CHIMARRíO: parceiro de todas as horas

24 de abril de 2015

 

 E na hora de escrever esta matéria, adivinhem: quem foi meu companheiro?

 

 

Por Maiara Raupp*

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O chimarrão ou mate é uma bebida caracterí­stica da cultura do sul da América do Sul. í‰ um hábito legado pelas culturas indí­genas quí­chuas, aimarás e guaranis. Chegou a ser proibido no sul do Brasil durante o século XVI, sendo considerado "erva do diabo" pelos padres jesuí­tas das reduçíµes do Guairá. A partir do século XVII, no entanto, os mesmos mudaram sua atitude em relação a bebida e passaram a incentivar seu uso, com o objetivo de afastar a população local do consumo de bebidas alcoólicas.

O mate é atualmente um dos hábito tí­picos mais difundidos entre os gaúchos. Basta reparar os grupos de amigos e familiares que frequentam as praças, parques e praias do Rio Grande do Sul para perceber que entre eles geralmente estão circulando uma cuia e uma garrafa térmica. Mas isso não ocorre apenas nesses locais de lazer. Nos escritórios, faculdades, fazendas, agências bancárias e repartiçíµes públicas também é comum ver uma cuia passando de mão em mão.  Logo atrás do famoso chá de erva-mate estão o arroz de carreteiro e o churrasco. O interessante é que esses três hábitos fazem parte da rotina de muitos gaúchos, independente de quais sejam sua faixa etária, classe social e lugar do mundo onde moram.  

Para fazer o chimarrão, precisa-se cuia, uma bomba, erva-mate moí­da e água quente (sem ferver total). O mate tm gosto mais ou menos amargo, dependendo da qualidade da erva-mate, que, pronta para o uso, consiste em folhas e ramos finos (menos de 1,5 mm), secos e triturados, passados em peneira grossa, de cor que varia do verde ao amarelo-palha, havendo uma grande variedade de tipos, uns mais finos, outros mais encorpados, vendidos a diversos preços. O predomí­nio de folhas ou talos em sua composição, bem como sua granulometria, variam de região para região.  

Um aparato fundamental para o chimarrão é a cuia, vasilha feita do fruto da cuieira ou do porongo, que pode ser simples ou mesmo ricamente lavrada e ornada em ouro, prata e outros metais, com a largura de uma boa caneca e a altura de um copo fundo, no formato de um seio de mulher (no caso do porongo) ou no de uma esfera (no caso da cuieira). Há quem tome chimarrão em outros recipientes, mas a prática é geralmente mal vista (entre os gaudérios de raiz).

 O outro talher indispensável é a bomba ou bombilha, um canudo de cerca de seis a nove milí­metros de diâmetro, normalmente feito em prata lavrada e, muitas vezes, ornado com pedras (preciosas as vezes). Tem cerca de 25 centí­metros de comprimento, em cuja extremidade inferior há uma pequena peneira do tamanho de um moedão e, na extremidade superior, um bocal, as vezes executado em ouro (ou algo que pareça com ouro).

A temperatura ideal para o chimarrão é entre 70 e 80 °C, ou seja, a água não deve ferver. Ele pode ser tomado sozinho, acompanhado ou em grupo. Numa roda de chimarrão, passar a cuia para outra pessoa, antes de beber todo o lí­quido, é considerado infração graví­ssima de acordo com os mandamentos do chimarrão, que você lê a seguir:

 

Os dez mandamentos do chimarrão

(Mandamentos criados por Pércio de Moraes Branco)  


1) Não peças açúcar no mate.
2) Não digas que o chimarrão é anti-higiênico.
3) Não digas que o mate está quente demais.
4) Não deixes um mate pela metade.
5) Não te envergonhes do "ronco" no fim do mate.
6) Não mexas na bomba.
7) Não alteres a ordem em que o mate é servido.
8) Não "durmas" com a cuia na mão.
9) Não condenes o dono da casa por tomar o 1 º mate.
10) Não digas que chimarrão dá câncer na garganta.

