Dias infames na Política nacional: Há dois anos Michel Temer, mercê do impedimento da Presidente Dilma Rousseff, assumia o Governo com a promessa de recuperar o desenvolvimento ameaçado do país, com a promessa de um regime de rígido controle fiscal e recuperação do entendimento nacional; há um ano, exatamente, a Nação ouvia estarrecida o diálogo comprometedor deste mesmo Presidente com um dos maiores empresários do país, o que lhe custaria não só a afronta quase unânime dos brasileiros, expresso por altos índices de rejeição, como dois processos da Procuradoria Geral da República. Não obstante, Temer continua pousando de mocinho. ‘Óressa’!
Temer não é só o pior Presidente de todos os tempos, passados e vindouros, mas vai passar para a História como o Rei dos Trapalhões. Toda a santa semana é protagonista de uma trapalhada e nada de positivo cola a favor dele. Pelo contrário, pega o ruim de longe. E semeia o pior, já visível no horizonte.
A última foi o Convite para a cerimônia do segundo aniversário do Governo: “O Brasil de volta, vinte anos em dois”. Foi ridicularizado em todas as mídias e viralizou na INTERNET. Bordão errado em todos os sentidos pois estigmatizado como retrô o convite evoca o que a esquerda tem dito desde que Temer assumiu em maio de 2016: É uma volta atrás, no que o passado tinha de pior. Um afetado uso da mesóclise pelo Presidente não lhe capacitou, de resto, à percepção do lugar estratégico de uma mera vírgula. Tivesse usado dois pontos, ficaria mais claro, mais ainda se houvesse destacado em maiúsculas a primeira parte do bordão – O “BRASIL DE VOLTA: Vinte anos em dois”. Ainda assim, soaria mal a um Governo que se pretende moldar o futuro, o uso do verbo voltar. Voltar sugere sempre o eterno retorno, a reedição do mesmo. Na MPB, a volta do boêmio alquebrado. Triste. E mais uma vez, Temer vai e volta. Faz e desfaz. No fundo, não sai do lugar, um lugar incômodo que ocupa e que lhe recomendaria um mínimo de discrição, . Não consegue, “se acha”, como se fosse a reencarnação de Juscelino. Atua com a desenvoltura de um toureiro em ato, sem qualquer economia de gestos, mãos e dedos em riste, afora os ternos impecáveis, à espera da consagração do estádio. Mas não há estádios, não há público, não há, honestamente, nada a comemorar neste segundo ano do Governo Temer. O saldo em reservas que impede uma grave crise cambial lhe é anterior e os baixos índices de inflação não refletem senão o fosso profundo da recessão. E se algo de bom ocorre na economia tem muito mais a ver com o descolamento dos empresários do Governo do que o resultado de suas diretrizes. Nem falar da explosão da dívida pública, já perto de 100% do PIB . O Governo Temer, enfim, é um desastre.
Na verdade, o impeachment de Dilma foi um erro precipitado, à despeito de seus erros, pela voracidade de um “Quadrilhão” articulado pelo Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, hoje condenado e preso em Curitiba, à espera de seus comparsas, que, um a um, ainda lhe farão companhia.. Nem Temer está livre deste destino, pois os dois processos contra ele, sustados pela Câmara – e mais o que se gesta na Procuradoria Geral da República por favores concedidos a operadoras do Porto de Santos- , ainda lhe perseguirão. Quem viver verá.
Como se não bastasse o ridículo do Planalto, o país descobre pelos arquivos da CIA, revelados por Matias Spektor, que seus generais Presidentes foram coniventes e responsáveis pela execução de opositores ao regime. E não se diga que eram prisioneiros de combate eis que esgrimiam, mais das vezes, apenas ideias contra o autoritarismo, tais como W. Herzog e Manoel Fiel Filho. Nestes mesmos dias, na Alemanha, um velhinha foi presa por afirmar-se partidária de Hitler e do nazismo. Obrou bem o Governo daquele país. Não se pode ser tolerante com intolerantes se quisermos preservar liberdades fundamentais. Já aqui, um dos candidatos mais cotados à Presidência da República não faz segredo – até louva – de seu apoio o regime militar 1964-85. E seu provável companheiro de chapa ao Governo do Rio Grande do Sul, Luiz Carlos Heinze, do PP, já separado do Governo Sartori (MDB), talvez cresça nesta mesma sombra. Eis o maior risco da polarização esquerda x direita. Ela vitimiza o que de mais caro temos a preservar: a democracia.