Cineclube Torres celebra 10 anos de atividades sem certezas quanto ao futuro

O Cineclube Torres costuma celebrar seu aniversário na recorrência da primeira exibição pública, efetuada no dia 20 de agosto de 2011. Hoje o futuro do Cineclube continua incerto, e não somente pela pandemia, que ao longo do ano passado obrigou a adaptar-se a encontros e exibições virtuais, mas pela indisponibilidade de um local para realizar as exibições

20 de agosto de 2021

O Cineclube Torres costuma celebrar seu aniversário na recorrência da primeira exibição pública, efetuada no dia 20 de agosto de 2011  no Auditório José Antônio Picoral da Casa de Cultura (como era então denominado o espaço no prédio da SAPT). O primeiro filme foi “Celebridades”, de Woody Allen, ainda com o nome provisório Cine Torres na logomarca.

Desde então o grupo, que posteriormente se formalizou como Associação sem fins lucrativos em fevereiro de 2012, tentou manter a cadência de uma sessão semanal, um grande desafio organizacional que contou na época com o apoio do Município, o qual disponibilizou não só o auditório como o equipamento de projeção necessário. “A partir do início de 2012 a programação, que antes era decidida e divulgada semanalmente, passou a ser pensada mensalmente, com filmes inerentes a uma temática e estética definida, divulgada mediante a elaboração de cartazes com uma imagem gráfica alusiva e sugestiva, espalhados em alguns pontos da cidade e difundidos de forma eletrônica, por mala direta, para além dos avisos nas redes sociais, até então o único meio de contato com potenciais cineclubistas ou espectadores”, explica Tommaso Mottironi, idealizador do Cineclube Torres .

 

Mais de 400 Sessões abertas ao público

 

O dia escolhido para as sessões em Torres, que inicialmente era aos finais de semana, foi alterado em acordo com o gestor municipal da época, para não gerar horas extras, ficando definido para 2ª feira à noite, um dia que dificilmente iria colidir com eventuais manifestações de outras artes e segmentos culturais, e que, portanto, garantia manutenção de uma programação continuada com um encontro semanal, que era o desejo da associação.

Durante a temporada, também desde este primeiro ano, a programação se tornava mais transversal, centrada na produção audiovisual Ibero-americana, recebendo sempre numerosos turistas e veranistas, de outras cidades do RS e estrangeiros, interessados em programas culturais diferenciados, tão escassos mesmo na época de verão.

“Ao longo desses 10 anos de atividades foram mais de 400 filmes exibidos, todos filmes autorais, para estimular a reflexão e o debate em sala e fora, nos convívios cineclubistas. Filmes de todas as cinematografias, desde as produções brasileiras, até as citadas cinematografias latinas, argentinas e chilenas principalmente, mas também uruguaias, venezuelanas, cubanas etc. Filmes franceses e de outros países europeus, junto a filmes de países africanos, norte americanos, asiáticos, desde o oriente médio até a China ou Japão. Todos serviram para refletir sobre arquétipos do comportamento humano e sobre as peculiaridades de cada cultura. Os filmes foram sempre exibido no idioma original, legendado, para não perder a ambientação e o contato genuíno com o fluxo narrativo das obras”, ressalta Mottironi.

 

FOTO: Sessão do Cineclube no Auditório José Picoral

 

Mostra e sessões escolares

 

Se algumas turmas do EJA fizeram muitas vezes parte do público do Cineclube Torres (nas habituais sessões cineclubistas de segunda à noite) o Cineclube Torres realizou também muitas exibições especiais, abertas e dirigidas especificamente a turmas escolares da rede pública, municipal principalmente, mas também estadual, mediante projetos pedagógicos apresentados previamente às coordenações pedagógicas.

“Mediados pela exibição de longas e curta metragens, foram trazidos para os estudantes relevantes temas de cidadania como os da ecologia, da proteção do meio ambiente, do enfrentamento ao racismo, do conhecimento e valorização dos direitos humanos. Recentemente também foi abordado junto de alunos da rede pública a delicada problemática da depressão, da automutilação e do suicídio, com auxílio de sócios cineclubistas capacitados na área de psicologia”, destaca o idealizador do Cineclube Torres .

 

Presença na mídia local e estadual

 

A programação do cineclube desde logo apareceu em destaque na mídia impressa local – sendo a programação continuamente divulgada por A FOLHA Torres. A rádio comunitária historicamente mais atenta a manifestações artísticas e culturais, a Cultural FM, já em final de 2012 premiou o Cineclube Torres com o prêmio de Projeto Cultural do Ano.

“Logo também a imprensa estadual passou a reservar suas atenções à programação do Cineclube Torres, especialmente no verão, mas não só: foram centenas de artigos nas páginas culturais de jornais como Correio do Povo, Zero Hora, O Pioneiro, levando a cidade de Torres para destaques em programação cultural no segmento audiovisual.  O projeto e a programação do Cineclube Torres foram também objeto de entrevistas na TVE, no programa Estação Cultura com o âncora Domício Grilo”, afirma Mottironi.