 

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FOTO: Mayara (c) adora tomar chimarrão junto com pessoas especiais

 

 

E foi apresentando a tradicional bebida aos novos amigos catarinenses que os gaúchos Gustavo Lazzari e Mayara Cardoso viram o quarto mandamento ser quebrado. Assim que viemos morar em Garopaba inventamos de oferecer um chimarrão aos amigos catarinas. Alguns nunca haviam experimentado. Entreguei a cuia a um deles, que deu um gole e passou a diante. Comecei a rir e falei: ˜Isso não é caipira. Faz essa cuia roncar, tchê!™.   Adoramos essa história. E quando encontramos com eles sempre rimos desta situação, contou Gustavo.

O casal é fã de chimarrão. Mesmo morando em outro Estado, não abandonam a tradição. Amo tomar chimarrão. Mais do que tradição é ví­cio. Tomamos todos os dias. O tempo todo. Porém, melhor ainda se estiver entre uma roda de pessoas queridas. Pra mim o chimarrão representa a tradição gaúcha, que de mão em mão é levada a todas as geraçíµes. Mais do que isso, representa a amizade, a conversa, o afeto. Desde os dois anos eu já era incentivada a tomar chimarrão pelos meus pais, que são grandes apreciadores de um bom mate. Hoje em dia não tem como sair da cidade e ficar sem. Ano passado fomos viajar para o Rio de Janeiro e, claro, a erva de chimarrão foi na mala, por medo de não encontrar por lá, afirmou Mayara.

 

 

 

Dicas de como preparar um bom chimarrão:


* Preencha a cuia com dois terços de erva-mate num lado. Pode-se utilizar um aparador, prato ou, até mesmo, as próprias mãos para tapar a cuia;


* Na parte vaga, você deve colocar a água morna (apenas para começar o chimarrão). Colocando água morna, não se queima a erva e o chimarrão não fica tão amargo;


* Tape a boca da bomba com o dedo polegar e a coloque-a dentro da cuia, descendo-a rente í  parede, para que não fique ao meio da erva e não tranque o chimarrão. Se a água descer após você retirar o dedo da bomba, o chimarrão estará pronto;


* Agora, só falta saborear o delicioso mate. Se preferir, use um filtro para a bomba. O filtro impede o entupimento. Dessa forma, você se concentra, unicamente, em apreciar o sabor do chimarrão.

 

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O estudante de arquitetura, Kauê Silva, já está craque na preparação do chimarrão, se tornando o preparador oficial do grupo de amigos da faculdade. A maioria dos meus amigos gosta de chimarrão, mas não sabem fazer. Eu aprendi com meu pai uma maneira muito fácil e por isso preparo o chimarrão em qualquer lugar. Já até tenho meu kit dentro do carro, falou Kauê, que toma chimarrão todos os dias umas três vezes ao dia. Não abro mão nem no trabalho nem na faculdade. Gosto muito. Nunca me fez mal, pelo contrário, chimarrão pra mim é como um calmante. Torna as coisas ruins mais agradáveis. Reúne os amigos. Aquece em dias frios. í‰ um companheiro, garantiu ele.

Para a artesã, í‰rica Rocho, o chimarrão também é um amigo ausente, ou melhor, presente. í‰ famí­lia, é amigos, é risadas, é confidente. Porque ele não é triste, é um cara contente!, disse ela rimando as palavras.

O chimas, como se refere í‰rica, está presente quase o dia todo em sua rotina. Inclusive a artesã posta diariamente em seu perfil da rede social Facebook mensagens que incentivam í  vida e junto oferece um chimas virtual. Com o meu chimarrão preparado nas mãos, num momento de meditação e encontro, digo uma palavra amiga com a intenção de compartilhar este momento de lazer que a roda de chimarrão nos proporciona. Mesmo estando longe um do outro, acredito que podemos nos conectar e partilhar esse tempo, explicou í‰rica.

