FANTASMAS DO PASSADO DE TORRES (Parte 5): Caçadores de Tesouros

"Existem várias lendas sobre tesouros enterrados em diversos pontos de Torres...conversando com um amigo, soube de uma muito boa e vou tentar contar" (por Roni Dalpiaz).

9 de junho de 2020

Enterrar coisas é um comportamento antiquíssimo, dizem que começou com os piratas nos séculos 17 e 18. É que nessa época não havia bancos ou contas no exterior (Suíça ou ilhas Cayman) para guardar preciosidades (ouro, prata e outras relíquias). Por isso usava-se o modelo dos cachorros: enterravam seus tesouros no fundo do quintal (ou dentro das casas).

Claro que Torres não ficou fora desse “comportamento” mundial. Nosso torrão era passagem de piratas, jesuítas, tropeiros e outros mais, e pode ter herdado algumas relíquias cuidadosamente enterradas.

Existem várias lendas sobre tesouros enterrados em diversos pontos da cidade. Na guarita, por exemplo, tem pelo menos três lendas bem conhecidas: a da sereia, a do homúnculo e a dos piratas.

Sempre fui muito curioso sobre a cidade e suas histórias e conversando com um amigo, soube de uma muito boa e vou tentar contar sem fornecer os nomes dos participantes para manter o sigilo da fonte.

A história aconteceu em uma das casas da rua de baixo (Júlio de Castilhos), que já não existe mais. Esta casa pertencia a família Freitas, descendentes diretos de Balbino de Freitas (um antigo comerciante, dono da primeira casa de secos e molhados de Torres) e que, assim como muitas outras, não suportou a ação do tempo e ruiu, deixando apenas boas histórias.

A moradora desta antiga casa, certa noite, acordou assustada, teve um pesadelo. Neste pesadelo lhe apareceu um índio apontando para o chão e dizendo que havia um tesouro enterrado embaixo da casa. Ela não deu muito interesse para isso e continuou sua vida. Porém, outras noites ela teve o mesmo pesadelo. O que deixou seu marido, no mínimo “encucado” com a história. Na época, o piso da casa estava necessitando de melhorias, pois a casa já era centenária. Então ele aproveitou e resolveu dois problemas, o piso e o tesouro e empreitou um buraco no meio da casa. Auxiliado por um conhecido, varou algumas noites nas escavações. Como a tarefa era muito grande e complexa e não havia muitos recursos tecnológicos a seu alcance, o sonho de ficar rico foi adiado. Mas o piso foi refeito!

Passado algum tempo, a casa já não mais oferecia segurança para habitar, os moradores, então, se mudaram para a casa dos fundos, desocupando a mesma. Com a casa em ruínas ficou mais fácil desenterrar (literalmente) a história do tesouro.

Agora com a ajuda da tecnologia, a busca pelo tesouro ficaria mais fácil. O morador descobriu uma pessoa que possuía um detector de metais e que também era conhecido por procurar tesouros, que aderiu a caça ao tesouro.

Numa escavação mais profunda, no local indicado pelo detector de metais, encontraram uma moeda antiga, um dobrão talvez. Isso indicava que era esse o caminho. No meio da escavação o dono do detector incorporou uma entidade que dizia ser um padre e que embaixo da casa estava enterrado um tesouro e contou detalhes de uma descoberta de moedas antigas na casa ao lado, anos antes.

Esse acontecimento motivou ainda mais os caçadores de tesouro e eles cavaram mais fundo ainda. Cavaram, cavaram até baterem com uma grande rocha sólida. Fim da linha.

Os caçadores de tesouro chegaram ao limite do possível. A grande rocha não tinha como ser removida e o sonho de ficar rico foi mais uma vez adiado ou encerrado.

O dono da casa soube, depois de pesquisar sobre o assunto, que bem onde estava a antiga casa era um antigo caminho dos padres, que se iniciava no alto da igreja e passava pela casa chegando à beira da lagoa do violão.

Bem, até hoje não se soube de ninguém que ficou rico de uma hora para outra naquelas redondezas. Sinal de que o tesouro ainda repousa embaixo da grande rocha ou talvez ainda esteja esperando a pessoa certa para encontrá-lo. Não se sabe!

A maioria dessas histórias sobre tesouros envolvem índios, padres, escravos e guardiões de tesouros. Invariavelmente os locais são casas antigas, fazendas abandonadas, velhas figueiras ou próximo a cemitérios.

Mitos e lendas fazem parte da cultura popular de uma sociedade, estão imersos em seus modos de sentir, pensar e agir e levam pessoas a fazer – ou deixar de fazer – coisas antes impensadas, a ter este ou aquele comportamento, a aspirar, sonhar, desejar que o fantástico faça parte de sua realidade.

Não sei se existe mesmo um tesouro do tipo clássico, aquele do baú cheio de joias e ouros enterrados nestes lugares. Contudo, pode sim existir outros “tesouros” menos valiosos para quem os procura, porém extremamente preciosos para quem os guardou.




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