
Gallardo do Sine: trabalhadores devem se conscientizar que a
especialização é o caminho
Por Regina Neves (reginadineve@hotmail.com)
A cidade de Torres, que convida ao eterno ócio e í contemplação de suas belezas naturais, vive em descompasso com o verbo descansar. Até mesmo quando o frio do inverno se aproxima, com os ventos gelados de maio, convidando a uma bela e quentinha cama, o que se verifica é que por trás dessa calmaria existe uma cidade pulsante. Que trabalha e gosta do que faz. Ninguém pára nessa cidade. Todos estão correndo atrás. í‰ o que comprovam os números do Sine “ Sistema Nacional de Emprego, de Torres. No último trimestre, a oferta de vagas foi recorde na cidade e no litoral norte do Rio Grande do Sul. Um total de 616 pessoas foram colocadas formalmente (com carteira assinada) de acordo com relatório trimestral da entidade, incluindo o mês de abril, nos hotéis, restaurantes, no comércio e na construção civil.
Segundo João Gallardo, coordenador do Sine, o número de vagas oferecidas nesses setores triplicou em relação ao ano de 2009. Foram feitos no mesmo período 4531 atendimentos, um número bem alto. Cerca de 80 por cento das vagas que apareceram na cidade passaram pelo Sine.
Números tão expressivos trazem na contrapartida o crescimento dos pedidos de seguro desemprego. Segundo o Sine, foram 280 só no mês de abril. Mas é uma tendência esperada afirma a entidade uma vez que í medida que vai chegando meio do ano muitos empregadores vão dando baixa na carteira em função da baixa temporada. E por causa da sazonalidade do verão os pedidos devem aumentar em 10 por cento até dezembro.
Em Torres é comum uma mesma pessoa fazer vários tipos
de trabalho ao mesmo tempo
O aumento da oferta de emprego em Torres contrasta com uma desagradável constatação. A da existência do especialista em generalidade ou multifunção que atua em todos os setores. Muitos deles acreditando que, sabendo fazer um pouco de tudo, tenham mais chances de vencer na vida. í‰ muito comum encontrar professores trabalhando na escola de manhã, í tarde em algum órgão assistencial e í noite vendendo utensílios de cozinha. Ou motoristas de í´nibus escolares que nos intervalos montam e desmontam móveis. E até advogados que trabalham de dia no fórum e í noite de garçom em restaurantes. Essa aparente versatilidade, além de tirar a vaga de um profissional especializado, pode mascarar incompetência em algumas das tarefas. Quem muito diz que faz tudo, não sabe nada, avisa Gallardo. Ele recomenda que quem vai procurar emprego tem que ter em mente que deve ser especialista em alguma função, ser responsável e dedicar um tempo para seu lazer e estudos. Todo profissional deveria saber que a especialização é fundamental. Além da prática, ela deve ocorrer através de cursos de capacitação, para que assim se obtenha uma boa qualidade do serviço prestado a população, explica.
A baixa remuneração e patríµes inescrupulosos também são alguns fatores decisivos para as pessoas se aventurarem em vários terrenos. Existem muitos empregadores em Torres que contratam uma funcionária para ser vendedora e exige que ela limpe os banheiros, faça faxina, vá ao banco, sirva cafezinho pelo mesmo salário mínimo, constata o coordenador do Sine. Mas tem também aquele trabalhador que acredita que fazer vários bicos pode lhe render mais. Só que ele se esquece que tem de estar cem por cento para desenvolver a função para o qual foi contratado, insiste.
Roseli Santos, 21 anos, é um exemplo. Ela trabalha como secretária de manhã, porém, antes de pegar no batente í s 8:30, faz um serviço de faxina em um salão de beleza no caminho do trabalho, que lhe rende um dinheirinho a mais. E a cada quinze dias ela complementa o orçamento com uma faxina maior. Não dá pra escolher muito, a gente tem que pí´r a mão na massa explica, E quanto ao preconceito de realizar funçíµes pouco atraentes, ela ensina: Não vejo isso como sendo um demérito e sim como uma oportunidade de melhorar minha renda, é só trabalho, finaliza.
í‰ bem possível que estejamos diante de uma banalização das profissíµes. Por isso deve-se ficar atento para que não se espalhe para profissíµes onde a vida e a liberdade das pessoas estejam em jogo.