Ativistas da Cultura em Torres protagonizam importantes debates em Audiência Pública

Evento protagonizado pela Comissão de Cultura da Câmara Municipal abriu tribuna para desabafos de artistas de várias vertentes que moram na cidade

Plenário da Câmara ficou praticamente lotado por pessoas ligadas a atividades culturais em Torres
30 de setembro de 2022

Na tarde de terça-feira (27 de setembro) aconteceu uma Audiência Pública intitulada como “Por uma Política Cultural para Torres”. O evento foi uma iniciativa da Comissão de Educação, Esporte e Cultura da Câmara de Vereadores de Torres, formada por Moisés Trisch (PT) – Presidente, Carlos Jacques (PP) e Cláudio Freitas (PSB). A audiência é uma continuidade das reações expostas em uma Carta Aberta -emitida pelo Coletivo Integrado de Cultura de Torres (formado por vários outros coletivos, em sua maioria de atividades artístico culturais – música, literatura, teatro e etc.). Na carta, o grupo reunido compartilhou publicamente sua avaliação sobre a situação da Cultura na cidade, assim como demandou  sugestões de ações das autoridades públicas locais. E como não houve resposta formal da prefeitura de Torres à Carta Aberta (mesmo após o segundo pedido de resposta demandado pelo mesmo grupo), surgiu a iniciativa da Câmara Municipal em realizar esta audiência Pública, para atender os chamado dos atores locais. E o evento abriu justamente com a releitura deste documento do Coletivo Integrados da Cultura (carta aberta), lida pela cantora e artista Quértina Elz.

Os vereadores Gibraltar Vidal, o Gimi (PP) e Carla Daitx (PP) também participaram de toda a audiência pública – que utilizou suas duas horas de atividade completas por conta de várias representações e de tantos pedidos de uso de tribuna solicitados à mesa diretora.

Insatisfação da comunidade cultural local

FOTO – Paulo Timm na tribuna

 

O Professor e Escritor Paulo Timm (também colunista de A FOLHA Torres), em nome da Associação dos Escritores de Torres, abriu o uso da Tribuna da audiência pública comemorando a atitude da Câmara Municipal em realizar o evento. Para ele, “os poderes legislativos têm mais legitimidade em promover este tipo de debate”. Timm a seguir sintetizou a forte presença de artistas de todas as áreas no evento como um movimento que, para ele,  demonstra a insatisfação da comunidade cultural da cidade perante a falta de ações do poder público nos últimos anos. O escritor afirmou que, em sua avaliação, “a Cultura é o elemento central das economias, principalmente das cidades”. E lembrou da  Economia Criativa – uma moderna abordagem de sistemas de sustentabilidade econômica  das comunidades – que utiliza  como foco justamente a Cultura, dando exemplo da cidade de Paris como um local que aproveita sua rica história, sua arquitetura e seu estilo artístico como forma de atrair turistas, fazendo sucesso mundial.

Para Timm, a cidade de  Torres também  tem legados históricos e culturais suficientes para que  sejam  explorados como fomento a atividades artístico-culturais, que por sua vez podem acelerar a economia local e atrair turistas através de seus usos artísticos, num processo de fomento a um novo tema de turismo dentro das atividades locais.  Para provar isto ele  exemplificou a obra do historiador Ruy Rubem Ruschel – em seus livros com milhares de páginas sobre a história da formação da comunidade de Torres – como prova cabal de que há, sim, elementos a serem explorados para que os legados da história sejam uma forma de trabalho cultural em Torres.

 

Organograma da Cultura pública deve ser buscada

 O Historiador, professor e músico Jaime Batista (torrense da gema), representando o Centro de Estudos Históricos da cidade (e com experiência quanto Gestor de Cultura na Prefeitura de Passo de Torres),  na tribuna fez uma abordagem técnico-política da questão da Cultura em Torres. Ele lembrou que existe uma espécie de organograma nacional pela difusão de ações da cultura, a qual a cidade não estaria habilitada (e que possibilitaria receber recursos federais para fomentos culturais). Segundo ele, somente três encontros sobre a organização de Cultura foram realizados em Torres nas últimas décadas: o 1º Fórum Municipal de Cultura, realizado em 2007, pelo governo João Alberto; a Conferência da Cultura realizada em 2014,  no governo Nílvia; e agora esta Audiência Pública realizada pela Câmara Municipal.

Jaime, portanto,  sugeriu que a Torres,  antes de tudo,  realize suas atividades culturais caseiras, por lei, para que se adapte ao organograma da cultura pública nacional, podendo ser assim um local onde estas sejam aplicadas através de recursos financeiros federais ou parcerias institucionais com o município. Ou seja, melhor cumprir as normativas nacionais exigidas para participar do sistema cultural.

Vários discursos de personagens dos setores artísticos do município tiveram voz na audiência Pública, com discursos que, na maioria, criticavam o trabalho na gestão cultural da atual administração municipal, abordando demandas culturais e colocando-as ao lado da cidadania, para dar um ar mais político nas demandas.

“Infelizmente os maus entendedores não conseguem fazer uma conexão certa entre a necessidade da Cultura em Torres. E é para os maus entendedores que temos de fazer este tipo de encontro”, afirmou o artista Jorge Herrmann, representando a ONG Onda Verde. “Sinto falta de representatividade de nossa causa na cidade, inclusive nesta Câmara Municipal”, cutucou o antropólogo Rafael Frizzo.

