As escolas são ambientes de múltiplas possibilidades de aprendizados e vivências significativas. Ao longo do tempo, os corredores e salas de aula tornam espaços de memórias sociais e as experiências escolares ficam imaculadas nas lembranças pessoais. A educação é um direito humano fundamental que propicia o desenvolvimento integral, a reflexão, a convivência e a emancipação intelectual. Os conhecimentos articulados no ambiente escolar podem e devem ser articulados com a realidade social dos educandos com o intuito de despertar o exercício da cidadania e a articulação comunitária. As paisagens urbanas e naturais fornecem elementos pedagógicos pertinentes aos conteúdos curriculares e sua devida exploração como recurso didático depende da elaboração de projetos que contemplem saídas de campo sistemáticas. Temos um valioso suporte educacional nas ruas, museus, monumentos, áreas naturais e espaços coletivos da cidade. Roteiros prévios com os conceitos a serem desenvolvidos em cada ponto se faz necessário para o aproveitamento das atividades propostas.
Durante os meses de maio, junho e julho as turmas que leciono na E.E.E.F Justino Alberto Tietboehl foram protagonistas de atividades práticas transformadoras com o objetivo de valorizar a história, a identidade cultural e a preservação do meio ambiente. Nas turmas de sextos anos C e D houve a aplicação de sequência didática interdisciplinar de educação patrimonial e ambiental envolvendo as disciplinas de História, Ciências e Educação Física com o apoio dos professores Chico e Letícia. O roteiro estabelecido contemplava a passagem pela Lagoa do Violão no sentido do Centro Histórico para a apreciação da arquitetura luso-brasileira dos antigos casarios, prédios oficiais, comércios e os contornos do logradouro, reconhecendo a importância da conservação e preservação do patrimônio histórico. Após fomos visitar o Museu Histórico de Torres, local onde houve forte interação dos estudantes com o acervo da instituição. No caminho para a Torre Norte, os alunos fizeram menção as figueiras “mutiladas” pela urbanização na Rua de Cima, atual Rua José A. Picoral e puderam observar o local do primeiro posto de higiene e maternidade de 1942, local da atual Pousada da Prainha. Com o olhar investigativo o grupo re-admirava os lugares que parecem comuns no cotidiano, principalmente as praças e monumentos. Subindo a Torre Norte, evidenciaram o estado de abandono do prédio do Grupo Escolar e Colônia de Férias, edificação da década de 1940. No cume do Morro do Farol, é hora do piquenique e exaltar o belo panorama da Ilha dos Lobos, Parque da Guarita, Praia da Cal, Prainha e do Parque de Itapeva. Para uma inédita visitação a parte interna do Farol de Torres, obtivemos a autorização e parceria da bióloga Aline Kellerman e sua equipe da unidade do ICMBio. Houve grande entusiasmo do grupo e despertou enorme admiração e interesse pelos bens naturais, históricos e culturais de Torres. No rumo para a escola, ainda prestigiamos a Igreja São Domingos das Torres (1824) e a casa n°1 no sinuoso trajeto da antiga Rua do Fogo, atual Rua Padre Lamônaco, onde os participantes apreciavam o declive do morro e as árvores frutíferas. Descemos a escadaria nos vestígios de uma das primeiras fontes d’agua da vila de Torres e seguimos o caminho para o ponto de partida. A turma estava extasiada e animada por conhecer os recantos valiosos da sua terra do coração. A apropriação do conhecimento foi refletido nos trabalhos subsequentes apresentados na escola e na expectativa para a próxima expedição.
Na modalidade da Educação de Jovens e Adultos – EJA o tema gerador para o primeiro semestre foi “Torres a mais Bela, o que eu sei sobre ela?” e desafiou a comunidade escolar a desvendar o que sabemos e não sabemos sobre a cidade, sua cultura e seu povo. As turmas (chamadas totalidades na EJA) junto com seus educadores foram buscar subsídios em diversas linguagens, utilizando entrevistas, vídeos, fotografias, bibliotecas e produções artísticas e textuais. Um movimento de inquietação investigativa alimentada pela ânsia de conhecimentos sobre os diversos contextos históricos que formaram as Torres que conhecemos; da formação geológica ao povoamento primitivo, da vila militarizada ao destino turístico consagrado, temáticas que foram elencadas pela construção coletiva entre educadores e educandos, formando uma fórmula mágica, uma alquimia que busca a riqueza inestimável do Saber. Acompanhando a proposta pedagógica foi realizada a primeira exibição nas escolas do belíssimo e contundente documentário “Caminhos de Itapeva” produzido pelos acadêmicos do PET/UFRGS, Fundação Zoobotânica e equipe gestora do Parque Estadual de Itapeva com a participação do biólogo Paulo Grubler e o historiador Rafael Frizzo. Em outro momento, a comunidade da EJA teve o privilégio de receber o artista plástico Jorge Herrmann ministrando a palestra “A Paisagem em Nós” apresentando seu trabalho artístico e sua trajetória pessoal, assim como tratando sobre dilemas cruciais sobre a ação humana sobre o meio ambiente. Aliando a teoria à práxis, a ação e reflexão da prática docente e o processo de ensino-aprendizagem realizamos pelo segundo ano consecutivo uma trilha orientada no Morro de Itapeva no interior da unidade de conservação com a respectiva autorização da equipe do parque. Por fim, a modalidade EJA organizou uma ação solidária na escola para higienização e pequenos reparos como forma de atenção e carinho aos 56 anos da instituição. Um momento de integração com farto lanche e colocação de novas cortinas e limpeza das classes e das salas de aulas. Uma noite foi reservada para a apresentação dos trabalhos e pesquisas desenvolvidas pelos estudantes de todas as totalidades. Nesta troca de experiências tinha exposição de imagens históricas de Torres e produção de telas na técnica de mosaico sobre aspectos da cidade. Os alunos produziram vídeos sobre a vida dos pescadores, entrevistas com ativistas culturais e revelaram os museus, os espaços culturais e fizeram um levantamento das edificações históricas. Pesquisaram sobre o processo de emancipação político-administrativo, os pontos turísticos consagrados e cantaram o hino torrense. Dentre inúmeras atrações e novidades, laços identitários e o descortinar sobre a saga de um povo que nasceu entre as rochas, lagoas, rios e areais e forjaram seu destino neste vasto e diversificado território.
O amor e zelo pelo nosso lugar no mundo são heranças atemporais cuja sublime missão é conhecer, cuidar e preservar pensando no bem-estar e qualidade de vida das gerações futuras. A alquimia procura fórmulas mágicas criadas e recriadas para combinar substâncias misteriosas na busca do extraordinário e excepcional, onde se transformam elementos rudes no mais lapidado tesouro: vivências que dão sentido ao ato de educar com afetividade e convicção em que a primazia da trajetória de um educador é tornar-se um exímio e dedicado aprendiz.