As perdas culturais das inundações no RS

O balanço definitivo das perdas ainda está longe de ser calculado - mas algumas das maiores perdas terão sido as decorrentes da destruição de obras de arte, bibliotecas e livrarias.

Centro Histórico de Porto Alegre, no dia 04 de maio (Por Gilvan Rocha/ Agência Brasil)
17 de maio de 2024

Já chegam na quinta-feira (16) a 151 as perdas humanas nas inundações que assolam o Rio Grande do Sul e sabe-se que mais de 90% de suas empresas também foram afetadas. O baque é tão grande que vai diminuir as expectativas de crescimento do PIB do país neste ano. Teme-se, agora, a descoberta de mais mortes sob as águas que deixam no seu rastro um cenário  de destruição similar à guerra, acrescido pelo odor pútrido de roedores apodrecidos e sólidos decompostos. Para piorar, criminosos aproveitam a tragédia para assaltar e invadir residências desocupadas.

Vamos levar muito tempo para voltar à normalidade e todos esperam que, doravante, medidas definitivas de contenção das águas sejam tomadas pelas autoridades. O balanço definitivo das perdas ainda está longe de ser calculado – mas uma das maiores perdas terão sido as decorrentes da destruição de obras de arte, bibliotecas e livrarias. Em Porto Alegre, o relato do Editor da LPM, que tinha mais de 500 mil livros em depósito no bairro Humaitá, debaixo d agua, é simplesmente comovente. Somam-se, a cada dia , novos depoimentos, além da capital.

 

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“O que estamos vivendo no Rio Grande do Sul, neste momento, em especial, na cidade de Pelotas é algo nunca imaginado!” (por Gabriela Nogueira)

“As ruas viraram rios, carros trocados por barcos. Há botes, caminhões, helicópteros e máquinas de guerra ao nosso lado! Gritos diversas vezes por dia ecoando “saiam de casa”, “salvem suas vidas”, “o resto se reconstrói”, “bens materiais se compram”… Mas, no fundo de um lugar chamado Laranjal tinha um tesouro, um patrimônio inestimável e impossível de recompor! Ali estavam, materiais de 1600, 1800, obras de Marcel Proust, Machado de Assis, primeiras edições de Freire, livros sobre Napoleão, entre tantos! Eduardo, para quem conhece, sabe bem, passou 50 anos fuçando sebos, barganhando com colecionadores, andando a pé ou deixando de comer um Bauru, na época de guri, para comprar aquela relíquia que não poderia ser deixada de preservar! Sim, para além de seu gosto pessoal, ou melhor, seu amor pelos livros, Eduardo tem uma preocupação imensa em preservar esses materiais, e vem fazendo aquilo que o poder público está longe de se preocupar! Nossa casa estava com mais de um metro com água e tivemos que sair! Ele já tinha tomado algumas medidas pensando em um alagamento, mas menosprezou a força e a velocidade das águas, apesar dos avisos de conhecidos. Sua precaução não foi suficiente”.

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Tudo isso representa uma perda cultural incalculável para nosso Estado. Levaremos anos para recuperar todo este patrimônio. Falam que o luto passa por cinco fases, negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Não creio, no tocante às perdas culturais, que cheguemos à ultima delas. Carregaremos a perda  por muito tempo…




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