“Temos em Torres um grande quantidade de material históricos, antropológicos a disposição de estudos e trabalhos – exigimos políticas públicas e fomento que atendam as demandas da diversidade cultural do município”, afirmou o historiador Leonardo Gedeon (também colunista de A FOLHA Torres).

 

Mexendo com a motivação do plenário

Artesã Naza levantou o público

 

A artesã Janina Nazaré Antunes (Naza) fez discurso empolgante em sua participação. A artesã torrense, que milita há anos em sua causa na cidade, disse que para ela “o artesanato em Torres está em crise”.  Naza acha que a cidade não está conseguindo mostrar para turistas o artesanato verdadeiro e local e que  por isso estaria perdendo de ter mais este atributo em suas características turísticas. “Não queremos ajuda, temos capacidade de trabalho que gera aceitação, só precisamos de apoio para que possamos mostrar nosso produto final”, disse Naza. “E o pior é que estamos vendo artesanato de fora de Torres sendo vendido aqui como se de Torres fosse”, lamentou a líder dos artesãos locais em sua participação na tribuna, quando recebeu palmas da plateia em pé.

O ambientalista, poeta e ativista Paulo França utilizou a tribuna para mais uma vez criticar a falta de respeito ao meio ambiente verificada (na opinião do ativista) no Parque da Guarita. Com mesclas de narrativas em proza e versos em tom de poesia repentista, França criticou as autoridades locais chamando-as de Plutocracia. “Não às Torres de Concreto e não ao Porto Marítimo”, encerrou França.

 

Orçamento afunilado

O ativista cultural e idealizador do Cineclube Torres, Tommaso Mottironi (natural na Itália, mas morador de Torres há mais de uma década) utilizou a tribuna para, de certa forma, repudiar a “pouca atenção que o orçamento público local dá a Cultura”.  Em sua avaliação, são somente 0,48% de recursos do orçamento municipal para a pasta, e a mesma ainda deixaria de utilizar em geral 30% do valor planejado. Também em sua analise, Tommaso chegou à conclusão de que 90% dos valores gastos na Cultura local são utilizados  para pagar a Folha de Pagamento da pasta (pessoas contratadas ou escaladas pelo governo para tocar a  secretaria de cultura). Ele insistiu na falta de espaço formal para que atividades culturais instaladas ou projetadas possam ser realizadas no município (lembrando o Cineclube Torres – que recentemente exercia suas atividades junto ao Museu de Torres, o qual foi fechado para reformas meses atrás).

Antiga Prefeitura, atual Museu Histórico de Torres

 

Falta de um Centro de Cultura

Celso Jardim, músico que veio de Minas Gerais e mora em Torres; Camila de Oliveira, professora e artista de Dança, artesãos, membros de CTGs, ativistas diversos passaram por 5 minutos ou mais cada em suas participações na tribuna da Audiência Pública.  Um dos destaques foi a fala da ativista Daniela Lumertz da Luz. Ela fez um pequeno retrospecto de sua vida, em paralelo com a estrutura instalada de Cultura em Torres. Disse que quando adolescente (década de 2000) foi criada indo ao Centro de Cultura de Torres, onde assistia apresentações de várias vertentes, além de participar de atividades de Cultura promovidas pela prefeitura. Para Daniela, houve um retrocesso porque hoje não existe espaço público  de prática de atividades culturais como outrora.

E foi efetivamente a vontade de que haja em Torres UM ESPAÇO PÚBLICO PARA QUE OS ATORES CULTURAIS POSSAM REALIZAR SEUS TRABALHOS o tema que deu fundo à maioria das manifestações. Há até um movimento na cidade – com vários ativistas engajados –  que se intitula com este objetivo atualmente: ter  um espaço de Cultura na cidade.

 

Promessas legislativas

O vereador Gimi – que participou em toda a audiência –  pediu vez na tribuna para afirmar que a lei que cria a participação da comunidade na formação do Conselho Municipal de Cultura permite que praticamente a metade dos participantes seja de fora do governo. Ele sugeriu que as entidades conferissem se o que necessita é trocar as representações (no Conselho) , o que pode ser feito de tempo em tempo. Gimi também anunciou publicamente que iria elaborar um Projeto de Lei que formalize espaço em todos os festivais de Balonismo para os artesãos, um tema reclamado pela representante da categoria.

Os vereadores (a) Carla Daitx, Carlos Jacques e Carlos Freitas também participaram da tribuna e colocaram seus gabinetes totalmente a favor do movimento e de suas próximas etapas. Carla só respondeu ao ativista Rafael Frizzo (que disse não sentir o tema Cultura representado na Câmara Municipal), dizendo que a Câmara tem, sim, muita representação ativa disponível.

O presidente da Comissão de Cultura, vereador Moisés Trisch, encerrou a audiência dizendo se sentir realizado pela qualidade e força que sentiu no grupo, por ter a possibilidade de colocar suas demandas públicas de forma pública. E disse que a Casa Legislativa e a comissão de cultura irão continuar dando espaço similar para o movimento.

As atas da audiência serão encaminhadas para as autoridades interessadas ou envolvidas como prefeitura, Ministério Público dentre outros.

 

 

 

 

 

 

 

 


Publicado em: Cultura






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