LIVRO PITORESCO: Debret esteve em Torres?

"Reescrevendo sobre o artista Jean Baptiste Debret e sua suposta passagem por Torres, reli parte do livro escrito por ele em 1834 e reeditado pela Biblioteca Histórica Brasileira (Livraria Martins Editora), em 1972"

Charge de Cavalerie Gouaycourous - por Jean Baptiste Debret
1 de junho de 2024

Reescrevendo sobre Debret e sua suposta passagem por Torres, reli parte do livro escrito por ele em 1834 e reeditado pela Biblioteca Histórica Brasileira (Livraria Martins Editora), em 1972. Neste livro, Debret fala um pouco sobre os costumes, o cotidiano, a fauna, a flora, e descreve o império e suas províncias com um pouco de suas características e estatísticas. É uma boa leitura para se ter uma pequena noção de como era a vida pelo Brasil daquele período. Sem querer encontrei alguns textos que podem ajudar a desvendar o mistério da passagem do pintor francês pelo RS. Não é uma pesquisa histórica, é apenas uma contribuição de um curioso que gosta de fazer algumas perguntas e de ter algumas respostas. O fato é que os textos valem a pena serem mostrados.

O interessante desta publicação é que nela tem a interferência do tradutor, que corrige dados históricos e incongruências, e faz isso não alterando o texto, suas “correções” são feitas através de notas de rodapé. Na própria “Nota do Tradutor” (Sérgio Milliet) ele esclarece esta intervenção e tenta justificá-la: “Se muitas vezes o tradutor é um traidor, a culpa cabe não raro à precariedade do estilo e da língua do autor traduzido…O tradutor é um infeliz que carrega às costas fardo pesado dos erros alheios…Procurei manter-me o mais perto possível do original, mas sempre em benefício da fidelidade ao texto e ao valor documental da obra.”

Debret, como todos sabem, foi um artista francês que veio para o Brasil juntamente com uma missão francesa para criar e desenvolver uma academia de Belas Artes. Como artista, Debret deixou uma obra inestimável, retratando os costumes da época, os aspectos da natureza, fauna e flora do Brasil durante os reinados de D. João VI e Pedro I. Como o meu interesse por Debret é artístico/histórico, tentei encontrar subsídios que indicassem sua passagem pelo Rio Grande do Sul, reli parte do livro (volume I e II) em que esses aspectos continham informações que esclarecessem minhas dúvidas.

Vamos aos textos.

Na parte do texto a seguir surge uma primeira indicação de que alunos possam ter municiado Debret com documentos (que podem ser desenhos, pois eram alunos de artes), sobre regiões do Brasil. Não fala necessariamente de alguma região específica, pode ser qualquer uma.

    “Eu ensinava, então, pintura de história na academia do Rio de Janeiro, fundada por nossa colônia; por isso tive a oportunidade de manter, constantemente, por intermédio de meus alunos, relações diretas com as regiões mais interessantes do Brasil, relações que me permitiram obter, em abundância, os documentos necessários ao complemento de minha coleção já iniciada.”

Nesta outra parte do livro, Debret, descreve as 18 províncias do império, sendo elas Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande (Norte), Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, São Pedro (Rio Grande do Sul), Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais. As informações não parecem ser de um observador detalhista como Debret, elas parecem ser copiadas de algum relatório do próprio império.

   “Essa província é limitada ao norte por Santa Catarina, a leste pelo oceano, ao sul pela província Cisplatina, ao oeste por Buenos Aires. Seu comércio é constituído pelo gado, cavalos em geral excelentes, trigo, linho, mandioca, cerâmica, tecidos de algodão próprios para as vestimentas dos negros, charque, chifres, caudas e couros de bois exportados especialmente para o sul da França.”

Na reprodução a seguir, o texto de Debret já especifica a província/estado que recebeu as informações e deixa claro que não visitou a região, se baseou apenas em dados repassados por terceiros.

   “Reproduzo aqui as informações de nossos sábios viajantes que, todas, coincidem e cuja fidelidade dispensa quaisquer acréscimos. A província do Rio Grande do Sul, dizem eles, situada na parte mais temperada, fornece ao consumo interno e mesmo à exportação grande quantidade de couros; é ainda ela que exporta a maior parte das carnes secas e salgadas ditas do sertão e que constituem o alimento de toda a população negra ou indigente.”

Como disse no início, não tenho o propósito de definir historicamente algo já pesquisado com maior profundidade por tantos historiadores. O único compromisso que tenho, como curioso que sou, é mostrar que o próprio Debret, em seu livro, deixa pistas sobre sua passagem pelo Brasil. Nele há informações mostrando por onde passou e por onde ele não transitou, mas apenas reproduziu informações recebidas de terceiros e pelo que se vê, foi a maioria.




Veja Também





Links Patrocinados