Tobias Luchterhand tem 26 anos. Ele vive e trabalha na cidade de Munique, no sul da Alemanha e no meio da Europa, centenas de quilômetros distante do mar. “A distância do mar sempre foi algo que me incomodava. Por isso acabo viajando muito também”, disse ele ao jornal A FOLHA (via Facebook). Mas atualmente Luchterhand está passando uma temporada na República Dominicana – península do Caribe banhada pelo oceano Atlântico – e agradece ao fato de estar tão próximo da água. “Aqui estou ficando quase em frente ao mar, todos os dias dou um mergulho. E realmente parece que só esse mergulho já faz a qualidade de vida melhorar”, complementa o alemão.
E se assim como o Tobias – e como eu também – você não dispensa um belo banho de mar ao ir à praia, saiba que está proporcionando benefícios à sua saúde em cada mergulho. Segundo reportagem da revista MÁXIMA (da editora Abril), a água do mar tem o poder de estimular o metabolismo, os sistemas nervoso e circulatório e ainda melhorar a capacidade respiratória.
A explicação está no fato dela conter mais de 80 minerais que constituem a alimentação básica das células do nosso corpo. “Além disso, os íons negativos da atmosfera marinha produzem sensação de bem-estar físico, relaxamento e bom humor.”, diz a matéria. E a riqueza em minerais faz com que a água do mar seja usada ainda para tratar doenças como artrite, osteoporose e reumatismo.
Mesmo a conta-gotas, a água do mar tem um forte efeito de ativação do sistema imunológico. Foi o que demonstrou uma análise realizada por pesquisadores da Universidade de Alicante, na Espanha, liderados pelo Dr. José Miguel Sempere. A equipe analisou os efeitos da água do mar purificada atualmente vendida por um laboratório espanhol (Laboratorios Quinton). O estudo mostrou que a água do mar fortalece o corpo contra os vírus, bactérias e outros micróbios patogênicos sazonais, além de reforçar um sistema imunológico que esteja enfraquecido. “A água do mar contém vários minerais com efeitos antioxidantes conhecidos, além de imunomoduladores como o selênio, silício e zinco. O cloreto e o sódio – que dão o salgado à água do mar – são também essenciais para o funcionamento normal de todas as células do corpo, incluindo as células envolvidas na resposta imunológica”, indica a pesquisa.
História de Torres: os banhos terapêuticos
Nossa Torres também tem uma longa história relacionada às propriedades curativas da água marinha. No começo do século XX, o Brasil procurava se modernizar e olhava para a Europa em busca de modelos de civilização: assim, entre outras tendências imitadas, começou a se notar a adoção pelas elites do conceito europeu de férias e da moda dos banhos de mar, considerados terapêuticos. Com isso, começaram a chegar, lá nos idos de 1910, os primeiros veranistas de Torres, vindos do planalto gaúcho e de Porto Alegre para os tais banhos terapêuticos. O pesquisador Eduardo Mattos Cardoso ressalta (em seu livro ‘Invenção de Torres: Do Balneário Picoral à Criação da SAPT’) que os banhos eram tomados bem cedo no mar, “seguindo uma ritualística própria de acordo com as ideias médicas da época, recebendo o banhista somente um número de ondas pré-determinado, o que era repetido por nove banhos, quando o ‘tratamento’ era dado por encerrado”.
Mas na época ainda não havia boas estradas, e a viagem que durava de três a quatro dias era um empreendimento trabalhoso, ocorrendo geralmente em carretas ou lombo de mulas – conforme o pesquisador Marcos Aguiar, da UFRGS . “Era necessário levar comida e outros bens para um conforto mínimo. Isso porque nenhuma estrutura especial para receber esses visitantes ainda fora desenvolvida”, levanta Aguiar. Convenhamos que, hoje em dia, com boas estradas e confortáveis carros, está bem mais fácil para se revitalizar com um mergulho no mar.
Porque a água do mar é salgada?
Com mais de 70% da superfície da Terra coberta por água, é um paradoxo pensar que a escassez deste elemento já é realidade em muitas partes do Planeta. É que somente uma pequena parcela é formada por água doce. Enquanto não existe uma forma barata de tornar potável a água do mar, é bom saber que ela só é salgada porque os oceanos são o ponto final do ciclo da água em nosso planeta.
Uma reportagem da revista Mundo Estranho levanta que, durante centenas de milhões de anos, a chuva foi formando os rios – que, por sua vez, dissolveram rochas de diferentes períodos geológicos, nas quais o sal comum, cloreto de sódio (NaCl), é encontrado em abundância. Como todos os cursos d’água correm para o oceano, os mares ficam com quase todo o sal dissolvido nesse processo. Além disso, as partículas de cloro e de sódio suspensas na atmosfera também são levadas pela chuva, completando o processo.
Ainda assim, a salinidade de uma massa de água depende principalmente de sua taxa de evaporação, que acaba determinando a concentração do sal. É por isso que lagos e açudes podem tornar-se salgados em regiões de muito calor, como ocorre no Nordeste brasileiro. Por essa mesma razão, os mares equatoriais são mais salgados que os polares. Os mais salgados do planeta são o Mar Morto, no interior da Ásia, e o Mediterrâneo. O menos salgado é o Mar Báltico, no norte da Europa, que, por causa do seu baixo teor de sal, chega a ficar congelado durante o inverno.
Porque do mar ‘chocolatão’?
Um dos personagens do verão gaúcho é o famoso mar “chocolatão”. Seja pela sua cor escura em boa parte do ano, seja pelos eventos naturais que deixam a água com aspecto muito semelhante a um achocolatado. Ambas as características possuem explicações bem claras do ponto de vista científico e estão intimamente relacionadas.
Segundo a bióloga do Ceclimar/Ufrgs, Cariane Campos Trigo, a ausência de transparência das águas do extremo sul do Brasil se deve ao aporte de matéria orgânica por dois grandes agentes naturais: os rios, que desembocam toneladas de sedimento diariamente no mar, e as correntes marítimas. A principal delas é a Corrente das Malvinas, que vem do Sul e traz águas frias e ricas em nutrientes. Com os altos níveis de matéria orgânica, aliada a fatores como vento e luz, a proliferação de algas diatomáceas (formadas por sílica) da espécie Asterionellopsis glacialis é favorecida, permitindo a formação de grandes manchas marrons na zona de arrebentação.
Os ventos fortes vindos do quadrante sul forçam o movimento da água em direção à praia, gerando ondas de alta energia e uma zona de arrebentação mais larga e desenvolvida. Sob estas condições, altas concentrações dessas algas, que estão depositadas no fundo, acabam sendo suspensas e acumuladas na zona de arrebentação, onde a exposição à intensa luz solar permite que elas se multipliquem, dando assim o aspecto “chocolate” ao mar.
Apesar de atribuírem uma aparência feia à água, as florações de Asterionellopsis glacialis não oferecem risco à saúde e não prejudicam a qualidade do ambiente. Pelo contrário, essas algas formam a base da cadeia alimentar marinha, servindo de alimento para diversas espécies da zona costeira – como marisco, tatuíras e o peixe tainha.
Tais informações reforçam a importância do sistema marinho e todas as suas conexões, pois são essas particularidades que permitem o desenvolvimento e a manutenção da biodiversidade. Dessa forma, o mar turvo ou “chocolate” é mais uma das características que contribui para que o Rio Grande do Sul apresente uma das maiores biodiversidades do Atlântico Sul.