MORTE

23 de julho de 2010

                         

                        Considero a morte o segundo contrato assinado logo após sermos concebidos. O primeiro é o contrato com a própria vida: vivê-la da melhor forma possí­vel. O segundo é com a morte, porque tão certo como termos a oportunidade de viver, é um dia, mais cedo ou mais tarde, termos essa vida encerrada pelo que convencionamos chamar morte, passagem, partida, ida, viagem. Ela nos encontrará em algum momento no decorrer dos dias ou anos das nossas vidas e nos levará para o lado de lá do conhecido, lado totalmente desconhecido pela nossa fria razão, lado esse que somente através da fé podemos ter uma idéia do que seja e somente pela fé termos a certeza da continuidade da nossa essência, da energia que nos anima e que chamamos de alma, de espí­rito.  

                      Pelo razoável, deverí­amos nascer, crescer, viver a infância, a adolescência, a juventude, a maturidade e a velhice e somente então partirmos, como os elefantes asiáticos que chegando í  velhice buscam o lugar onde já morreram seus semelhantes e ali esperam pacificamente a hora de morrer. Mas a vida humana no planeta Terra não acontece sempre assim. Aliás, na maioria dos casos, somos forçados í  morte bem antes do tempo que deverí­amos pela ordem natural das coisas, viver. Estamos sempre no fio da navalha, o menor deslize pode nos levar daqui, o menor resvalo involuntário ou não, pode nos carregar de roldão rumo ao desconhecido, sem estarmos preparados. Podemos morrer acidentados no trânsito sem termos responsabilidade alguma sobre o fato, podemos morrer de bala perdida em plena idade escolar dentro de uma sala de aula onde acreditávamos estar seguros, podemos morrer de AVC (acidente vascular cerebral) mesmo tendo levado uma vida normal, contida, controlando nossas taxas, podemos ser contaminados por uma doença transmissí­vel complicativa apenas porque estivemos com alguém contaminado, podemos manifestar um câncer, um infarto cardí­aco, um aneurisma… Somos seres fortes/frágeis numa constância/inconstância assustadora. Assim como estamos bem, vivendo em toda nossa plenitude podemos ser atropelados pelas intempéries da vida e nos irmos, assim como adoecemos e temos nossa saúde desequilibrada gravemente, podemos ser salvos por um procedimento médico, por uma bruxaria mágica, por um milagre inexplicável e ficamos bons para viver até a velhice. A morte nos espreita sempre, mas permanece para nós uma eterna incógnita, uma desconhecida.  

                      Dói profundamente perder um ser amado. Dói ter um jovem familiar morto no trânsito sem aviso prévio. Dói ter um amado levado pelo infarto ou pelo AVC sem data marcada. Dói ver o progenitor, por mais idoso que seja, partir do nosso conví­vio costumeiro e deixar o lugar de patriarca/matriarca vazio. Dói a partida, dói a ausência, dói o lugar vazio ao nosso lado, í  nossa frente, í s nossas costas. Dói, dói, dói. Dói por muito, muito tempo e somente a nossa fé pode nos dar algum consolo. A nossa fé e o apoio de pessoas queridas, a presença dos familiares, especialmente o abraço fraterno dos amigos, a palavra de consolo dos nossos semelhantes.  

                      Nesse iní­cio de semana demos adeus a uma pessoa querida, cidadã canelense de nascimento e torrense por opção “ Lí­ria Almeida, cuja partida deixa um grande vazio na vida daqueles que com ela conviveram, na vida das instituiçíµes que com muito cuidado ela auxiliou, na vida do seu grande amor e companheiro Mariano Petersen, na vida do seu único filho André, na vida dessa comunidade que ela escolheu para viver esse tempo que nem imaginava ser o seu último perí­odo na face da Terra.

                     Adeus amiga Lí­ria, de todos os que contigo conviveram e por ti foram amados e te amaram!  


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