Copa do Mundo: os dois lados da moeda

Algumas lojas entraram no clima da Copa, com decoração especial  

Por Maiara Raupp

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Quando o assunto é Copa do Mundo o povo brasileiro se divide. Há quem ache que o campeonato trará muitos benefí­cios ao Brasil. No entanto, há quem é totalmente contra o evento, e que acredita que não passa de um desperdí­cio de dinheiro, que poderia ser investido em saúde e educação, ainda grandes mazelas do Paí­s. Em Torres não é muito diferente. A população divide fortemente opiniíµes.  

Segundo a decoradora torrense, Marcia Maciel, este é um momento de muito orgulho para a nação brasileira, já que o futebol é o esporte mais amado pela grande maioria do povo desse Paí­s. Sabemos das dificuldades e necessidades do Brasil, e com certeza não podemos tapar os olhos para os possí­veis desvios de verbas públicas que ocorreram nos investimentos para a realização deste evento. Mas acredito que com Copa ou sem Copa as coisas não iriam mudar. Então acho que devemos curtir esse momento único e torcer para que a taça fique no Brasil, afirmou ela, acrescentando ainda que o Brasil sediar este evento é um momento histórico, que deve sim ser bem recebido por todos nós, finalizou ela.

Para o educador fí­sico Luiz Francisco Maggi, a Copa do Mundo é um evento extraordinário e muito benéfico para o Paí­s que o sedia. No entanto, o Brasil vive um momento longe de ser o ideal para receber esse evento.   A Copa é acima de tudo troca de experiências e conhecimentos. Há um entrosamento com outras culturas e isso gera uma grande evolução. Mas acredito que essa não era a hora certa. Não temos suporte nem estrutural nem educacional para receber esse evento. E isso pode difamar o nosso paí­s mundo afora, ressaltou ele.

Outro fator que o educador chama a atenção é para o patriotismo dos brasileiros, externado apenas de quatro em quatro anos. O futebol cria para o brasileiro o momento que podemos dizer para o mundo inteiro que somos os melhores. í‰ a única forma de demonstrar orgulho de uma nação falida. Infelizmente, parece que é só nessa época que se vê a bandeira nacional nas ruas, que se canta o hino, que se ovaciona a pátria. Portanto, acredito que a transformação deva começar por aí­. Temos que ser patriotas diariamente. A copa do mundo tem que ser todo o dia. Com certeza í­amos ser um Paí­s diferente, assegurou Luiz, indicando ainda que é triste saber que a partir do fim da Copa tudo volta ao normal. Recolhem-se as bandeiras, não se canta mais o hino, não se vê mais as cores verde e amarela nas ruas. O que fica de legado é, se o Brasil vencer, uma sexta estrela bordada na camisa da seleção canarinho ou, caso perca, o maior caso de desvio público da história do Paí­s, concluiu ele.

Copa  X Horário Comercial

A maioria dos estabelecimentos comerciais e públicos irá fechar as portas durante os jogos do Brasil na Copa. Mesmo que haja divergência de opiniíµes quanto a isso, muitos encerrarão seu expediente mais cedo para que seus funcionários possam prestigiar o evento. Além disso, há empresários que estão com medo de permanecer com seus estabelecimentos abertos por falta de segurança.

Em Torres não há nenhuma orientação do Sindilojas quanto ao fechamento dos estabelecimentos. De acordo com o Sindicato, cada lojista tem o livre arbí­trio de decidir o que for melhor, mas segundo eles a maioria dos estabelecimentos encerrará suas atividades uma hora antes do jogo.

Para Salete Tonet, vendedora ambulante de bolos e salgados, o encerramento do expediente mais cedo trará um prejuí­zo grande para ela. Acho muito importante confraternizar com amigos e familiares neste momento e torcer pelo Brasil. Mas para mim infelizmente é muito ruim. Como sobrevivo com o que vendo, com a maioria das lojas fechadas não tenho pra quem vender, já que meu público são os lojistas, disse ela, contabilizando o prejuí­zo que terá ao final do mês.

Ao contrário de Salete, alguns estabelecimentos vibram com a Copa, e decoraram seus espaços para o evento (como a tradicional Casa São Paulo). Além das lojas que comercializam artigos e vestuários do Brasil, alguns bares e restaurantes estão organizando promoçíµes especiais para atrair clientes nos dias de jogos. í‰ o caso do El Cholo, na beira mar de Torres. Durante toda a Copa do Mundo, o bar reduzirá pela metade o preço dos petiscos e servirá pipoca aos clientes de cortesia.

Copa X Horário Escolar

Assim como os estabelecimentos comerciais, as escolas liberarão seus alunos mais cedo ou até mesmo não terão aula durante os jogos do Brasil. Para alguns pais, isso é um absurdo. Não concordo com as escolas liberarem mais cedo as crianças para assistirem o jogo. Nas três primeiras partidas, vão ficar apenas duas horas na escola. E no dia da abertura da Copa não houve aula. Fizeram feriado. Um absurdo! Não acredito que conseguirão recuperar tudo o que deveriam aprender  até o final do ano letivo com esse tempo perdido, afirmou Márcia Maciel, mãe de uma menina de 9 anos.

A mesma opinião é compartilhada pela diarista Raquel Evaldt, que com o cancelamento das aulas terá que levar sua filha de 6 anos junto com ela para o trabalho, já que não tem com quem deixar. Além de ela perder aula, atrapalha o meu serviço também. Tem patríµes que não gostam de criança no trabalho. E mesmo que a escola libere í s 15h, não tenho como sair no meio do expediente para buscá-la. O jeito é nem levar ela para a escola, disse Raquel, destacando ainda que é muito difí­cil uma criança de 6 anos parar na frente da televisão para ver jogo. Acho um desperdí­cio de tempo para as crianças. Mas ninguém nos consultou. Simplesmente informaram, falou ela indignada.

Mesmo diante de tantas divergências de opiniíµes e tantas decisíµes impostas, a cidade aos poucos vai ficando verde e amarela. Mesmo que timidamente a Copa do Mundo vai ganhando forma em Torres. E como declarou a secretária torrense Ieda Carlos em seu Facebook, protesto inteligente é nas urnas e não na copa. O dinheiro já foi desviado, as estruturas e os estádios já foram construí­dos. A copa ser um fiasco não melhorará a nossa educação, o nosso transporte e muito menos a nossa saúde pública. Então o que nos resta agora é torcer, concluiu ela.