ADEUS 2017! NUNCA MAIS!

"Neste fim do ano da graça – ou des/graça – de 2017 olhamos para trás e nos pergutamos se ele foi realmente necessário. Não seria melhor o termos pulado, como se faz em alguns prédios antigos que saltavam do 12º. para o 14º. andar, pelo horror ao azar ou à incêndios ?" (Coluna de Opinião do professor Paulo Timm)

5 de janeiro de 2018

O grande poeta inglês T.S.Eliot (1888-1965), embora nascido nos Estados Unidos, encarnou, como ninguém, as contradições de nossos tempos modernos: Encanto e destruição, permanência e volatidade, razão e sensibilidade, ilusão e realidade.

 “Ele foi uma das poderosas permanências literárias de nossa época. Estranha, porque foi ele, acima de qualquer outro, o escritor contemporâneo que mais conscientemente buscou, na tradição cultural do passado, o sentido de um tempo presente que, por estar sempre vindo a sê-lo, fosse também futuro; poderosa, porque sua obra, a um só tempo clássica e moderna”

Correndo os olhos pelas estações T.S. Eliot  abriu seu mais famoso poema, Terra Devastada, com a afirmação de que abril era o mais cruel dos meses. Depois falou que maio era corrupto, dezembro era o inverno. Para nós, que temos Drummond como Poeta Maior, para quem “a máquina do mundo se entreabriu para quem de a romper já se esquivava
e só de o ter pensado se carpia” ,  dezembro é a ante-sala do verão, um mês de balanço e perspectivas. A avaliação do que passou nos sinos roucos da existência, a expectativa do que virá, ou o que seremos, na fantasia luminosa do sonho acordado.

Neste fim do ano da graça – ou des/graça – de 2017 olhamos para trás e nos pergutamos se ele foi realmente necessário. Não seria melhor o termos pulado, como se faz em alguns prédios antigos que saltavam do 12º. para o 14º. andar, pelo horror ao azar ou à incêndios ? Alguém, entretanto, argumentará que nessa linha de raciocínio, no Brasil, teríamos que obviar também o 2016. Outros preferirão voltar a 2007, eliminando a década, aliás, perdida. Chegaremos a 2020 como quando chegamos em 2010… Encaremos, pois, o ano que expira admitindo que não tivesse existido.

Se isso fosse possível quanta coisa boa teríamos poupado:Não teríamos perdido Belchior nem Luiz Melodia. Eu, com isso, continuaria mais otimista com meu outrora colorido país, pois sempre disse que um povo que tem um Rapaz Latinoamericano, Caetano, Paulinho da Viola e uma “ Pérola Negra” não tem do que se lamentar. Rezo, agora, diariamente, em benefício de minha sanidade cívica ameaçada, pela vida dos que não se foram e reverbero com insistência:

 

“Se alguém perguntar por mim
Diz que fui por aí”

Penso comigo que “eles” , todos, continuam por aí semeando Alegria, Alegria, entre caras e exaustivas falas de Presidentes que nos exasperam neste fim de ano:

Eu vou…

Caminhando contra o vento
Sem lenço e sem documento
No sol de quase dezembro

 

Se fosse possível pular 2017 quanta coisa ruim teríamos, também,  evitado?

 

Sei que não teria sido possível eliminar a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos, mas teríamos, pelo menos, prolongado sua posse, o pior dos males contemporâneos, evitando sua assombração nuclear mundo afora. Sei que ele não é um caso isolado. O Homem, já disse Ortega Y Gasset, filósofo espanhol do século XX, é o Homem e suas circunstâncias. Logo, Trump é, ele próprio, a circunstância, o retrato de um universo em desencanto, no qual a pós verdade, como recurso de interesses, se substitui à verdade , a urbanidade é atropelada pelo cotovelo do mais  forte e a Poesia cede lugar a bufonaria. Ah se ele soubesse como é mais importante deixar saudade na saída do que impressionar na entrada!

Assim, sem cerimônia nem pompa, repito Cervantes, a caminho de mim mesmo: Seja o passado , passado. Tome-se outra vereda e pronto!

Adeus 2017! Nunca mais!

 




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