DEBRET E TORRES… ALGO NOVO

Conversando com o amigo Diderô sobre seu mais recente livro, que tem como tema o Rio Mampituba e, cuja capa e contracapa, é a famosa aquarela atribuída à Debret (imagem mais acima)... e foi esse o início da conversa

18 de maio de 2024

Nesta semana estive conversando com o amigo Diderô sobre seu mais recente livro, que tem como tema o Rio Mampituba e, cuja capa e contracapa, é a famosa aquarela atribuída à Debret e foi esse o início da conversa que certamente renderá várias colunas. Então vamos lá!

Como artista plástico, sempre fui interessado por estas relíquias feitas por artistas que passaram por Torres. Debret, Wendroth, Pelichek, entre outros, retrataram a paisagem torrense, cada um em sua época. Desses, o único artista que era questionado quanto a sua autenticidade era Debret, era?

De acordo com a pesquisa de Diderô sobre a aquarela de Debret, ela foi sim pintada pelo autor. Duas certezas anteriores também foram alteradas, uma delas, o título da obra que eu tinha como “A travessia do Mampituba”, na verdade ela está catalogada no museu Chácara do Céu como apenas “Mambetuba”, grafado assim mesmo. A outra é a data da criação da obra, anteriormente não se tinha uma data correta, mas aproximada, entre 1824 e 1826, porém a data constante no museu é de 1827.

A única dúvida ou questionamento é se ele realmente veio ao Rio Grande do Sul ou se fez essas aquarelas com base na ilustração de outros artistas que para cá vieram durante o tempo em que esteve no Brasil.

Segundo alguns autores, ele não esteve no RS, pois não aparece em nenhuma relação de passageiros e acompanhantes de nenhuma comitiva. Se não veio para cá (algo também não comprovado) ele realmente teria se valido de informações e ilustrações de viajantes que passaram pela região. Entre os que foram destacados por pesquisadores estão figuras como o naturalista Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853), que passou pelo Rio Grande do Sul em 1820, Friedrich Sellow, que permaneceu por aqui de 1823 a 1827 e Nicolás Dreys, que esteve no RS no período de 1818 a 1827, desses, apenas Saint-Hilaire não era artista plástico.

Sellow é destacado por historiadores como o mais provável inspirador das aquarelas de Debret feitas aqui no RS. Uns até dizem ser deles as aquarelas atribuídas a Debret, por semelhança de estilo. O fato é que Sellow desenhou na sua passagem pela região, Antônio da Patrulha, Osório e Torres, em abril de 1827

“Se foi mesmo baseada em desenho de Sellow, esse deve ter seguido a rota comum para a época, entre Porto Alegre e Santa Catarina, parando nas margens das lagoas para visualizar o que Debret depois transformaria em aquarela. Em seguida, ele atravessou a barra do Rio Tramandaí, dirigiu-se a Torres e seguiu rumo ao Norte.”

Relendo passagens do livro de Saint-Hilaire dá até para pensar que Debret se inspirou mesmo foi nas palavras bem escolhidas do autor para descrever o que viu pelas Torres.

“Para as bandas do oeste, recomeçamos a avistar a grande cordilheira que há muito tempo não víamos. Cerca de uma légua daqui, encontramo-nos à margem do rio Mampituba (pai do frio), que, atravessando a praia, se lança no mar, após separar a Província de Santa Catarina da Capitania do Rio Grande; passamo-lo do mesmo modo que o rio Araranguá.”

O naturalista Saint-Hilaire também descreve a entrada e a guarda de Torres desta forma:

“É também à guarda de Torres que se paga o pedágio. Continuando a viagem, chegamos aos montes que têm esse nome; um relvado muito rente ao chão, um pouco mais elevado que a praia, estende-se à beira-mar, acima do monte que fica mais ao norte.”

Esta aquarela revela Torres em 1827: a casa do alferes (a esquerda), no centro a igreja, retratada dos fundos, a direita está um portão que representava a entrada da cidade.

Onde tínhamos algumas desconfianças e algumas certezas, talvez com mais tempo e mais pesquisa possa se chegar a mais certezas e mais dúvidas.

Por esse motivo, tendo ele vindo ou não, pintado ou não, a história existiu e pode ser repassada e, da mesma maneira, a dúvida pode ser levantada. É até mais um incremento à narrativa, lhe oferecendo ares de mistério.

 

Fontes: Diderô C. Lopes, Rodrigo Trespach.

 




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