Final de tarde da terça-feira de carnaval: Torres lotada, o sol brilha belamente. Venta pouco, o mar cresceu e estou surfando na Mantiqueira, em frente ao Morro do Farol. Em meio a atenção necessária para vencer a série e ficar antenado nas ondas, acabo também reparando em algumas as opções de entretenimento aéreo na cidade: uma dúzia de parapentes e paramotores ficam ziguezagueando o morro. Um helicóptero fazendo voos panorâmicos vai e volta pelo mar a cada 10 minutos, suas hélices fazendo uma barulheira que abafa o som das ondas. E na Praça central da Prainha, consigo perceber a aglomeração de pessoas reunidas para observar um balão que vai subindo a partir daquele local, ganhando os céus, enquanto outro vai sendo inflado na mesma praça.
Um acontecimento que enche os olhos do espectador. Essa cena dos grandes balões sendo inflado e então voando é pouco usual para a maioria das pessoas do Brasil (e do mundo). Mas aqui em Torres a prática deste desporto aeronáutico fortaleceu-se consideravelmente nos últimos 3 ou 4 anos, e tornou-se corriqueiro nos finais de semana e feriados. Já temos mais de uma dezena de balonistas radicados na cidade, muitos realizando voos regularmente. Torres, que já era sinônimo do esporte em decorrência do tradicional Festival Internacional do Balonismo – evento que completará 30 anos neste 2018 – agora caminha a passos largos para legitimar-se como referencial nacional no assunto.
Morador de Corrientes, na Argentina, o advogado Júlio Bernardi costumava visitar Torres recorrentemente durante a temporada de veraneio. Mas atraído pelas recentes melhorias de acesso rodoviário até Santa Catarina, começou a variar os destinos, e fazia 7 anos que não vinha para cá. Em 2018 decidiu voltar para uma temporada de descanso em Torres, no começo de fevereiro, e enviou um email ao Jornal A FOLHA relatando sua experiência. “Uma coisa que muito me surpreendeu foi observar os balões inflados voando. Teve um final de semana que deveriam haver uns 6 destes ao mesmo tempo no céu, foi um espetáculo e tanto de se ver. Já sabíamos do Festival do Balonismo, mas infelizmente nunca pudemos vir nessa data. Foi muito bonito ver os balões com as cores do final de tarde. Vamos tentar voltar ano que vêm e nos programarmos para fazer um passeio em algum deles”, contou Júlio.
Relatos como deste turista argentino mostram que consolidou-se na mais bela praia gaucha um interessante atrator turístico – até um diferencial competitivo – através do Balonismo. Um espetáculo que agrega valor para muitos públicos: o observador encanta-se com os balões e, se tiver interesse e condições, pode inclusive contratar um voo panorâmico no mesmo. Quem também ganha são os patrocinadores destes balões, que pagam para estampar suas marcas na lona inflável da aeronave e conquistam uma diferenciada forma de propaganda.
Capital ‘oficial’ do Balonismo no Brasil
O fato de Torres cada vez mais se consolidar como uma cidade que oferece o Balonismo o ano todo, com diversos pilotos (e empresas) investindo na atividade por aqui – em união com o sucesso anual do Festival Internacional de Balonismo na cidade (realizado em fins de abril/ começo de maio), que hoje soma-se ao Circuito Torres de Balonismo (realizado em dezembro) – chama atenção não só dos admiradores, turistas e usuários dos voos panorâmicos. O meio político também vêm fazendo coro para fortalecer a atividade. O projeto 9073/2017, apresentado em novembro pelo deputado federal Alceu Moreira (PMDB), deverá conferir a Torres o título de Capital Nacional do Balonismo. A iniciativa atende pedido da bancada do PMDB na Câmara de Vereadores.
Alceu Moreira justificou que o município recebe mais de 500 mil visitantes brasileiros e estrangeiros durante o Festival Internacional de Balonismo – que ocorre anualmente na cidade. O evento, acrescentou o deputado, ocorre regularmente há 29 anos, sendo considerado o maior da América Latina e um dos três maiores do mundo – junto com Albuquerque, nos Estados Unidos, e Chateau D’Ouex, na Suíça.
Mais voos panorâmicos sendo realizados
Há 16 anos no meio do balonismo, sendo 8 anos como piloto e parte da equipe Omega, Murilo Hoffmann é apaixonado pelo esporte desde piá, quando acompanhava com fascínio os festivais internacionais de Torres, sua cidade natal. Hoje em dia o balonismo tornou-se mais que uma simples paixão, virou profissão. Um dos mais de 10 representantes de Torres no esporte, Murilo compete como piloto em campeonatos por todo o Brasil – tendo sido campeão do 5º Festival de Balonismo de Santa Maria em 2014. E também gerencia a empresa Omega, que hoje possuí 6 balões ativos comercialmente. “Estes balões, além de levar passageiros interessados em realizar viagens, fazem ações de marketing e promocionais, proporcionando ótima visibilidade para as empresas interessadas em reforçar sua marca (estampando-a no balão)”, destaca o balonista.
Em Torres, já há algumas empresas oferecendo voos panorâmicos de balão. E conforme Murilo, neste verão de 2018, em comparação com o verão passado, aumentou a busca pelo serviço junto a Omega. “A procura e o movimento vem sendo maior este ano. Estamos realizando mais de 4 voos por semana na média, o que é quase o dobro do realizado ano passado”. Para o balonista, a justificativa para essa melhora nos negócios está relacionada a um aumento da divulgação sobre os voos de balão. “Estamos correndo atrás, e isso acaba dando retorno. Família e casais de namorados são o tipo de público que mais aparecem para os voos. Durante o veraneio os argentinos e uruguaios também estão marcando presença”, ressalta Murilo.
Quando questionamos o balonista sobre o que ajudaria ainda mais Torres a se fortalecer como capital do Balonismo, Murilo deu uma ‘cutucada’ nos estabelecimentos da cidade, que para ele poderiam ajudar mais na divulgação dos voos panorâmicos, para que a atividade se consolide. “Nos indicamos bastante (os estabelecimentos) ao pessoal que passeia conosco, ajudaria se eles também recomendassem os voos como atração de Torres”. Murilo Hoffmann finaliza informando que os voos de balão em sua empresa tem um preço médio de R$ 400 por pessoa, porém o valor diminui para R$ 350 cada se for fechado um pacote com mais pessoas.