“Aluguéis alternativos” em Torres: uma questão econômica e social

Tendência mundial de compartilhamento de residências é mais um concorrente para os alugueis tradicionais

Luiz e seu carro: uma das várias pessoas que aumentam sua renda e sobrevivem no inverno com alugueis no veraneio.
16 de fevereiro de 2020

Luiz Antônio é torrense. Aposentado na profissão de pescador, ele também aluga sua casa no veraneio, para aumento de renda familiar.  Luiz é um dos vários moradores da cidade que ficam na Avenida Castelo Branco, na entrada de Torres, com seus carros estacionados ao lado de placas com os dizeres “Alugo Minha Casa” e outros atributos dos imóveis. Luiz reclama que os valores dos alugueis estão caindo. Para ele, isso ocorre por conta do aumento da concorrência. “Se cobramos R$ 400 a diária, tem gente que oferece R$ 200 e isto tem diminuído nossa renda”, reclama (de certa forma conformado) o torrense. Mas ele afirma que o fechamento da entrada de veículos na Praia Itapeva tem sido um dos atributos que vem afastando muitos argentinos do veraneio em Torres. E neste ‘mercado imobiliário alternativo’ – onde as placas na beira da via são o chamariz –  cerca de  75% dos clientes deste tipo de aluguel são argentinos,  que agora estariam indo mais para Santa Catarina (conforme diz o próprio Luiz).

Cultura da cidade desde a década de 1970 contribui para o estilo de imóveis

O turismo em Torres cresceu a partir do final da década de 1970, principalmente com o advento da vinda em massa dos argentinos, para passarem as férias de verão na cidade. E uma das características deste crescimento é a cultura torrense da construção de uma segunda moradia em vários terrenos daqui. Esta casa (geralmente nos fundos ou anexa) servia (e ainda serve) para que as famílias se mudem quando alugam a casa principal no veraneio. É o caso de Luiz e tantos outros que deixam a vista o conceito de morar, mas ter uma residência reserva para poder alugar suas ‘casas principais’ no veraneio. Isto é facilmente observado nas casas de bairros que já foram populares, como Getúlio Vargas, Stam, dentre outros.

Mas, mesmo com a diminuição radical do percentual de argentinos no turismo de verão em Torres no inicio deste século, outras várias alternativas de aluguel no veraneio estão surgindo na cidade. Pessoas com imóveis na faixa litorânea, por exemplo, alugam casas no interior do município para poderem disponibilizar suas residências para alugueis no veraneio, por conta dos gordos valores pagos pelas diárias – que chegam a mais de R$ 1 mil por dia (principalmente no período do réveillon). Outros alugam parte de suas casas (quartos) numa espécie de “Hostel”, por conta da tendência de escolha deste tipo de hospedagem pelas novas gerações, que não querem gastar muito em hospedagem, mas querem viajar cada vez mais.

Os aplicativos do tipo Airbnb também abriram um novo mercado. Proprietários de casas podem também utilizar os vários clientes deste tipo de tecnologia para colocar seus imóveis para alugar de forma direta. Basta ter alguém para entregar as chaves no check in e o check out. E imóveis de famílias que não são utilizados em Torres (ou de famílias que utilizam os mesmos somente por algumas semanas) acabam entrando também no mercado de alugueis via novos aplicativos como este.

Na prática, este aumento de possibilidades para cidades como Torres – que sobrevivem principalmente do turismo – acaba sendo um incremento no aumento de renda e entrada de divisas (dinheiro que vem de outras cidades) no município, o que aumenta o consumo local e melhora a situação social de várias famílias. Além disto, a concorrência ajuda a melhorar a qualidade dos alugueis e diminuir o preço, como em qualquer outro setor que aumenta a oferta de produtos em relação à procura, um indicador de qualidade e civilidade em todo o mundo.

Imobiliárias reclamam da falta de qualidade e confiabilidade

A FOLHA conversou com Tânia Penz, proprietária de uma imobiliária em Torres, subdelegada do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (CRECI) e tesoureira da Associação Rede Torres Imóveis. Sobre estas formas alternativas de alugueis que têm surgido, Tania acha o Airbnb um progresso interessante, mas pondera que o proprietário tem que se envolver diretamente com o cliente na entrada e saída; e que também tem que resolver todo e qualquer problema que venha a surgir no imóvel alugado. Já na locação via imobiliária esta função fica toda com a empresa que contrata os alugueis. Ela pondera também para o risco da propaganda enganosa. Diz que nem sempre a casa ou apartamento é tal qual apresentado nas fotos.

Para a empresária do setor Imobiliário, o aluguel terceirizado por imobiliárias sérias sempre terá melhor atendimento e comprometimento, uma garantia para ambos os lados, para o dono que aluga e para o locador.

A líder empresarial do setor em Torres critica também, por exemplo, os “Atacadores de Rua” e os “corretores individuais”. Para Tânia esta forma de alugar pode se transformar numa dor de cabeça para quem aluga, porque não tem um CNPJ para recorrer caso haja problemas entre as partes durante a locação. Tânia Penz acha que, para o mercado imobiliário brasileiro (e a cultura dos moradores do país) estas formas de locação por site, atacadores de rua ou corretores individuais gera falta de responsabilidade com o cliente. “Além disso, tiram do mercado legal o bom atendimento do corretor credenciado e preparado, que oferece tanto para locador e locatário uma empresa legalizada estabelecida, além de um percentual que vão para impostos (por ser uma atividade totalmente formal)”.

Mais engajamento local por cuidados com a cidade de Torres

Tânia encerra sua opinião sobre as tendências e novidades no mercado de locação de veraneio em Torres sugerindo medidas para qualificar o turismo.  Para a empresária, a comunidade local deveria ampliara ainda mais o engajamento no sentido de preservação, limpeza, cuidados, dentre outros. Para ela, apresentar uma cidade melhor e mais bem cuidada não depende somente da prefeitura, mas também do povo dar o exemplo e usar sua criatividade para melhorar o local onde recebemos turistas, para gerar uma melhor impressão para os visitantes.

“Devemos fomentar esta cultura de cuidar do local desde a comunidade mais simples até a associação mais rica, com único propósito: o de contribuir para melhor qualidade de vida, atraindo cada vez mais turistas” concluí Tania Penz.


Publicado em: Economia






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