Gostaram do título? Ele não dá conta, com precisão, do que estamos vivendo nesses tormentosos tempos: pandemia, desemprego, inflação, desencontros e fortes polarizações. Quem diria que o Chile, que elegeu uma Constituinte progressista no ano passado, agora nos brinde com a provável vitória de um Presidente saudoso do Pinochet? Vá entender isso tudo…! Mas nada que a Arte não tivesse visto antes. Freud já dizia que na sua peregrinação pelos confins da alma humana via que, por lá, já havia passado um Poeta. A arte…, principalmente com sua estética de desconcertos e deformações do real como técnica de retirar-lhe a máscara para mostrar a face. Na literatura, as antevisões: Alfred Jarry, autor de Ubu Rei, foi o primeiro a se expressar por meio de uma linguagem aparentemente nonsense para explicar o absurdo da existência. Seguiu-se o Teatro do Absurdo. Surgiu no fim da década de 1950 para abarcar peças que, desde o pós-Segunda Guerra Mundial, tratavam da atmosfera de desolação, solidão e incomunicabilidade do homem moderno. Aí despontaram autores como E. Ionesco e F. Arrabal.
Eugène Ionesco foi um dos maiores “patafísicos” e dramaturgos do Teatro do Absurdo. Para lá de ridicularizar as situações mais banais, as peças dele retratam a solidão do ser humano e a insignificância da sua existência. Sua obra prima, nos anos 60, “O Rinoceronte”, mostra a reação de uma pacata cidade depois da passagem pela suas ruas deste desengonçado paquiderme? Não é o caso de figuras como Donald Trumpet e seus trumpets?
Já Fernando Arrabal, espanhol, é mais desconcertante ainda nas suas peças, uma delas, já encenada no Brasil, precisamente com o título desta coluna: Celebrando a Cerimônia da Confusão, a qual , por razões domésticas fui confrangido a estudar à exaustão. Mas não vou cansá-los com seu enredo. Basta o título, não?
Pois bem, sobre a mesa destas confusões muitos assuntos disputam nossa atenção: Auxílio Brasil, que já entra na Agenda dos candidatos à Presidência em 22, Reações à nova onda do COVID no mundo, Orçamento Secreto, Desmatamento na Amazônia e Crise Climática, além da corrida presidencial. Fico com o COVID.
Nova onda do COVID preocupa a Europa e força à retomada de medidas restritivas. A Áustria, por exemplo, depois de obrigar à vacinação, decretou novo lockdown levando a população a reagir às medidas com calorosas manifestações com os mesmos argumentos de séculos atrás. Reedita o que vem ocorrendo em outras cidades. São negacionistas da ciência. Daí a pergunta: Por que?
Para muitos, fazem parte da nova onda da extrema direita. Acho, porém, que nem todos eles são fascistas.. No fundo, são céticos, perdidos no labirinto das frustrações contemporâneas. A reação crítica à várias dimensões da modernidade, dentre elas à denominada BIGFARMA, BIGTEC , PIGMÍDIA, e empresas de processamento e comercialização de alimentos transgênicos, tipo Mac Donald , aliado ao estilo de vida New Age, com forte influência oriental, lutas marciais e não raro, encantamento com o mágico, gerou, no mundo ocidental, esta prevenção à vacinas, remédios e até tratamentos médicos. Preconizam vida saudável para o fortalecimento da auto-imunização, chazinhos e tratamentos alternativos. A eles se juntam, claro, outros negacionistas, mais radicais, que estigmatizam governos, a Política, a Escola e instituições do Estado, até mesmo Igrejas: Os novos anarquistas: Contra todos e contra tudo! Com isso saltam, sem se darem conta, da Docta Spe à Santa Ignorância, misturando astrologia, fractais e cosmismo. Um autor argentino, Pablo Stefanoni, traduziu isso tudo no seu livro “La rebeldia se volvió de las derechas” – Amazon -, mostrando que as bandeiras progressistas acabaram no colo da direita.
No Brasil isso também acontece mas a tendência contra a vacina, por exemplo, é muito menor. No contexto da pobreza da população e até falta de documentos, a carteirinha de vacinação é um verdadeiro passaporte de cidadania – Graças a isso chegamos a 80% da população adulta com esquema . vacinal completo. Isso não obstou, entretanto, que muitos alternativos ainda se encantem com Bolsonaro & Cia engrossando sua preferência eleitoral para 2022. Mas, neste caso, isso não tem nada de ideológico e acabará cedendo lugar, a favor, de Sérgio Moro, Ciro, ou mesmo Lula, os mais cotados, até agora – e mais palatáveis à democracia e à Ciência-, em 2022.