É simples assim…

"Depois de termos tomado umas quantas cuias, saímos para caminhar na beira do mar. E aqui abro um parêntese: que alegria sentir, após longos meses de inverno, o sol reencontrando a pele escondida por camadas de roupa, aquela brisa cheia de saudade de bagunçar os cabelos" (por psicóloga Mariani Ct. Rodrigues)

29 de outubro de 2018

Fazia um lindo final de semana. Quem mora na praia ou pode ir até o litoral certamente se deleitou com o clima propício para pegar um solzinho. Famílias reunidas, crianças correndo, casais caminhando de mãos dadas, gente fazendo atividade física logo cedo, homens com seus materiais de pesca a postos, cada um buscando aproveitar à sua maneira. Nós começamos pelo mate, companheiro das horas boas e livres.

Depois de termos tomado umas quantas cuias, saímos para caminhar na beira do mar. E aqui abro um parêntese: que alegria sentir, após longos meses de inverno, o sol reencontrando a pele escondida por camadas de roupa, aquela brisa cheia de saudade de bagunçar os cabelos (se forem cacheados ou encaracolados então!), aquela areinha fina e macia nos pés (há quem não goste, mas juro que não acredito), e o geladinho do nosso mar (tudo culpa da Corrente das Malvinas…). Uma maravilha!

Durante a caminhada nos deparamos com muitos maçambiques que, tampouco acredite, soube que há quem nunca tenha ouvido falar, mas a gente que nasceu em uma praia no Sul do Brasil conhece bem. Soube também que são chamados de sarnambi, o que para mim é super novidade, mas o que importa mesmo é que a presença desses moluscos na areia indica boa qualidade da água, e são deliciosos!

Decidimos aproveitar então para catar|pegar|escolher maçambique. Muitas eram as razões para fazermos aquilo: é uma prática que lembra a infância, o contato com o mar é terapêutico, estávamos com fome e adoraríamos ter maçambique no almoço, além de ser um excelente exercício físico – fazer uns buracos na areia molhada com os pés ou sair correndo para pegar com as próprias mãos aquelas conchinhas afundando, que canseira! – e fonte de boas risadas, é claro.

Imersos na nossa prática, perdemos a noção do tempo. Um menino aproximou-se com sua avó e perguntou o que estávamos fazendo, e o que eram aqueles bichinhos. O guri vinha da capital e estava reconhecendo o território. Dei uma breve explicação, mostrei o que já tínhamos pegado e ele continuou sua expedição. Depois de algum tempo ele voltou, com muitos maçambiques dentro do seu baldinho: “ó, peguei pra vocês, tem uns bem grandões aí, minha vó disse que vocês deveriam estar querendo dos grandões”. Nessa hora tive vontade de apertar as bochechas do menino.

Ele voltou correndo para onde seus avós estavam e eu fiquei pensando naquele gesto. A criança, (sempre elas!) largou o que quer que estivesse fazendo para nos ajudar, e o que é mais bonito, sem que tivéssemos pedido, nem oferecido nada em troca. E nós nem nos conhecíamos. O verdadeiro ‘fazer o bem sem olhar a quem’. Ele simplesmente se doou naquela atividade, doou de si, de uma parte do seu dia na praia, tornando aquilo uma divertida brincadeira.

E acabou sendo uma divertida brincadeira mesmo. A cada pouco vinha o nosso guri com mais e mais maçambiques no seu baldinho verde. Em uma de suas vindas avistamos juntos um caranguejo que se aproximava dos nossos pés, em outra, seguramos um caramujo e deixamos que se movesse nas nossas mãos, e tudo era motivo de festa para ele. Vibrava com cada descoberta e também com o fato de estar nos auxiliando.

Quando finalmente nos cansamos e sentimos que o sol já deixava suas marcas, e que já tínhamos parte do nosso almoço garantido, fomos até nosso amigo nos despedir e mais uma vez agradecer seu auxílio. A avó do garoto desabafou dizendo que havia tentado inúmeras brincadeiras com o neto naquela manhã, mas que não havia tido sucesso, e que foi pegando com suas mãos os moluscos, sentindo a água do mar, correndo de um lado para o outro é que o menino finalmente se distraiu. Resultado: todos ficaram felizes, ela, ele, e nós. Poderia dizer ainda muitas coisas sobre as reflexões que brotaram em mim naquela manhã de praia, mas encerro com o desejo de mais dias assim, mais pessoas assim, mais gestos assim. Que a vida seja assim. Simples assim.




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