Para o agrônomo e mestre em Sistemas Agroflorestais Jorge Vivan, qualquer agricultor poderia se beneficiar das vantagens ecológicas e econômicas de um sistema agroflorestal simples, consorciando banana com juçara, espécies madeiráveis e cultivos anuais.
Em setembro deste ano vai fazer 10 anos que o agrônomo e pós- doutor em agrofloresta Jorge Vivan partiu, deixando uma enorme mudança para a Mata Atlântica e para as famílias bananicultoras do litoral norte do Rio Grande do Sul. Se hoje a região tem 56 propriedades rurais produzindo banana ecológica em sistemas agroflorestais é porque lá no passado, em 1991, Vivan apresentou essa possibilidade. Era o primeiro curso de agricultura ecológica organizado pelo Centro Ecológico e Pastoral Rural da Igreja Católica para uma turma de jovens agricultores.
Desde a década de 1960 os bananais vinha alterando o ecossistema da Mata Atlântica. A partir dos conhecimentos compartilhados por Vivan, os jovens que não queriam usar veneno, mas queriam viver da agricultura, conseguiram produzir, comercializar e abrir o caminho para as mais de 300 famílias integrantes do Núcleo Litoral Solidário da Rede Ecovida de Agroecologia.
Por tantos legados, na Semana da Mata Atlântica republicamos essa entrevista concedida por ele ao Centro Ecológico em 2012.
Centro Ecológico – Qualquer ecossistema comporta um sistema agroflorestal (Saf) para produção?
Jorge Vivan – Eu respondi essa pergunta pra mim mesmo quando eu estive na China, no chamado Planalto de Loes, que é um dos lugares mais inóspitos em termos de clima, um extremo de 37, 40 graus, seca, no verão, para chuva torrencial e talvez 15 a 20 graus abaixo de zero no inverno. Num lugar assim de extremos, extremamente pobre, foi onde eu vi que as áreas pequenas que os agricultores tinham como propriedade privada, porque na China propriedade privada é uma concessão do Estado. As áreas que eram deles mesmos eram sistemas agroflorestais. Árvores com plantios anuais combinados. Então eu pensei, se nessa condição, onde tudo está jogando contra, as pessoas apostam no sistema agroflorestal é porque é um sistema que é mais seguro.
CE – Como um agricultor convencional pode iniciar um sistema agroflorestal?
JV – Ele deve começar usando de maneira bem inteligente as espécies que ele já conhece e que tenham um benefício imediato e combinando isso com a floresta. Então, por exemplo, o hábito de deixar essas revezas, o pessoal chama de reveza, pra evitar o vento que é um grande problema pra bananicultura, com espécies nativas, já é uma ideia de sistema agroflorestal, que é a integração das árvores com a paisagem.
CE – Alguns agricultores não deixam vir a juçara porque dizem que vai fazer sombra pra banana.
JV – Os sistemas mais simples, são mais fáceis de começar. Um bananal onde tu tenha uma fileira de palmiteiro a cada 10 metros, ou a cada 15 metros, é um sistema muito simples, que vai trazer benefícios, reduzir a velocidade do vento, vai atrair pássaros que por sua vez afeta também a questão de pragas, vai comer uma broca da bananeira, vai trazer esse benefício. Fora o fato depois do fruto do palmiteiro que pode ser comercializado, e uma vez registrado o plantio, futuramente pode inclusive querer cortar, se ele quiser, se achar que está sombreando demais, pode cortar e vender o palmito. Então esses são sistemas muito simples, qualquer agricultor poderia iniciar. Poderia dar uma escala gigantesca pra indústria da polpa de açaí, que a gente chama de açaí de juçara aqui no estado e fazer uma enorme diferença.
CE – Que vantagens econômicas que o agricultor teria em relação ao agricultor que só planta banana, só cria gado?
JV – A ideia do sistema agroflorestal é justamente essa: ele é um sistema que comporta diferentes estratos, diferentes espécies. Então no caso é comum a gente ver bananal sendo implantado e o sujeito plantar feijão, cultivos anuais no meio do bananal aproveitando o espaço enquanto o bananal se desenvolve. Mas ele não pensa além disso, e o que a gente está propondo e pensando é que o benefício econômico que seria aproveitar esse espaço livre do bananal enquanto a banana não se estabelece, ele se estenderia pro momento em que se vai cortar o bananal e renovar porque deu vento, deu panamá, deu problema ou mesmo resolveu mudar de área. Então ele vai ter sempre esse benefício econômico. Uma coisa importante é que esses sistemas, dificilmente tu vai encontrar um outro sistema agrícola onde o valor agregado aumenta com o passar do tempo. Porque onde tu tem madeira, mesmo que seja uma espécie introduzida que nem o cinamomo gigante, uma outra espécie madeireira que não tenha potencial invasor, mas que ela venha trazendo esse valor agregado. Já vi combinações por exemplo em Praia Grande (SC), de cinamomo gigante e louro. Louro é nativo e cinamomo gigante é exótica, mas não é invasiva. Com 12 anos, 15 anos dá pra tirar o cinamomo e com 20, 25 o louro está pronto. O palmiteiro por exemplo, vai te produzir frutos em torno de 5, 6 anos. Tem várias opções, combinações, e todas agregam renda.