A velha Figueira da Infância (pelas bandas de Torres)

Não tenho certeza, mas acredito que muitos dos mais velhos – ou, talvez, os "menos jovens" – guardam na memória a imagem de alguma velha figueira da infância... E você, guarda alguma figueira em suas lembranças?

27 de abril de 2025

Não tenho certeza, mas acredito que muitos dos mais velhos – ou, talvez, os “menos jovens” – guardam na memória a imagem de alguma velha figueira da infância. Sim, uma figueira! Aquela árvore frondosa, com seu tronco robusto e galhos longos e elevados. Não sei ao certo, mas parecia ser mais comum avistá-las antigamente, tanto nos arredores da cidade quanto em áreas mais centrais. Hoje, elas se tornaram mais raras. Ou, quem sabe, as vemos, mas não as notamos mais.

Dias atrás, deparei-me com a foto de uma figueira no Facebook, no grupo “Fotos Antigas de Torres”, acompanhada da pergunta: “Alguém reconhece esta figueira?”.

Como o grupo é frequentado majoritariamente por pessoas com “mais vivência” – assim como eu –, cada um recordou uma figueira que marcou sua história. Eu, particularmente, lembrei-me da figueira que ficava na entrada do bairro Salinas.

Tenho uma grata recordação dela. Recordo-me de ir, com minha mãe, muitas vezes ao pé dessa figueira para colher as conhecidas “barbas de pau”, utilizadas para enfeitar o pinheiro de Natal. Fizemos isso por algumas ocasiões. Naquela época, a velha figueira parecia estar localizada em outra cidade, tamanha era a distância que a separava do centro.

A velha figueira, certamente centenária, além de nos presentear com a “barba de pau”, oferecia uma sombra generosa para um piquenique ou para o descanso de quem passava por ali.

Ela permaneceu ali, solitária, por longos anos. Contudo, gradualmente, os antigos campos, antes habitados apenas por alguns cavalos e vacas, foram sendo ocupados por casas, que acabaram por esconder a beleza da figueira.

Na verdade, pouco sei sobre a história dessa figueira em específico, mas conheço a história de uma outra – ou seria a mesma? – onde Picoral realizava seus piqueniques anuais.

Guido Muri, em seu livro “Remembranças de Torres”, relata a existência de uma famosa figueira próxima ao rio Mampituba, carinhosamente apelidada de “Figueira do Picoral”, devido à sua assiduidade como frequentador.

Segundo informações de Ivo Picoral, filho de José Antônio Picoral, por volta da década de 1920, seu pai utilizava a figueira para celebrações festivas. O local era assim descrito:

“A vasta ramagem, com suas raízes emergentes a um metro do solo, situava-se à beira do rio Mampituba e integrava, com a extensa vegetação ao redor, a Mata Atlântica, em terras de Bier Ullmann, alugadas por Picoral para o pastoreio de seu gado e cavalos. O local ganhou notoriedade na comunidade depois que o empresário construiu uma casa rústica de madeira, com uma grande mesa, junto à figueira. Ali eram servidas refeições elaboradas que o hoteleiro e sua esposa, Mathilde Mayer, preparavam e ofereciam a seus empregados quando estes se despediam dos patrões e retornavam às suas casas após o término da temporada de banhos, para só voltarem no final do ano, na nova temporada. Com o tempo, a grande árvore tornou-se ponto de encontro de veranistas em alegres piqueniques.”

Dizem que essa figueira foi derrubada pelo machado do progresso, e seu tronco robusto transformou-se em uma canoa doada aos pescadores locais. Essa canoa teve um fim trágico: em uma pescaria na Ilha dos Lobos, virou, e seus quatro tripulantes morreram afogados.

Ah! A tal figueira que mencionei no início desta crônica não é nenhuma dessas. Pelo que pude ler nos comentários dos membros do grupo, ninguém a identificou. Contudo, como também mencionei inicialmente, muitos dos que visualizaram a foto arriscaram um palpite, todas evocando lembranças de suas infâncias.

E você, guarda alguma figueira em suas lembranças?

 

Fonte: Remembranças, Guido Muri.




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