterior, o índice era de 36%). Assistir í televisão segue disparada na primeira posição (e crescendo), sendo preferência para 85%. Em 2007, a TV era a distração de 77% dos entrevistados.
Dos 197 escritores citados, os mais lembrados foram Monteiro Lobato, Machado de Assis, Paulo Coelho, Jorge Amado e Carlos Drummond de Andrade. Já os títulos mais mencionados foram a Bíblia, A Cabana, O Sítio do Picapau (em relação a toda a série de livros) e O Pequeno Príncipe. Best-sellers como Crepúsculo, Harry Potter e O Monge e o Executivo também aparecem em destaque.
A visão dos universitários de comunicação
Na Faculdade de Comunicação da UFRGS, encontramos um reduto onde a presença dos livros, jornais e revistas nas mãos dos alunos é uma constante, o que cria um ambiente onde cultura, conhecimentos diversos e embates ideológicos se mantém como fortes características. Pessoas lendo livros, discutindo ideias e autores com os colegas, uma biblioteca movimentada, professores com sugestíµes de leitura, ate mesmo alunos mais atentos na magia das páginas de um livro do que na própria aula (quando monótona).
Natália Pegollini 23 anos, é estudante de publicidade, e estava lendo Crime e Castigo de Dostoievski quando a interrompi para entrevistá-la. Sobre o livro, ela diz: Já tinha lido ˜O jogador™ do Dostoievski, este é meu segundo livro dele. í‰ uma obra tensa, psicológica, que viaja entre delírios, realidade e a sensação de culpa. í‰ incrível o quanto as vezes nos colocamos inconscientemente dentro dos livros, analisa Natália, que complementa sobre a questão da redução dos leitores no Brasil. Creio que as pessoas estão lendo mais, coisas como notícias e textos na internet, jornais e revistas. O problema é que eles não sabem fazer uma seleção do que é bom ou ruim de se ler. Para mim, esta redução mostra um retrato da nossa realidade, onde o brasileiro é manipulado desde sempre para amar a televisão, o Big Brother e as novelas acima de tudo. A televisão ainda é o centro das atençíµes em nossos lares, ainda que a internet venha crescendo. Acho que falta incentivo dos pais para dizerem aos seus filhos que é melhor ler um livro com conteúdo do que ver um monte de bobagens na TV ou na internet finaliza.
Já Marcus Quinho Soares, 25 anos, estudante de relaçíµes públicas da UFRGS, estava pesquisando na internet sobre uma coleção chamada Os pensadores (que reúne obras de autores clássicos que moldaram o pensamento moderno) quando o questionei sobre o desinteresse do brasileiro por livros, como aparece na pesquisa. Acho difícil de generalizar, porque cada um tem seus motivos para ler ou não. Mas acredito que para muitos brasileiros falte tempo útil para ler, pois com uma rotina diária atribulada muitas vezes as horas realmente tornam-se curtas para tantas coisas a ser feitas. Acredito que a internet também tem um papel importante nesta redução, pois ela prende a atenção do indivíduo que, muitas vezes, passa horas em frente ao Facebook e Youtube e, com milhares de informaçíµes chegando instantaneamente, muitos acabam se desinteressado pelo livro, que exige mais tempo e concentração. A internet tem seu lado positivo pois democratiza a informação, mas grande parte das pessoas acaba perdendo o tempo na internet com besteiras, conclui.
Livraria Super Livros: vendas crescendo ano a ano
Um contraponto í redução em Torres
Apesar do quadro aparentemente preocupante que aparece na pesquisa, em nossa cidade mostram-se sinais de que o numero de leitores vêm crescendo A população de Torres vêm lendo cada vez mais. Pelo menos é a reflexão que temos a partir da venda de livros aqui na livraria, que vêm crescendo progressivamente ano a ano. Vemos um incentivo grande da cultura e educação na cidade, as escolas fazem que os alunos tenham um contato com importantes títulos da nossa literatura, e as próprias crianças pedem aos pais para comprarem os livros. Os novos títulos também vêm se reinventando, tornando-se mais atrativos aos leitores, principalmente os jovens í‰ a opinião de Luciane Lange, arquiteta e proprietária da Livraria Super Livros.
Luciana acrescenta ainda o sucesso de livros para jovens como ˜Diários de um Banana™, os do gênero fantasia como as séries ˜Cronicas de Gelo e Fogo™ e ˜Crepúsculo™, além de títulos espíritas e de auto ajuda. Muitas pessoas hoje em dia vem procurando respostas nos livros, uma forma de se entenderem melhor. Por isso a procura por estas leituras que trabalham com um lado mais espiritual vêm crescendo bastante. Já os livros de fantasia tem histórias mágicas e leitura simples, que cativam as pessoas e, ao mesmo tempo, abrem o caminho para leituras mais complexas. Muita gente diz que não gosta de ler, mas acredito que a maioria destas pessoas simplesmente nunca encontrou um livro que fosse do seu interesse.
Em relação a importância da família na hora de introduzir o gosto pela leitura, Luciana ressalta Nem sempre os pais passam aos filhos a importância da leitura, porque estes mesmos pais não foram incentivados a ler quando eram crianças. í‰ importante também que o jovem veja desde cedo o livro não como uma obrigação, mas sim como uma forma de conhecimento, algo que inspire o leitor a crescer intelectualmente e seja, simultaneamente, um lazer. Finaliza a proprietária da Super Livros.
*Com informaçíµes de Estadão e Repórter Brasil Online