‘Agricultura ecológica é parte da solução para fome no planeta’, diz agrônomo torrense

Para avaliar a viabilidade da agricultura ecológica na solução do problema da fome, conversamos com o agrônomo Laércio Meirelles, do Centro Ecológico. 

21 de outubro de 2018

Na última semana a Organização das Nações Unidas lançou a campanha “Um mundo #fomezero para 2030 é possível” e a FAO, que é o órgão da ONU para agricultura e alimentação, chama a atenção para a importância de combater a pobreza, o desperdício de comida e desenvolver uma agricultura sustentável. Para avaliar a viabilidade desse tipo de agricultura na solução do problema da fome, conversamos com o agrônomo Laércio Meirelles, do Centro Ecológico.

Em mais de três décadas, visitou a trabalho, especialmente como consultor, mais de 40 países, em todos os continentes. O que ele viu ao redor do mundo e as entrevistas que ouviu na Serra e Litoral Norte para o livro ‘Vozes da Agricultura Ecológica’, o credencia a falar sobre a contribuição da agroecologia no combate à fome e à pobreza.

 

 ENTREVISTA COM LAÉRCIO MEIRELLES

Agrônomo do Centro Ecológico

Em seu trabalho como consultor, o que o senhor observou na relação entre a agricultura ecológica e o combate à fome e à pobreza?

Laércio Meirelles – Já visitei mais de 40 países a trabalho, em todos os continentes. A agricultura é uma constante nessas viagens, é sempre ao redor do trabalho com agricultura ecológica. É uma constante a gente observar que, se nós não podemos afirmar que a agricultura ecológica é a solução pra fome do planeta, a gente pode dizer que ela é parte da solução. Na medida em que ela busca uma produção baseada nos recursos naturais, ou seja, naquilo que é gratuito, para o agricultor, especialmente o agricultor familiar, em muitos locais chamado pequeno agricultor, descapitalizado, pobre, produzir, a partir do que a natureza oferece, economicamente é muito mais interessante. E muitas vezes, nem sempre, dá uma oportunidade de mercado também mais vantajosa. Nesse sentido, a agricultura ecológica tem contribuído, se não é a resposta, é uma das respostas para o problema da pobreza e da fome.

 

Em termos gerais, qual impacto da agroecologia no combate à fome e à pobreza, no mundo?

Laércio – A fome é um problema que ainda afeta 1 bilhão de pessoas no mundo. Então sempre que a gente fizer agricultura pensando em usar os insumos locais, usar o sol e a chuva como matriz energética, recuperar os nossos solos através das próprias sementes locais, das vegetações espontâneas, cultivando plantas mais adaptadas ao nosso ecossistema, nós vamos estar fazendo uma agricultura que contribui no combate à fome à pobreza.

Por outro lado, a agricultura industrial, ao exigir do agricultor muita compra de insumo, ele compra insumos de fábricas que ficam longe, ou seja, ele está produzindo e o recurso econômico que ele gera é drenado para outros países ou regiões, não fica na comunidade, não fica no seu bolso. Isso então é terrível o impacto de uma agricultura industrial no que diz respeito à geração de pobreza no campo. Claro que nós não podemos deixar de dizer que a agricultura industrial é muito produtiva e produz muito alimento. Mas esse alimento é muito mal distribuído, o que faz que mesmo com o avanço da agricultura industrial em todo planeta nos últimos 50 anos nós ainda temos 1 bilhão de pessoas passando fome. A agroecologia merece uma chance para alimentar as pessoas no mundo.

 

Nas entrevistas para o seu livro (‘Vozes da Agricultura Ecológica’) o senhor chegou a identificar contribuições da agroecologia para a segurança alimentar dessas famílias?

Laércio – As entrevistas no meu livro, isso pode ser visto no próprio livro, têm sim muitos exemplos interessantes, de famílias aqui na nossa região, aqui nos municípios de Morrinhos do Sul, de Três Cachoeiras, que têm um sistema agrícola bastante eficiente no que diz respeito a sua soberania e segurança alimentar. Produzem quase tudo que consomem. Alguma parte disso vai para o mercado, outra parte serve para a alimentação de altíssima qualidade da própria família. Isso além de manter solo, manter a biodiversidade, manter os animais e a diversidade vegetal, isso também mantém a saúde da família. Então ganha todo mundo e, obviamente o consumidor que vai consumir esses produtos também vai ter sua saúde preservada. É um verdadeiro ganha ganha e é uma felicidade muito grande pra gente constatar que a nossa região já é uma referência nesse assunto em vários locais do mundo. A gente está sempre recebendo pessoas que querem saber, conhecer, as cerca de 500 famílias que produzem baseado na agricultura ecológica aqui na região do Litoral Norte do Rio Grande do Sul e Sul de Santa Catarina.


Publicado em: Meio Ambiente






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