ENTENDENDO O CORPUS CHRISTI

“Corpus Christi”,  é uma data que relembra  o Corpo e Sangue de Cristo na Eucaristia, um momento importante da liturgia cristã. Um signo. Ele está  referido à última ceia de Jesus com os apóstolos, na quinta-feira anterior à Paixão,  quando lhes distribuiu o pão e o vinho.

11 de junho de 2020

Escrevi, há três anos, a coluna abaixo, especialmente para  A FOLHA. Todos os anos, nesta data, volto a relê-la. Hoje decido, por intuição, republicá-la, com pequenas alterações. Penso ser ainda oportuna.

Corpus Christi: Poucos sabem  o que isto significa, além das procissões sobre tapetes de flores. Trata-se, com efeito, de um ato religioso da Igreja Católica Romana. Procuro maiores explicações e pouco encontro a respeito,  mas descubro boas reflexões de  grandes mestres  contemporâneos como Max Weber e Karl Jung sobre a importância da  religião. . Parece que o homem  não vive sem uma dimensão mística alimentada por ritos, cultos e cânticos, capaz de lhe explicar  mistérios inacessíveis à Ciência.

“Corpus Christi”,  é uma data que relembra  o Corpo e Sangue de Cristo na Eucaristia, um momento importante da liturgia cristã. Um signo. Ele está  referido à última ceia de Jesus com os apóstolos, na quinta-feira anterior à Paixão,  quando lhes distribuiu o pão e o vinho. Cristãos ortodoxos e evangélicos, curiosamente,  não celebram a data. Ela foi instituída pelo Papa Urbano IV com a bula Transiturus ad hoc mundo, em 11 de agosto de 1264 – embora decretada cinco anos depois – ,  devendo cair na quinta-feira após a Festa da Santíssima Trindade, que ocorre no domingo depois de Pentecostes ou 60 dias após a Páscoa. Assim, esta tradição foi se consagrando em toda a Europa Cristã desde 1350

As procissões de Corpus Christi , cultivadas em Potugal,  iniciaram-se no Período Colonial do Brasil , em Ouro Preto. Hoje disseminam-se por várias cidades nas quais são feitos desenhos icônicos com flores, folhas e serragem nas ruas sobre as quais se arrastam os fieis. Isso acontece principalmente nas cidades históricas e nas capitais: Pirenópolis, em Goiás, São Paulo capital, Jacobina, na Bahia, e Castelo, no Espírito Santo. Mas o costume  se estende por todo o país.Torres inovou, neste ano, com um tapete não de flores, de solidariedade…

A celebração religiosa do Corpo de Cristo merece, porém, uma homilia laica, vez que remete à comunhão de toda a humanidade em torno do pão e do vinho. A homilia é sempre a preleção de um religioso – homiliasta – no decorrer de uma celebração, normalmente após a leitura de alguma parte da Bíblia. Era comum no cristianismo primitivo, seguindo o exemplo de Jesus, tendo sempre um caráter  coloquial no tratamento das questões de fé, Deus e a religião, embora assumindo várias intenções: explicativa, exegética, quando isso é feito através das Escrituras e exortativo, caso em que procura exaltar as verdades aí contidas. Nada impede, porém, que se tome de empréstimo da liturgia esta boa prática que fez com que a Igreja Católica tivesse tanto êxito  ao longo dos séculos.

Há na celebração  importantes considerações:

Primeiro, a ideia mesma da comunhão como um ato simbólico da confraternização, em que o sagrado se liga misticamente ao profano – o pão e o vinho – entregando-lhes um significado imaterial. Esta comunhão não se restringe ao Profeta ou seus clérigos mas pretende disseminar-se a todos os fiéis.

E aqui, a segunda observação: Estes fiéis não se limitam,  ao povo eleito de Deus, como na tradição judaica, de onde nasceu o Cristianismo, mas se estende  a todos os lugares e a todos, tal como na bênção dominical até hoje feita pelo Papa no Vaticano. O ato sublinha, graças à São Paulo,  a ênfase da BOA NOVA de Cristo – “Amai-vos uns aos outros”- , a ser propagada a toda a humanidade pelo exercício do proselitismo evangelista.  Mais tarde, no século IV, Santo Agostinho, o grande teólogo do cristianismo primitivo juntaria estas peças da fé com os ensinamentos da Filosofia grega dando origem aos fundamentos do cultura ocidental – mais propriamente greco-cristã do que a propalada judaico-cristã..

A celebração de Corpus Christi não se esgota, portanto, apenas na valorização da figura de Jesus no campo da doutrina e fé cristãs. Ele remete para a Comunhão da Humanidade como um corpo que deve ser reunido em torno de valores fundamentais, começando pela fraternidade da mesa. Só os mamíferos superiores compartem o produto da caça, muitas vezes obtido pela cooperação coletiva, com sua espécie ou clã. Roma instaurou a mesa. Falta-nos, entretanto, alguns passos para que nos sentemos todos, sem exceção,  ao cardápio da civilização, para o pão e o vinho materiais. Este o verdadeiro sentido do catolicismo:  universalização da condição humana: O pão representando as necessidades básicas, o vinho as aspirações espirituais, começando pela liberdade e exercício do livre arbítrio.

A data, portanto, é um bom momento de reflexão sobre a fé, mas, também, sobre a esperança, mãe da dignidade e da coragem,  de que o cristianismo, com sua força massiva e inequívoca capacidade de persuasão, ultrapasse os limites da liturgia para ajudar a encontrar uma saída para o difícil momento por que passa a Humanidade….




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