 

 

FOTO: Kauê preparando seu companheiro diário

 

 

 

 Preço X Cultura

 

O preço mais amargo do  chimarrão  há pouco mais de um ano fez os gaúchos mudarem seus hábitos na hora de apreciar a bebida. O tradicional topete de erva-mate praticamente desapareceu das cuias, que também diminuí­ram de tamanho. A alteração no comportamento reduziu em 20% o consumo no Estado em 2014, segundo o  Sindicato das Indústrias de Erva-Mate do Estado (Sindimate), justamente quando os produtores dobraram o rendimento por hectare ao investir em adubação e manejo de ervais praticamente abandonados.

A escassez de matéria-prima em 2013, reflexo do baixo valor pago aos produtores por muitos anos e   dos poucos investimentos na cultura, fez o preço da erva-mate aumentar em mais de 200% para os consumidores. No campo, os agricultores viram a arroba da folha (equivalente a 15 quilos) passar de R$ 8 para R$ 32 naquele perí­odo.

Com o quilo do produto custando mais de R$ 15 no varejo, os consumidores adaptaram seus hábitos. “  O gaúcho não deixou de tomar chimarrão, só reduziu a quantidade de erva na cuia  “ diz o presidente da Associação Gaúcha dos Supermercados (Agas), Antonio Longo, confirmando a redução no uso do produto no último ano. Cuias menores e erva na altura da borda fizeram cair em mais de 1,5 milhão de quilos o consumo mensal no Estado  “ estimado em 8 milhíµes de quilos pelo Sindimate. No Brasil, o consumo mensal é de cerca de   15 milhíµes   de quilos de erva-mate.

A baixa refletiu diretamente no preço pago ao produtor, que caiu para menos de R$ 15 por arroba nos últimos meses. Essa redução, porém, não chegou na mesma proporção aos supermercados, diz a Agas. A explicação, segundo o presidente do Sindimate, Gilberto Heck, é a defasagem gerada pela alta de 400% da matéria-prima, que não foi repassada integralmente ao consumidor. O quilo da erva varia hoje entre R$ 7 e R$ 15, conforme o Instituto Brasileiro da Erva-Mate (Ibramate).

“  Tivemos um desequilí­brio momentâneo, e o cenário se estabilizou. Oferta e consumo estão equiparados, com preços justos para o mercado  “ analisa Gilberto Heck,   presidente do Sindimate.

 

Benefí­cios (e possí­veis malefí­cios) do chimarrão

 

Muitos estudos apresentam os benefí­cios e os malefí­cios do chimarrão. Segue abaixo algumas das benfeitorias que essa tradicional erva traz ao organismo.

1 “  Elimina a fadiga “ O chimarrão possui alcaloides, sendo o principal a cafeí­na. Eliminando assim, o cansaço, tanto fí­sico como mental.
2 –  Digestivo “ A erva-mate possui propriedades digestivas, laxativas, combatendo a constipação intestinal.
3 –  Diurético “ Como o chimarrão é tomado quente (60 a 75 ºC), fortalece ainda mais a capacidade diurética. Beneficia quem tem retenção de lí­quidos.
4 –  Contém sais minerais “ A erva-mate possui minerais: ferro, fósforo, potássio e manganês, completando a dieta.
5 –  Possui antioxidantes: A erva-mate possui compostos fenólicos, que combatem o envelhecimento celular.
6 “  Auxilia na regeneração celular “ Os bioativos do chimarrão, ajudam na manutenção de nossas células.
7 “  Estimula atividade fí­sica “ Além de aquecer e eliminar a fadiga, irá proporcionar mais energia na hora de enfrentar uma atividade fí­sica.

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E por mais que estejamos quebrando o 10 ° mandamento do chmarrão, fazemos jornalismo: E há pesquisas que dizem que o chimarrão também prejudica o organismo. Muito quente, ele pode levar a lesíµes na parte interna da boca e da garganta, o que pode favorecer a formação de tumores e câncer no esí´fago.  Além disso, também pela temperatura, há a possibilidade de lesão nas papilas gustativas, causando uma perda parcial do seu paladar. Diminui a absorção de ferro, devendo ser evitada por pessoas com anemia. Pode também aumentar a pressão, devendo ser evitada por hipertensos.

 

 

 

 

*com informaçíµes Escola do Chimarrão e Zero Hora


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