Muito se tem falado do despertar da compaixão nas relações com os animais, como forma de garantir os direitos animais. Não temos uma posição conclusiva se a compaixão é uma virtude ou um sentimento, mas talvez isso nem tenha importância quando pretendemos compreender o que é a compaixão e como ela pode ajudar a todos os seres sencientes a terem uma vida melhor. Conforme o dicionário Aurélio, compaixão é um sentimento benévolo que nos inspira a infelicidade ou o mal alheio. Em outras palavras, é o que sentimos quando nos aproximamos o máximo possível da dor ou infelicidade de outro ser senciente, a ponto de nos colocarmos no “lugar” dele e “sentirmos” o que ele está sentindo. Quando isso acontece nasce uma grande vontade de agir para afastarmos ou mesmo minorarmos o que está prejudicando o outro ser. Isso é compaixão.
Nos colocar no lugar do outro somente é possível porque temos em comum a senciência – capacidade de sentir emoções como medo, alegria, prazer, raiva e sensações como frio, calor, fome, dor. Essa capacidade nos iguala a todos os seres de nossa espécie, assim quando vemos uma criança com fome podemos perceber o mal que há nisso porque, em algum momento de nossa vida, também já sentimos fome e guardamos na memória essa sensação. Da mesma forma, quando nos deparamos com alguém que está com raiva, com medo, com alguém que foi injustiçado, enfim, podemos perceber o universo de sensações e emoções do outro.
Mas, quando percebemos que um cachorro está com fome, podemos dizer que sabemos o que ele está sentindo? Sim, podemos porque os animais também são sencientes, assim como nós. Quem convive próximo aos animais já percebeu que eles expressam o medo, a tristeza, a alegria. A mesma sensação de fome que aflige um cavalo, um peixe e uma galinha é a mesma que nos aflige quando nos falta alimento. A mesma sensação de medo e insegurança pelo desconhecido que sentimos é a mesma que um cachorro sente quando é abandonado na rua pelo seu tutor.
A capacidade da senciência é tão extraordinária que mesmo que eu não tenha vivido determinada situação, sou capaz de perceber as suas implicações pelo simples fato de ter armazenado em minha memória emoções e sensações vividas em situações similares. O que nos diferencia é a forma como reagimos a esta capacidade de sentir. O medo gerado por uma situação injusta em Maria pode ser o motivo que a levou a fugir, já em Joana foi a força para que ela continuasse lutando por seus direitos. Nesse ponto, chegamos na diversidade. Somos seres diversos, marcados pela individualidade, cada um com o seu universo, a sua forma de ver a vida, de reagir, mas todos possuem em comum a capacidade de sentir! Podemos ampliar esta noção e alcançar os demais seres sencientes do Planeta, e esta ampliação é o que, modernamente, se chama de ética da Vida. Olharmos para todos os seres, como seres que são diversos mas que trazem em comum a capacidade da senciência. Nessa perspectiva, podemos perceber por exemplo o que sentem os primatas enjaulados por toda a sua existência em um cubículo nos zoológicos, onde são observados por horas e horas por pessoas que querem vê-los expressar reações, por isso são provocados constantemente. Quando me coloco no lugar desses primatas sinto angústia pela falta de privacidade e tristeza pela falta de liberdade e autonomia.
O despertar da compaixão é um processo a ser vivido de forma individual por cada um de nós. Ele inicia com a empatia, que é o momento no qual sentimos o sofrimento do outro. Caso a gente não tente inibir o que estamos sentindo, o próximo estágio será a vontade de agir para afastar o sofrimento e libertar o outro para que viva uma condição melhor. A ação pelo bem do outro é compaixão. Para haver compaixão, portanto, é fundamental que exista um sentimento de conexão entre eu e todos os seres, onde eu perceba que o viver bem não é uma conquista individual ou mesmo restrita a nossa espécie. Viver bem é o anseio de todos seres sencientes deste planeta, por isso nenhum ser saudável, humano ou não-humano, busca a dor, a miséria, a infelicidade como objetivos de suas ações. Todos os seres buscam circunstâncias de vida que lhes traga bem-estar e os afaste do sofrimento.
Quem se deixa despertar pela compaixão se torna uma pessoa de ação pelo bem-estar coletivo do Planeta, das presentes e futuras gerações de seres sencientes. Se torna uma parte fundamental do Todo na luta pela universalização e eficácia dos direitos, humanos, animais e da natureza! Por isso Gandhi dizia: “Seja você a mudança que queres para o mundo.”
Coração Animal- facebook.com/atpa94