2020 – ELEIÇÕES MUNICIPAIS NUM MUNDO REVOLTO

"Nos preparamos para eleições municipais nos mais de 5.000 municípios brasileiros sob novas regras eleitorais: Financiamento público das campanhas, rigorosamente controlado pelas oligarquias dirigentes dos 34 Partidos registrados, que se refestelarão com a distribuição de R$ 3,5 bilhões, somados os Fundos Partidário e Eleitoral para este ano, e proibição de coligações para as Câmaras de Vereadores." (por professor Paulo Timm)

16 de janeiro de 2020

Em meio à fortes tensões internacionais entre um Ocidente incerto e forças antagônicas desconcertantes, com epicentro na coreografia USA x Irã, incêndios devastadores no Brasil, na África e na Austrália e uma multidão de gentes sem lugar definido no mundo, entramos na década de 2020. Há um século iniciavam-se os “Anos Loucos” que consagrariam o automóvel, que chegou à escala de 1 milhão de modelos T Ford por ano, os arranha céus amedrontadores, o cinema como sétima arte magistralmente dominada por um país jovem que em breve se revelaria como Senhor dos Anéis: “América, América!”. Seremos, agora, menos loucos que nossos avós? Duvido um pouco. Se naquela época navegávamos na euforia do otimismo, com o olho num futuro promissor, agora a humanidade está mergulhada no ceticismo, não raro pontilhado pela depressão. As liberdades represadas pelo século vitoriano (Rainha Vitória, Sec. XIX) , mas embutidas na promessa de  felicidade do Iluminismo, como preâmbulo de uma razão superior, que traria Revoluções Sociais no Leste,  o Estado de Bem Estar na Europa, , o identitarismo e a consciência ambiental saltaram no abismo da modernidade líquida. Foi-se  a grande narrativa que os costurava. Estamos soltos, com os fragmentos destas experiências.  No desamparo.  Ao sabor do que os lacanianos chamam de Grande Outro que nos salvará. Como Cristo na cruz clamamos: -“Ó Pai, por que me abandonaste…?” E nem lá nem cá se ouvem respostas.

Mas somos um povo forte, vamos em frente. Celebrando o segundo ano da (con)gestão Bolsonaro nos preparamos para eleições municipais nos mais de 5.000 municípios brasileiros sob novas regras eleitorais: Financiamento público das campanhas, rigorosamente controlado pelas oligarquias dirigentes dos 34 Partidos registrados, que se refestelarão com a distribuição de R$ 3,5 bilhões, somados os Fundos Partidário e Eleitoral para este ano, e proibição de coligações para as Câmaras de Vereadores. No total teremos cerca de 1 milhão de candidatos no território nacional. O resultado final disso tudo, porém, não será um reforço da representatividade no sistema político, apesar da festa das urnas, mas sua diminuição. Mais candidatos a Prefeito e Vereador na grande maioria das cidades significará que cada um deles será eleito com pequeno número de votos. Cuidado! Aritmética simples. Nas 200 cidades maiores onde haverá segundo turno, isso não ocorrerá, mas o grande vencedor, mais uma vez, deverá ser o não voto: soma dos que não comparecerão às urnas, mais os nulos e em branco. Triste, mas este o  paradoxo que nos entrega a democracia. Fossem, enfim, só dois Partidos, como na época da ditadura – ARENA x MDB – os resultados seriam mais nítidos. O regime militar, aliás, começou a cair, nas eleições de 1973 quando a Oposição sufragou 18 senadores, constrangendo o Presidente Geisel a criar a figura do Senador biônico, nomeado pra garantir votações a seu favor.

E como será a  campanha?

Especialistas dizem que acabaram as manifestações de rua, bem como a garantia de vitória pelo uso do Programa Eleitoral de Rádio de TV. O mundo gira, a Luzitana roda e hoje tudo se resolve pelas Redes Sociais, através do celular. Aí pontificarão, claro, os fakenews, à exaustão, o que talvez leve  muitos a abandonarem o celular. Levará, também, os muito ricos a contratarem jovens da Ucrânia para disseminarem  robôs pelo país inteiro. Nunca ninguém saberá como isso aconteceu.

E nosso Presidente, terá algum papel? Certamente, mas não de corpo presente a não ser em grandes capitais onde o embate se trave entre o  PT e anti-PT. Daí ele joga sua espada e proclama como Breno, 387 AC em Roma: – “Ai dos vencidos!”. No resto dos casos, assistirá de camarote todo o desenrolar dos acontecimentos, à espera de entrar em cena em 2022. Até inventou um Partido novo – Aliança pelo Brasil  – a tempo de não registrá-lo (?) para o pleito, como quem diz: “Me incluam fora dessa lista”…




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