A comunicação fundamenta a relação entre as pessoas, propicia aprendizados, transmite sentimentos e experiências tornando o ambiente inteligível. A linguagem nos confere o conhecimento da cultura e da natureza tornando-se o fio condutor do “pensar o eu com o mundo”. Nos métodos filosóficos da Grécia Antiga, a palavra proferida, o discurso, o diálogo tinha lugar privilegiado na construção das ideias. O filósofo Sócrates utilizava o diálogo e a indagação para problematizar as questões essenciais com seus discípulos.
Na Educação, o intelectual Paulo Freire colocou a ação dialógica no centro de seu pensamento e pedagogia demonstrando que podemos construir o “mundo pela palavra”. Atualmente, qual o papel do diálogo para o entendimento de uma sociedade cada vez mais complexa? Podemos questionar se a linguagem cumpre sua função nas relações sociais ou se há um esvaziamento de sua significação? Conseguimos entender tudo o que está dito ou não-dito por aí? Do núcleo familiar às grandes mídias imagéticas, físicas e virtuais, da indústria cultural ao popular “selfie”, do rádio aos televisores e satélites, como nos comunicamos?
Sem dúvidas, passamos por um período histórico do egocentrismo com uma superexposição da vida privada e veiculação de conteúdos ilimitados. O diálogo se abstrai em símbolos virtuais e as conversas se abreviam, tornando efêmeras as vivências comunitárias tradicionais que acabam se confinando às regiões rurais mais afastadas dos centros urbanos. O diálogo necessita de referências físicas e emotivas, da comunhão entre “quem escuta e quem diz” e a cumplicidade entre as pessoas. Não podemos trocar minutinhos de conversa por mensagens de “what’s app” porque as emoções são a essência dos seres humanos, necessitamos do olhar e do sentir. Ao invés de presentear as crianças com tablet’s e celulares que as individualizam e criam redes de contatos virtuais, devemos propiciar momentos de vivências com contações de estórias e brincadeiras tradicionais, ensinando-lhes ofícios artesanais, o manejo com a terra e o plantio. Nós seres humanos somos seres sociais conectados por ideais e ações que de maneira intencional ou não modificamos constantemente a realidade. Podemos encarar o ato de dialogar como um poderoso ato estético, criativo e transformador que nos (des)constrói simultaneamente.
Numa sociedade cada vez mais competitiva que se fundamenta na produtividade, o diálogo, a meditação, o respirar pausadamente, torna-se uma conspiração subversiva. Podemos semear a união e fraternidade ou a discórdia através do poder das palavras e temos como obrigação ensinar as futuras gerações que o diálogo poderá fundamentar um horizonte promissor entre os povos.