FALAM AS URNAS

OPINIÃO - Coluna de Paulo Timm - A FOLHA - Torres - RS

22 de novembro de 2020

Entreabertas as urnas, já que só serão conhecidas em sua totalidade no dia 29 próximo, quando restantes 57 das 96 maiores cidades do país com direito ao segundo turno se darão a conhecer, já é possível perquirir sobre a cabeça política dos brasileiros: Conservadora. Não no sentido que a interpreta o Presidente Bolsonaro, supondo-a, como ele, à extrema direita desvairada, mas moderadamente conservadora. O velho centro se reafirma novamente, com políticos e pela Politica. Antigamente, antes de 1964, era o PSD de Tancredo Neves et caterva, depois, na Geleia Real do MDB/PMDB, de Ulysses Guimarães (ainda o Partido com maior número de Prefeitos no país embora caindo de 1028 eleitos em 2016 para 755 até agora) e, ultimamente, na denominada gosma do Centrão, que junta uma sopa de letras como PR/Universal, PL, PATRIOTAS, PSL, PSD/Kassab, PTB/R.Jefferson, PSC etc. Este Centrão, na verdade, é um centro “radical”, cheio de “interesses”, e que se justifica em seus  malabarismos adesistas, ora ao Sarney, ora ao FHC, ora a Lula/Dilma, ora Temer, ora Bolsonaro sob o argumento cínico  de que nunca mudam – o que muda são os governos…! Ou seja, está no Centro mas com personalidade própria, se é que se pode chamar seu comportamento errático como centrista. O centro a que me referi como o grande vencedor nas urnas o incorpora mas, como todo o espectro político ideológico atual, é todo recortado. Acrescenta-se a ele, aqui e agora, pela incorporação do CIDADANIA, de Roberto Freire,  do PSDB de João Doria, Governador de São Paulo e maior parte do MDB, que sempre teve tantas cabeças quanto possuía Medusa serpentes. sobre este lugar. Este conjunto imenso fez a maioria dos votos e dos prefeitos no país e se prepara para disputar a Presidência em 2022. Dizia-se, há tempos, que este era o Brasil dos grotões, alimentado pelo coronelismo, tanto rural, quanto urbano. À sua frente medraram– e medram – as vanguardas cosmopolitas, articuladas com os ares do mundo. Na Independência, o Patriarca José Bonifácio, era um Iluminista, formado em Portugal, tão isolado que teve que se exilar no Governo de Dom Pedro I. Queria reformas que preenchessem o Estado recém instaurado.   Na República despontaram os militares como ecos locais do positivismo, que contraíram no contágio com os argentinos na Guerra do Paraguai, daí emergindo o tenentismo e Luiz Carlos Prestes como líder de uma classe média radicalizada nos grandes centros. Gerou um comunismo maçônico. Com a rápida urbanização dos anos 1930/60 as grandes massas, atentas ao rádio, se identificaram com o trabalhismo que produziria Vargas, Jango e Brizola como suas principais referências. Nos anos 80, uma novo sindicalismo resultante da consolidação do polo metal mecânico em São Paulo assume o comando sob a batuta de Lula. Agora a dinâmica demográfica, a desindustrialização, a favelização do mundo aponta para Guilherme Boulos, Manuela,  e lideranças identitárias, fortalecendo novas tendências. Caso típico de Porto Alegre: A Câmara de Vereadores se renovou em 40% e elegeu 9 mulheres, das quais 4 mulheres negras de Partidos de esquerda, também 1  negro vinculado ao Movimento Negro, todos os cinco oriundos de comunidades, mas a maioria ainda é de direita. Mudou a composição da esquerda, socialmente mais profunda, mais jovem, a qual expeliu bons vereadores como, por exemplo, Adeli Sell, do PT, não a orientação política geral da Câmara: conservadora.

A tônica da conjuntura, embora centrista é, pois, marcada pela fragmentação. Ela decorre da canibalização de uns Partidos sobre outros da mesma margem. Vista a coloração dos votos, ou seja, sua distribuição entre uma certa esquerda e uma certa direita,  desde 1945, quando elegemos o Gen. Dutra para Presidente ou Getúlio Vargas, em 1950, continuamos empatados, numa certa dialética histórica. Metade do país mais um pouco elege ora JK, ora Jânio; ora Collor/FHC, ora Lula/Dilma; ora Bsolsonaro, daqui a pouco alguém à esquerda. A esquerda avança  em sintonia com os tempos mas se vê travada pela assimetria do processo de modernização do país. Situação similar, por outras razões aconteceu na Itália do pós-guerra, ocupada pelos americanos mas sob forte influência do Partido Comunista Italiano, que se viu forçado a se restringir às Prefeituras.

 

A direita no Brasil, por exemplo, foi canibalizada pelo PSL de Bolsonaro sobre todo o espectro anti-progressista em 2018. Sobrevive, abatida, no Presidente, que não consegue levar seu projeto partidário próprio adiante  e tem  projeções   no Partido Novo, no DEM, e em Movimentos que os alimentam. A esquerda passou por uma faxina que levou o PT à hegemonia indiscutível com a eleição do Lula em 2002, deixando o PDT, o PSB, o PSOL e o PCdo B à sua sombra. Agora sofre o assédio vanguardista do PSOL e PCdoB. Isso tudo, porém, em Parte é Política, em Parte é Brasil, um país que se modificou rapidamente e que traz em seu bojo estas reacomodações.

Daqui em diante, até 2022, segue o jogo. Oxalá sob as regras da Constituição de 1988 e sob a convicção generalizada de que a democracia não é um ato, muito menos só eleitoral, mas um processo em construção, tal como a Justiça e a Liberdade. Bolsonaro, titular do Poder, vai lutar com unhas, dentes, incautos evangélicos e atarantados extremistas comandados por generais de pijama da Era do Gelo, para permanecer no Poder – com sua família. A direita civilizada, com epicentro em São Paulo, suporte da Mídia Corporativa tentará cooptar o Centrão para suas boas maneiras A esquerda democrática, cheia de argumentos, mas  redividida, sonhará com a volta aos bons tempos, enquanto seu segmento ortodoxo,  continuará na defesa dos princípios.




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