Sempre gostei de olhar fotos antigas. O preto e branco delas me faz prestar mais atenção aos detalhes. Foi essa curiosidade — que mistura memória, história e afeto — que me levou a conhecer melhor Torres o lugar escolhido por meus pais e que também escolhi para morar.
Nesta coluna, mostro ao leitor duas fotos antigas, emprestadas por uma amiga — torrense por adoção e descendente do torrense histórico Balbino de Freitas.
A primeira foto revela um pedaço importante do passado: a antiga Maternidade Avani Cordeiro de Farias, instalada no subsolo do Posto de Higiene, onde hoje funciona a Pousada da Prainha. Inaugurada em 1941, ela foi o primeiro “hospital” da cidade, teve como primeira recém-nascida a filha do casal Jaime e Vicentina Pozzi, que recebeu o nome de Avani — em homenagem à esposa do então Interventor do Estado.
Esse local é, sim, parte da história da cidade, embora alguns tentem desqualificar sua importância.
A foto é uma relíquia e mostra claramente o nome do local: “Assistência de Emergência Avani Cordeiro de Farias”, algo como um posto de saúde ou uma UPA da época. Em frente ao prédio aparecem os médicos e enfermeiros que ali trabalhavam — entre eles, a avó da minha amiga. O prédio, pelo que se vê nas fotos (e ao contrário do que dizem), sofreu poucas alterações e ainda preserva características do passado. Mesmo com a adição de janelas e outros adereços, é possível reconhecer claramente a maternidade de antigamente. Para quem duvida, fiz uma transposição da antiga foto com a imagem atual da pousada. Infelizmente, o local está prestes a virar um monte de tijolos e entulhos — e, ironicamente, até uma coluna de minha autoria foi citada em um parecer justificando a não conservação deste patrimônio cultural da cidade.
A outra foto tem um caráter mais afetivo. Mostra os pais da minha amiga parados em frente à Praia Grande, na parte alta quase em frente ao “Abrigo da SAPT”. O fotógrafo, de costas para o mar, destaca, além do casal, o horizonte torrense na década de 1960.
A foto foi feita por Ídio Feltes, o fotógrafo mais famoso da região.
A praça que aparece ao fundo é onde ficavam os famosos chalés do Picoral — o “quadrado Picoral” — hoje conhecida como Praça Pinheiro Machado. Ao fundo, ainda vemos antigas casas de veraneio (algumas ainda de pé) e um pedaço do prédio Amigos de Torres (e também sede social da antiga SAPT).
Um momento eternizado em uma “simples” foto, feita por um “simples” fotógrafo, em um dia “simples” de verão. Mas o que há de simples em guardar, numa imagem, um pedaço da alma de uma cidade?
Talvez, ao olhar aquela paisagem, esse casal nem imaginasse que, décadas depois, estaria sendo observado por outras gerações, tentando decifrar seus pensamentos e reviver, mesmo que por instantes, aquele tempo que insiste em resistir.