 

Convidados e parcerias

 

Para alguns filmes gaúchos foi possível convidar diretores e atores: assim o Cineclube Torres trouxe para a cidade atores consagrados como Sirmar Antunes e diretores como Hique Montanari, Muriel Paraboni, Omar Barros, Sergio Valentim, mas também o diretor carioca Felipe Nepomuceno e, do Uruguai, o neto de Eduardo Galeano (para uma sessão do documentário sobre o escritor).

Outros convidados não tinham relação com a equipe de produção do filme exibido, mas contribuíram de forma singular para o debate em sala, como o ex-deputado estadual e prefeito Raul Pont, falando da repressão nos anos da ditadura militar, o cientista político Benedito Tadeu César, engenheiro agrónomo agro ecologista Leonardo Melgarejo, o economista Paulo Timm e muitos outros.

 

Luta para uso de espaço público

 

O Cineclube Torres desde seu começo procurou valorizar os espaços públicos municipais com suas atividades culturais: num exercício de cidadania foi sempre reclamando o direito, na qualidade de organização da sociedade civil com uma programação cultural de interesse público, de usar o espaço público, quando disponível, para as suas exibições audiovisuais, deixando sempre a entrada franca, para sócios e não sócios, mesmo sem qualquer contrapartida financeira da parte do município.

Esta luta se enquadra numa perspectiva que todo o cidadão deve ver reconhecido o direito à cultura e que este, para ser valorizado, necessita de políticas públicas e de fomento, assim como locais qualificados a ela dedicados, palcos e telas para que estes conteúdos sejam transmitidos para o público.

 

Pandemia e perspectivas para o futuro

 

Hoje o futuro do Cineclube continua incerto, e não somente pela pandemia, que ao longo do ano passado obrigou a adaptar-se a encontros e exibições virtuais, mas pela indisponibilidade de um local para realizar as exibições. “No início de 2020 estava anunciada pelo executivo municipal uma pequena reforma no Auditório José Antônio Picoral, para melhorar paredes e tetos e para equipar finalmente o auditório com dois aparelhos de ar-condicionado, entretanto já adquiridos e prontos para serem instalados. Em lugar disso, com o argumento da eclosão da pandemia, o espaço foi devoluto novamente à SAPT e hoje se encontra em estado de completo abandono”, lamenta Tommaso Mottironi, idealizador do Cineclube Torres .

Após a devolução do Auditório José Antônio Picoral para SAPT, a Associação pediu em ofício, ainda em dezembro 2020 a cessão de um espaço do museu para realizar sessões conforme agenda a combinar. “Mas a resposta só veio em maio 2021, com o espaço praticamente já fechado para reformas, e sem qualquer confirmação do interesse em ceder futuramente o pequeno espaço de eventos que, talvez, vai ficar disponível no local após as obras. Considerando o atraso que está ocorrendo para começo das obras, provavelmente devido a problemas burocráticos ou as necessárias realocações de acervos, a disponibilidade de uma sala pública ainda vai demorar, muito mais que o almejado fim da pandemia”, afirma Tommaso.

Por isso fica aqui o apelo do Idealizador do Cineclube a empresários e entidades com disponibilidade de espaço adequados a projeções audiovisuais –  que entrar em contato com a direção do Cineclube para avaliar viabilidade de parcerias, que permitam pensar num futuro próximo retomar as atividades culturais da associação, tão cedo a situação sanitária e a legislação em mérito o permitam. Hoje a associação dispõe de todo o equipamento necessário para realizar sessões audiovisuais, como leitores de CD/BluRay, Computadores, Projetores, Som estéreo e telão.

“No passado, como vimos, não faltaram exemplos de pessoas como Adriana Guedes, Paulo Prates, Índio Pousadas, Bárbara Sordi e Aline Vasconcelos, que sempre de forma graciosa, disponibilizaram seus espaços, de forma continuada ou mediante agenda prévia, para que as atividades do Cineclube Torres não ficassem suspensas por períodos mais longos. O Cineclube Torres, hoje Ponto de Cultura certificado pela Lei Cultura Viva, após esses 10 anos de lutas e realizações, continua vivo e à disposição para promover, a partir da exibição de acervos audiovisuais, momentos de convívio e de reflexão sobre a sociedade e o mundo que vivemos, sempre pautando sua ação na valorização de direitos humanos, da cidadania e da proteção do meio ambiente”, concluí o idealizador do Cineclube .

 

Agradecimentos

 

“Nesse aniversário de 10 anos de atividades, o agradecimento do Cineclube Torres vai para todos os sócios cineclubistas que colaboraram diretamente ao projeto, ao público que participou das sessões, às empresas e profissionais liberais que contribuíram com apoios e patrocínios, aos convidados e amigos que se disponibilizaram para enriquecer as atividades, aos funcionários públicos municipais que ajudaram e apoiaram nas atividades com profissionalismo e carinho, enfim a todas e todos que estiveram junto nessa luta para a cultura audiovisual e a cidadania”, finaliza Tommaso.

 

 

 

 


Publicado em: Cultura






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