JÁ DE REGRESSO: Últimos dias em Portugal

"Na Europa inteira, são quase 500 milhões de pessoas entrecruzando-se por todos os lados. As praças ficam coalhadas de mesas de cafés e restaurantes, em meio as quais passam jovens com mochilas e não poucos artistas com sua arte" (texto por Paulo Timm).

FOTO: Covilhã, cidade no centro de Portugal
8 de agosto de 2019

Últimos dias em Portugal. Depois de uma larga volta pelo norte, desde Valpaços, passando pelo Porto, uma pequena “paragem, como dizem por aqui, em Aveiro, a obrigatória visita à Coimbra, o êxtase diante do Castelo de Ordem de Cristo, em Tomar – cidade fundada em 1160 e onde se iniciaram as tratativas de Templários e Judeus para os Descobrimentos. Agora estou em Covilhã, sede de uma nova e já reconhecida Universidade, (a Universidade da Beira Interior).

Aqui tivemos hoje, sob o patrocínio da Biblioteca Municipal (um portentoso Palácio que poderia abrigar o Governo do Rio Grande do Sul mas que é dedicados aos livros e leitura), um encontro com Poetas locais. Joaquim Moncks, que me acompanha neste périplo, abriu os trabalhos com uma bela exposição sobre “O lugar da Poesia e sua atualidade no mundo de hoje”. Agradou imensamente o pequeno grupo reunido às pressas aqui na cidade e finalizou o evento com uma interpretação de “Tabacaria”, de Fernando Pessoa e “Minha Pátria”, de Vinicius de Moraes. Homenageou, assim, primeiro Portugal, em seguida o Brasil. Amanhã rumamos para Lisboa, onde, com várias reuniões com editores e escritores, encerramos nossas “férias”.

Por falar em férias, esta é a “saison”, como preferem os franceses. Verão. Na Europa inteira todo mundo sai a passear. O Mediterrâneo ainda é o destino preferido: praia, sol, mar, muito colorido. Mas muitos ainda preferem Paris, a cidade mais visitada por turistas no mundo. Nem sol, nem praia, nem mar. Só História e muita cultura, comprovando a tese de que o bom turismo é o turismo em busca de ideias e não só paisagens. (Quando conseguiremos fazer com que nossas autoridades e empresários sul-brasileiros compreendam isso?) Outros, porém, saem pelos caminhos mais pitorescos do continente satisfazendo curiosidades: Croácia, Polônia, Grécia, Portugal. Este, então, quase já não dá conta de tanta gente chegando e saindo. Na Europa inteira, são quase 500 milhões de pessoas entrecruzando-se por todos os lados. As praças ficam coalhadas de mesas de cafés e restaurantes, em meio as quais passam jovens com mochilas e não poucos artistas com sua arte. Sociedade de massas. Não de segmentos privilegiados. Tudo com cara de classe média trabalhadora.

Ontem subimos, eu e Moncks no elevador com um jovem uniformizado como vigilante, e o Poeta ficou surpreso, perguntando-me, quando ele desceu no terceiro andar: “Será que ele mora aqui?”. “Mora”, respondi-lhe. A classe média aqui,  que constitui o grosso da população, mesmo sendo uma das mais pobres da Europa, tem acesso à sociedade de consumo, inclusive boas moradias. Ganham entre 800 e 1.100 euros, o que equivale à uma média de  R$ 5.000,00. Um casal: R$ 10.000,00. Vivem apertados, mas dignamente, ainda que pensando o ano inteiro nas férias. No Brasil, a classe média é um mero segmento, embora grande, em torno de 50 milhões de pessoas, que cresceu de cima pra baixo, tendo absorvido, neste processo um estilo e percepções mais próprias da Casa Grande do que da Senzala. Não explode em termos quantitativos, sempre barrada pelas “contingências” históricas. E parece que vai continuar assim. Não entendo como, numa economia que é um décimo da brasileira, sem qualquer sofisticação tecnológica e industrial, seja possível pagar salários mais altos do que no Brasil…

Buenas, aguarda-nos, agora, nova reunião. Vamos à Belmonte, de onde proveio Pedro Alvares Cabral. Ainda se vê o Castelo, em ruínas da família. Conto na volta como foi…




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