Quem caminha sozinho pode até chegar mais rápido, mas aquele que vai acompanhado com certeza vai mais longe. (Clarice Lispector)
Casamentos tendem a dar certo quando cada parceiro é capaz de se manter em movimento, desde que caminhem juntos na mesma direção, e não sentidos opostos, quando um progride e o outro retrocede. Muitas vezes quando apenas um cresce e o outro estagna, a separação se torna inevitável. Ou, pior, ambos passam a viver uma solidão í dois. Para que isso seja evitado, é preciso que o crescimento seja de ambos.
No caso da mulher, em geral, ela casa esperando que o homem mude com o passar do tempo. O homem, em geral, se casa esperando que a mulher não mude, mas ela muda, como todos nós mudamos no decorrer da vida. Se nenhum dos dois está preparado para lidar com estas mudanças, com expectaticas frustradas e não correspondidas, aonde o ressentimento e mágoa prevalece, o casamento tende a acabar. Um casamento em que um dos dois não percebe ou não aceita que o outro cresceu ou se modificou em alguns aspectos, um hiato começa se estabelecer entre os dois, a ponto de não se reconhecerem mais e começarem a se questionar sobre o sentido da relação. Até quando vale a pena estar junto? Pode se dizer que se a capacidade de autcrítica e reflexão sobre si está preservada, a relação poderá amadurecer, evoluir com as crises que fazem parte da vida afetiva do casal. Mas quando predominam acusaçíµes, culpabilizaçíµes, críticas, cobranças mútuas, e a busca de isenção na sua própria responsabilidade para o sucesso ou fracasso da relação, a tendência é que não se chegue a um acordo, mas sim a uma situação destrutiva e dolorosa.
í‰ preciso reconhecer que a parcela de responsabilidade é de 50 % de cada um envolvido para a relação dar certo. Não existe vítima ou vilão, mesmo quando,por exemplo, um dos parceiros reclama que o outro abusa do mandonismo e domínio sobre este. Assim mesmo, o primeiro tem participação e responsabilidade ao permitir esta situação, onde ele fica submetido e não se posiciona. í‰ possível ter uma relação amororsa de respeito, carinho, admiração, e ao mesmo tempo liberdade, individualidade, que são o oxigênio do bom casamento duradouro. Liberdade combina com casamento e com crescimento individual, se existe a confiança. Por outro lado, há de se questionar se queremos com o casamento a busca da nossa cara metade, ou se pretendemos anular diferenças e falhas em nossos parceiros. Neste segundo caso, então, não será a uma relação adulta e saudável que buscamos, mas sim uma relação infantil simbiótica, em que o outro é uma extensão de nós mesmos, e só existe para atender nossos caprichos, desejos, necessidades e assemelhando-se inteiramente conosco.
Este exemplo trata-se daquelas pessoas imaturas que não suportam não estarem no controle de tudo, de serem contrariadas; de terem que esperar pelo outro, de aceitar que o outro tem necessidades, e pensamentos próprios, e que é uma pessoa separada e diferente dela, com sua individualidade, e isto não é avesso ao amor, pelo contrário, quando existe amor de verdade, existe confiança, respeito. Mas se não confio que eu possa segurar meu parceiro através do amor, então preciso recorrer a outras manobras para prendê-lo a mim, através do domínio e controle. Ilusão, pois esta estratégia só faz afastar e destruir a possibilidade de amar, porque toda a pessoa que se sente controlada fica com raiva daquele que a controla.