“Mundo, mundo, vasto mundo”.

"Depois do século XX, de grandes realizações humanas e não poucas desventuras, destacando-se aí duas guerras mundiais, chegamos ao século das perplexidades. Já não há otimismo quanto ao futuro da civilização. O homo é sapiens mas não infalível. Sabemos que um erro de cálculo poderá nos levar à hecatombe nuclear.  E mesmo escapando  deste horror, convivemos com as mudanças climáticas que tornam os eventos atmosféricos cada vez mais frequentes e relevantes".

5 de julho de 2024

Depois do século XX, de grandes realizações humanas e não poucas desventuras, destacando-se aí duas guerras mundiais, chegamos ao século das perplexidades. Já não há otimismo quanto ao futuro da civilização. O homo é sapiens mas não infalível. Sabemos que um erro de cálculo poderá nos levar à hecatombe nuclear.  E mesmo escapando  deste horror, convivemos com as mudanças climáticas que tornam os eventos atmosféricos cada vez mais frequentes e relevantes. Vide Rio Grande do Sul debaixo d´água. Vide invernos rigorosos e verões escaldantes no hemisfério norte. A desertificação se aprofunda, o lixo se acumula em montanhas e os oceanos estão morrendo. A ocupação humana nas grandes cidades, favelizou-se abrindo o caminho para as zonas liberadas para a prática de crimes: “Os cães de Berlim”, “Marselha”, narco e necro-Estados proliferando-se mundo afora.  A fina camada de organismos vivos que recobre o planeta como uma pele delicada, fruto de bilhões de anos, está comprometida.  Há algumas décadas J. Lovelock, um dos criadores da concepção da Terra como organismo vivo, a que deu nome Gaia, prognosticou que mais de 1 bilhão morreriam em decorrência do ambiente. “A natureza não reclama, mas se vinga…”. Como se não bastasse convivemos com as incertezas da Inteligência artificial. Já estávamos nos acostumando com confusão entre o real e virtual. Doravante, desconfiaremos se o real algum dia existiu. Trans-humanos daqui a pouco conviverão entre nós. Valha-nos Deus!

Aliás, o retorno à religiosidade, negada pelos positivistas republicanos que separaram a Igreja do Estado em janeiro de 1890, se afirma com vigor junto a imensas camadas da população que tentam fazer de suas prédicas milenaristas regra de convivência social. O mundo, enfim, gira muito rápido e traz nesse processo inusitadas mudanças. A apolínea esfera ocidental, cada vez mais estreita, fundada sob o primado da Razão e Liberdade, se contrai sob a hegemonia americana, confrontada com a emergência da revolta do Sul Global de diversas raízes e um só anseio: Autonomia para a realização de seu desenvolvimento. Aí se aliam as mais controvertidas experiências humanas como China comunista de mercado, Rússia herdeira de potente nacionalismo, Irã xiita, Turquia muçulmana herdeira da modernização de Mustafah Kemal, a grande maioria dos países africanos e asiáticos (com exceção, claro do Japão), América Latina em peso, especialmente sob o governo Milei. A Índia, maior país do mundo e com uma economia em ritmo invejável, consagra em recentes eleições o Primeiro Ministro de direita. Aqui, sim, talvez se pudesse dizer deste complexo Sul-Sul que ele se constitui numa gigantesca “geringonça”, nome dado à coligação que governou Portugal de 2015 até o ano passado.

No Ocidente, reina sublime e controvertida tensão. Estados Unidos está às voltas com as eleições presidenciais em novembro próximo, sem que se saiba, ao certo, se o Presidente Biden será o candidato democrata, depois das mostras de inequívoca senilidade, aliás, reportadas por um dos mais importantes jornais americanos. E se o impetuoso Trump ganhar, o que vai ser da democracia americana, depois de séculos como imagem modelo?  França, herdeira da rebeldia popular de 1789 e dos ideais de soberania  popular se dobra à extrema direita. A Itália, com a Primeira Ministra Meloni, ainda que afirme ter abandonado o fascismo de seu antepassado – Mussolini – e que inspirou à política, reina soberana sobre resultados econômicos considerados verdadeiro milagre.

“Mundo, mundo, vasto mundo. Se eu me chamasse Raimundo. Seria uma rima. Não uma solução.”




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