FANTASMAS DO PASSADO DE TORRES (Parte 8): Os ossos do Vigário

"Nesta semana vou contar a história dos ossos de um padre, mas não de um padre qualquer, de um padre que permaneceu mais de um quarto de século como vigário da paróquia de Torres" (por Roni Daliaz)

2 de julho de 2020

Nesta semana vou contar a história dos ossos de um padre, mas não de um padre qualquer, de um padre que permaneceu mais de um quarto de século como vigário da paróquia de Torres. Este padre também ergueu a única torre da Igreja da cidade em 1898. Ele foi tão popular que se elegeu Conselheiro Municipal, um cargo equivalente a Vereador, e ainda foi presidente deste conselho. Além de popular teve até uma “companheira” com a qual teve uma filha. Sim, uma filha, que teve comprovada sua existência através do epitáfio “saudades de sua filha Picucha”, encontrado na lápide do túmulo do velho padre.

Mas que padre foi este?

Para quem está curioso vou dar mais algumas informações sobre o tal padre.

Ele nasceu em uma pequena localidade do sul da Itália chamada Aieta e veio para Torres em 1884. Faleceu no dia 28 de dezembro de 1911.

Seu nome era Giuseppe Lomonaco.

Após falecer o padre famoso foi enterrado no cemitério local. Na época o cemitério estava em cima do morro ao lado do futuro Farol (estava em fase de construção, concluída em 1912). O cemitério anterior, localizado no pé do morro (na praia da Cal) havia sido soterrado pelas dunas e não mais era utilizado.

Mas a história que eu quero contar é mais ligada à morte do que à vida do padre.

Em 1960 as autoridades locais, com a ajuda da SAPT, concluíram que um cemitério em um ponto turístico da cidade não se constituía em um incentivo à visitação. Ou seja, um lugar muito visitado e com grande valor turístico não podia ter um cemitério para atrapalhar.

Então o cemitério foi removido para o Campo Bonito. Do antigo cemitério foram retiradas as cerca de 40 tumbas e realocadas no novo cemitério.

Mas uma não foi para lá.

Os ossos do vigário foram parar na capela da Colônia São Pedro por ordem da Diocese de Caxias do Sul. Lá permaneceram esquecidos em algum lugar da sacristia até o ano de 1976.

No final daquele ano, a ossada do velho padre, foi colocada em uma urna e transladada de volta para Torres.

Uma cerimônia especial foi preparada para receber os restos mortais do velho padre à porta da igreja matriz. Recebidos, os ossos, foram colocados em uma antiga urna reformada que ficava na entrada da igreja, na parede esquerda.

Enfim o velho padre repousou. Não mesmo.

Em 1982 algum “gatuno” entrou na igreja e arrombou a urna em busca de alguma relíquia. Pelo que se notou mais tarde, ele nem chegou a levar os ossos que lá estavam. Acho que por se tratar de ossos envelhecidos, o ladrão deixou por lá mesmo.

Apesar de violada, a urna ficou algum tempo sem ser reparada e ninguém sentiu falta do conteúdo até o dia em que a sacristã da igreja encontrou um pacote com alguns objetos de descartes e um punhado de ossos. Ela lembrou dos ossos da urna e percebeu que ela havia sido arrombada. Imediatamente ela se reportou ao antigo pároco para certificar-se de que aqueles ossos eram os mesmos por ele recebidos. E eram!

A peregrinação dos ossos do vigário ainda não havia sido encerrada.

O pároco da época resolveu então dar um destino definitivo àqueles ossos.

Mandou cavar um buraco na torre da igreja e lá depositou uma urna com os restos mortais do padre que a construiu.

E para certificar-se de que ninguém mais mudaria os ossos deste lugar colocou uma placa com os seguintes dizeres: Restos mortais Pe. Lamonaco, 28/12/1911.

Só faltou colocar na mesma placa: “Não perturbe!”

 

 

Fontes: FILHO, Nelson Adams. História Torres, aspectos, Volume 1. Torres, 2014. RUSCHEL, Ruy Ruben. Torres tem história. Porto Alegre: EST, 2004. Conversa com Nelson De Nardi, ex-pároco do município.

 




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