E AGORA BRASIL? Façam suas apostas

Coluna do economista e professor Paulo Timm para o jornal A FOLHA - abordando desde a prisão do ex-presidente Lula até as indefinições referentes à próxima corrida eleitoral no Brasil

14 de abril de 2018

A semana política foi carregada, mas promissora. A prisão de Lula, enfim consumada, em meio à grande manifestação popular em seu apoio, junto ao Sindicato de Metalúrgicos de São Paulo, passou para a História, sem qualquer convulsão.  O pronunciamento de Lula, pouco antes de sua caminhada em meio à multidão, em cumprimento ao mandato judicial, foi um misto de Fidel, no seu famoso “A História me absolverá”, com Vargas, na “Carta Testamento”, e pitadas messiânicas que ressoaram as palavras de Cristo na Santa Ceia: “Lula não é mais este corpo, mas uma ideia que habitará o coração de cada brasileiro”. Gostando-se ou não de Lula, seu discurso não será apenas guardado como relíquia, mas será mensageiro de ações políticas. Hoje, recluído em sua “humanizada” (?)  cela em Curitiba, ele tenta, certamente, refletir sobre estes últimos dois anos de sucessivas derrotas de seu Partido. Pesam nestas reflexão duas tendências: De um lado a própria natureza do Lula como um infatigável homem de negociação; de outro, um Homem marcado pelo ressentimento de ser vitimado sem culpa, numa encarnação dos sofrimentos do povo trabalhador brasileiro, curtido no desprezo das elites, propenso à revolta. Neste caso, no que é estimulado por grande parte de seu Partido e aliados à esquerda, PcdoB e PSOL, ele poderá estimular a resistência até o ponto de maior enfrentamento com o status quo. Pouco importa, à essas alturas, saber-se se Lula será solto dentro de algumas semanas, em decorrência da revisão da jurisprudência do Supremo sobre os limites do imperativo constitucional de “Presunção de Inocência”, ou se permanecerá preso. O fato está consumado e ele não será candidato em 2018. Nos bastidores já se sabe que seu indicado Fernando Haddad, com sua anuência, já se organiza para a corrida presidencial. Mas até por isso altera-se a conjuntura. O PT tende a voltar aos idos de 1889 – 1994 e 1998 fechando-se em torno da consigna de uma Frente de Esquerda, isto é, sem ampliações partidárias, sociais e ideológicas para o centro. A tática de convidar o filho de José de Alencar, o grande empresário que lhe acompanhou como Vice, em 2002, soa a farsa. Já não haverá uma “Carta aos Brasileiros”, nem maior tolerância com a classe média, associada, no novo-velho discurso às “zelites”. Um passo atrás. Um passo que reforça o PT como agremiação político-ideológica, com poucas perdas militantes, embora declinante na preferência popular que ainda lhe atribui 13% de preferência partidária, vindo PDT, a seguir, com insignificantes 2% e os demais nem isso.

Junto com esse retorno às origens do PT, sem, naturalmente, o forte discurso anti-corrupção que lhe caracterizou na denúncia do jovem Lula às “maracutaias”, outro elemento se acrescente à conjuntura: A erosão do MDB-PMDB, que ocupou um importante papel na redemocratização e no próprio avanço do PT nos Governos Lula e Dilma. Hoje, este Partido já é minoritário na Câmara dos Deputados, cedendo a primazia ao PT, e nada indica que seu candidato à Presidência, seja Temer, seja Meirelles, possa reverter sua desagregação. Trata-se de um prédio em ruínas cuja imagem tenderá a se fixar no triste destino das altas autoridades deste Partido no Rio de Janeiro, hoje atrás das grades.

Diante do estreitamento do PT e do esfacelamento do PMDB abre-se uma nova janela ao processo democrático no país, no qual já se perfilam duas tendências: O centro direita tenta aproveitar a oportunidade com nomes como Rodrigo Maia- DEM e Alkmin- PSDB, enquanto a centro esquerda lhe oferece resistência com duas prováveis candidaturas concorrentes “neste” espaço: Ciro Gomes- PDT e Joaquim Barbosa- PSB. As duas opções apresentam-se não só capacitadas ao pleito como adequadas à recomposição da governabilidade do país, com perspectivas de re-estabilização da conjuntura. Marina Silva, sempre excelsa, paira sobre os dois campos, podendo pousar sobre uma ou outra. Não tem peso para se constituir em opção governativa, à despeito de seu peso eleitoral. Falta-lhe estrategistas.

Ainda é cedo para afirmações definitivas. Mas já entra um pouco de sol pelas frestas do concurso presidencial. Oremos para que ele chegue ao seu curso. Façam suas apostas…




Veja Também





Links Patrocinados