Os cartões postais são as pérolas preciosas dos destinos turísticos, apresentando para o público em geral os locais consagrados para a visitação. Hipérboles imagéticas recheadas de paisagens magníficas, lugares paradisíacos e intocados, bens históricos e símbolos nacionais, possuem um poder de criar um poderoso imaginário, um desejo de explorar, conhecer e se apropriar de ambientes tão famosos e peculiares. Itens colecionáveis que as pessoas recebiam e trocavam com frequência, uma demonstração de carinho e lembrança. Passeando por lugares especiais, lembrava-se de um amigo ou familiar , em seguida enviava um postal com uma mensagem afetuosa. Uma troca emocionante que conectava as pessoas aonde quer que elas estejam e não é muito difícil, no interior de uma gaveta bagunçada encontrar um cartão postal. Segundo informações, os postais surgiram no século XIX na América do Norte e na Europa e só em 1880 através do decreto 7695 chegou no Brasil proposto pelo Ministro da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, Manoel Buarque de Macedo*.
Na cidade litorânea de Torres/RS, as imagens cristalizadas em cartões postais foram de autoria do fotógrafo Ídio K. Feltes. Inclusive seu acervo fotográfico compõe importante fonte histórica para a compreensão do desenvolvimento turístico-urbano, percepções paisagísticas, registros socioculturais e de atividades tradicionais, como a pesca artesanal. Um olhar, um objeto, ângulo e luz dispara um feixe no espaço-tempo, congela o momento para a posteridade. Estas imagens tornaram-se ferramentas fundamentais para a sensibilização e consciência histórica das comunidades, ainda mais na atualidade que o “ato de fotografar” foi se banalizando com as mídias virtuais. As fotografias históricas e suas múltiplas interpretações são verdadeiras relíquias na contemporaneidade.
Em 2016, fiz a proposta ao amigo e artista plástico Jorge Herrmann, uma releitura crítica dos cartões postais, que propiciasse visibilidade e valorização para lugares históricos de relevância cultural e ambiental, desconhecidos do grande público. Assim surge o lado B, a perspectiva periférica e subversiva com intuito de inverter o establishment turístico: a coletânea OS PORTAIS DE TORRES. No formato de cartões postais, Os Portais instigam a uma imersão naquilo que é desconhecido. Uma forma artística e literária de “brincar” com os postais, uma maneira para apresentar de outra forma, os locais consagrados e trazer luz aos locais pouco valorizados pelo senso comum. Já foram publicados dois fascículos de um projeto que almeja alcançar dez fascículos formando uma coletânea. Atualmente estamos trabalhando no terceiro fascículo, fazendo visitações in loco, no qual que chamamos carinhosamente de “campereadas” , convidando alguns apoiadores e amigas e amigos do projeto. No primeiro fascículo publicado em 2016 abordamos locais como o Portão da Praia da Cal, a escultura do Curumim, a Igreja São Domingos das Torres, Lagoa do Jacaré, Paredão e Furna do Tocão, Porto da Guarita (1890), Barra do Rio Mampituba, Lagoa do Violão, Casarios Centenários, A Guarita e Torre Sul e Ilha dos Lobos. Já no segundo lançado em 2017, mergulhamos nos pontos das Figueiras das Salinas, o Torreão de Salva Vidas, Casarão dos Muller, Ponte Pênsil, Furna do Diamante, Chaminés da Pirataba, Belvedere, Farol de Torres, Marégrafo de Torres, Santinha, Praia do Meio e a Pedra da Itapeva. Nesta retomada com vistas de publicação ainda neste ano, vamos imergir em “portais” que revelarei posteriormente, mas adianto que será uma agradável abdução em nossas paisagens, na história e na cultura desse vasto território.
Para quem se interessar pode seguir o perfil @os_portais_de_torres no Instagram.
*informações em https://escolaeducacao.com.br/cartao-postal/