Na cidade de Torres muitos bairros se formaram ao redor da histórica vila que se desenvolvia na encosta da Torre Norte. Durante o século XIX pairavam na paisagem os casarios coloniais perfilados nas ruas de barro por onde transitavam carros de boi, cavalos e mulas que transportavam pessoas e produtos coloniais: a farinha, a cachaça, o açúcar, madeiras, rochas e dezenas de quilos de cal. Mercadorias para o comércio e o material de construção necessário para a edificação das moradias, sobrados e armazéns. Ao longe avistavam o brilho da lagoa do Violão e intermináveis cordões de dunas salpicados por escassas casas, algumas de “pedra e cal” e outras de madeira circundando a zona central. Nestas zonas mais distantes nascem o bairros da periferia. O adensamento urbano está entre as margens do Rio Mampituba, ao norte e as imediações do
Parque Estadual da Itapeva (Peva) ao sul limitado pelo o oceano Atlântico à leste e a rodovia BR-101 à oeste. Em 142 quilômetros quadrados do município de Torres e imensa zona rural a concentração populacional está confinada na planície costeira entre as três torres. Nas bordas da área central estão localizados os bairros: Praia da Cal, São Francisco, Guarita, Dunas, Curtume, Stan, Vila Nova, Igra Sul e Norte, Faxinal, Águas Claras, Itapeva, Campo Bonito, São Bráz, Jacaré, Vila São João, Rio Verde, São Jorge, Centenário (Lomba da Usina), Salinas, Engenho Velho, Getúlio Vargas (Canto da Ronda) e Predial. São diversas as comunidades recheadas de histórias, costumes e identidades próprias nas áreas urbanas e agrícolas do município. Existem bairros de cultura ribeirinha nas margens do rio e da tradicional pesca artesanal nos recantos e paredões do Morro das Furnas. No interior, comunidades mantém o labor dos engenhos e da agricultura nas imediações do sopé dos contrafortes da Serra Geral. Na beira mar, o veraneio moldou a arquitetura e o usufruto das praias para o ócio e lazer. Entre as décadas de 1960 e 1970, o ramo imobiliário elencou e planejou um bairro para a construção de prédios: o Predial. Permanece com baixa taxa de ocupação no inverno e torna-se altamente habitado com a população flutuante do verão. Há mais residências do que moradores contrariando as estatísticas nacionais onde existe um déficit na função social das habitações. Em relação ao patrimônio edificado, no Centro Histórico houve deturpações e desmonte de inúmeros casarios tornando-se um dos maiores crimes contra a memória social do litoral norte devido a relevância de Torres para o processo de povoamento do Sul do Brasil. Históricos bairros forjados pelas suas áreas de trabalho como o tratamento de couro no Curtume, a salga na Salinas, as caieiras da Praia da Cal e os engenhos do Faxinal. Em cada bairro, vivências, tradições, costumes e culturas são criadas e recriadas no cotidiano e no fluxo dos tempos.
O registro e inventário dos bens culturais dos bairros é essencial para a compreensão da historia da cidade. Zelar pela cultura popular e tradições por meio de registros audiovisuais utilizando metodologias de história oral. Entrevistas e relatos, monumentos, edificações, praças, lugares, festejos e danças folclóricas, saberes e fazeres, gestos e técnicas contam as Histórias dos Bairros e sua gente. Sujeitos esquecidos e excluídos, pessoas comuns, trabalhadores e trabalhadoras, homens, mulheres e crianças que pertencem as classes sociais menos favorecidas. Pessoas marginalizadas e exploradas, sem voz e nem participação na oficial versão dos “heróis e vencedores” dos fatos históricos. Compreender o fenômeno do turismo ou da construção civil, assim como a cultura pesqueira e as vivências agrícolas na Torres Colonial por meio da perspectiva das Histórias dos Bairros e das comunidades periféricas revelará novos horizontes e “visões de mundo” diferenciadas na ânsia de despertar as adormecidas e inertes consciências históricas. Nossa História é semeada em nossos antepassados e nos reconhecemos como seres humanos embebidos pela cultura em nosso meio social. Nascemos e “nosso mundo” é a casa e a vida familiar que transcende para o âmbito comunitário da Rua e do Bairro, progredindo para o reconhecimento da Cidade, do Estado, do País, do Continente e do Mundo.
Em nossa singularidade e limitações físicas, sujeitos históricos em constante formação, pertencemos a um espectro global permeado pela sutileza do pensamento: cada cabeça um universo de tesouros escondidos, assim como, em cada bairro um mundo de Histórias.
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