Você já deve ter ouvido, recebido pelo menos algum e-mail (ou mensagem no Facebook) alertando sobre os supostos perigos das micro-ondas. Será que são verdade, ou apenas lendas urbanas entre as tantas que alimentam a internet?
As mais bombásticas e recentes pseudo-notícias atribuem ao micro-ondas o poder de desmagnetizar os tecidos cerebrais a ponto de reduzir a inteligência. Outros boatos: os alimentos preparados no micro não seriam bem metabolizados pelo organismo: a produção de hormí´nios ficaria comprometida, nutrientes iriam para o espaço ou – pior – se transformariam em radicais livres, aumentando o risco de um câncer. Substâncias desconhecidas e potencialmente nocivas se acumulariam no corpo.
Tanto diz-que-me-diz acaba deixando muita gente com a pulga atrás da orelha. Afinal, o aparelho é relativamente novo. Foi criado na década de 40 pela Raytheon, um conglomerado norte-americano que atua na área de radares, equipamentos militares e aerospaciais. O primeiro forno micro-ondas tinha 1,70 m de altura e pesava 340 kg. Era arrefecido a água e produzia 3000 watts, aproximadamente três vezes a quantidade de radiação produzida por fornos de micro-ondas atuais.
Os fornos de microondas tornaram-se populares porque cozinham o alimento em um tempo bem curto. Eles também são extremamente eficientes no uso da eletricidade, porque um microondas aquece apenas o alimento, e nada mais.
Apesar de parecer que existe há séculos na nossa cozinha, o micro-ondas só chegou nas cozinhas brasileiras na década de 1980, quase 40 anos depois de as ondas eletromagnéticas passarem a ser utilizadas para fins culinários nos Estados Unidos. E tudo o que cheira a novidade suscita dúvidas.
Acrescente-se a isso outra história, esta nada fantasiosa: a ação das microondas sobre os alimentos ainda é pouquíssimo conhecida. "Faltam pesquisas para provar se esse forno faz mal pra saúde", defende Luiz Carlos de Oliveira, professor de ciência e tecnologia de alimentos da Universidade Federal de Lavras, em Minas Gerais, em entrevista para a revista SAíšDE! (editora Abril).
Mas… e agora a coisa pega: " Nunca se provou que a vibração nas moléculas dos alimentos pela ação das microondas traga danos í saúde. Mas também não existem dados assegurando que ele seja inofensivo", ressalva o pesquisador, um tanto reticente. í‰ assim e ponto?
Micro-ondas acabam com a vitamina dos alimentos?
Uma das denúncias que circulam na internet aponta o dedo para o roubo das vitaminas pelas ondas eletromagnéticas. Aliás, não é de hoje que essa suspeita intriga dois especialistas da Universidade Federal de São Paulo, a nutricionista Adriana Kachani e o nutrólogo Mauro Fisberg (também entrevistados pela revista SAíšDE!). Ou melhor, intrigava. Em busca de um fundo de verdade sobre essa relação, mínima que fosse, a dupla revisou pesquisas e mais pesquisas realizadas de 1994 para cá.
A conclusão foi de que, sim, há alguma perda de nutrientes em legumes e verduras. Apesar disso, os cientistas defendem que ainda vale a pena usar o equipamento Até mesmo para preparar aquelas hortaliças vendidas no setor de congelados dos supermercados, que cá entre nós são uma opção e tanto para muita gente que usa como desculpa para a má alimentação a falta de tempo, opina Adriana. í‰ melhor ingerir vitaminas de menos do que nenhuma.
Se do ponto de vista nutricional o microondas maltrata um pouco os vegetais, o leite fica bem mais preservado, ainda segundo a investigação de Adriana e Fisberg. Quando aquecido no fogão convencional, o alimento perde vitaminas do complexo B (como piridoxamina e piridoxal, formas ativas do grupo B6). Já sob o efeito das microondas, em dois minutos e meio há uma redução de 36% de vitamina C, enquanto os teores de vitamina E e de riboflavina, (uma vitamina do complexo B), se mantêm inalterados. Porém, após quatro minutos no micro, evapora-se a maior parte de tiamina, outro nutriente do mesmo grupo, presente no leite desnatado e nos do tipo integral esterilizado. Portanto: sem problemas em usar o micro-ondas, mas cuidado para não deixar os alimentos pelando, muito quentes.
Outro malefício comumente atribuído ao microondas é de natureza físico-química: o calor ali produzido derreteria os plásticos, liberando substâncias cancerígenas, como as dioxinas. Isso acontece, sim. Mas a culpa não é do eletrodoméstico, e sim de quem usa recipientes feitos com materiais impróprios para aquecimento, afirma Marco Aurélio De Paoli, do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas, no interior paulista. Que não restem dúvidas: só utensílios específicos para o micro são inofensivos para a saúde.
A água "explode" no micro-ondas?
Você já sabe disso, mas não custa nada reforçar: Recipientes de metal, alumínio ou de louça (com filetes dourados ou prateados), refletem as ondas e podem causar explosíµes pra valer. Além disso, nunca se deve aquecer no microondas, recipientes apenas com água, sem mais nada. Deve-se colocar alguma coisa dentro do recipiente, para difundir a energia (como uma colher de pau, por exemplo).
Caso contrário, a ação das micro-ondas nas moléculas de água fará com que a água superaqueça a uma temperatura superior a temperatura de ebulição. Desta forma, a água aquecida a uma temperatura superior a 100 ºC, fica num estado metaestável, que ao ser perturbado (pela adição de açúcar ou café) pode resultar na sua explosão, provocando queimaduras graves.
Quanto í s demais mensagens em tom alarmista que se difundem com velocidade na internet, o bom senso recomenda: não dê crédito, pois muita coisa não é o que parece ser. Desconfie sempre que a dúvida aparece, busque pesquisar mais a fundo, compare informaçíµes. E se sentimos que é cada vez mais difícil saber o que é verdade ou mentira na rede, use o bom senso e vá atrás de fontes confiáveis, veículos de comunicação vigorosos, sérios e estabelecidos, que já conquistaram algum crédito no compromisso com a verdade.
*Com informaçíµes de Revista SAíšDE, HowStuffWorks E Wikipedia