O SÉCULO DOS SÉCULOS

Estou terminando meu novo livro “O século dos séculos” - já encomendado ao meu editor Tommaso Mottironi - com a ideia de montar um quadro de leituras sobre o Século XX

20 de janeiro de 2023

Estou terminando meu novo livro “O século dos séculos”, já encomendado ao meu editor Tommaso Mottironi.  A ideia de montar um quadro de leituras sobre o Século XX me veio à mente lendo o livro “Saudade do Século XX”, de Ruy Castro, presente que recebi do velho amigo Paulo Sotero Costa. Grato! Ali tive oportunidade de relembrar eventos que vivi, li, ou ouvi na minha infância e juventude. A formação e a maturidade me permitiram situar melhor este século já passado. Comecei, lentamente, a compreender que ele representou uma ruptura com os três ou quatro séculos anteriores, nos quais se retomaram valores e princípios da Antiguidade Clássica com vistas a dar um salto à razão e liberdade  nos marcos do  Iluminismo.

No vértice deste pensamento, no século XVIII, com a Ilustração, chegou-se à concepção do homem como um sujeito eticamente constituído capaz de planejar conscientemente seu destino. Com esta ideia força a humanidade destitui o velho regime absolutista. O andar da carruagem, porém, ao longo do século XX foi, paulatinamente, afirmando e negando dialeticamente esta crença. Jacobbi, Schopenhauer e Nietzsche já vinham advertindo para os limites da idolatria à razão e da necessidade de recolocar as paixões no centro das ações humanas. Então chegou Sigmund Freud e vaticinou que o homem é refém de uma razão que sua razão desconhece: o inconsciente. Seu livro “A interpretação dos sonhos”, publicado em 1899, antessala dos 900, é o marco inicial da Psicanálise como mais um caminho no projeto de emancipação do homem. As artes seguiriam os mesmos passos destes arautos,  descontruindo a estética do  mimetismo  do real pelas   impressões subjetivas sobre o que ela suscita no autor: Do real ao surreal, daí ao abstracionismo. Do pó ao pó…Começamos o século, 1905, com a Teoria da Relatividade que soterrava as Leis de Newton; ultrapassamos a década de 20, quando o epicentro do mundo deslocou-se da Europa para os Estados Unidos fazendo do automóvel seu principal objeto de desejo; duas grandes guerras mundiais deixaram um rastro do sangue de 100 milhões de mortes; e chegamos ao anticlímax de 1968, com a imaginação no poder, todos marcos da virada cultural, filosófica e econômica  rumo ao terceiro milênio. Ali, o já curto século XX expirava.

Como diz Umberto Eco num de seus artigos: – “Só ficaram livres do relativismo o sacrossanto tomismo e o empiriocriticismo” …Faltava, apenas, uma revolução nas comunicações para que se consumasse o conjunto de elementos de uma Nova Era, sempre articulada a uma cosmologia, uma técnica de produção, uma forma de organização social e outra de comunicação. Vieram o chip, o computador, a Internet e as Redes Sociais e aí … o mundo das aberrações veio à tona na Aldeia Global: a favelização do planeta, a financeirização da economia, a crise nas democracias ocidentais, o terraplanismo, a modernidade líquida, os simulacros virtuais, as ambições nacionais.

Ainda assim, mesmo sob o acicate da crítica, a razão prossegue seu império nas Ciências rumo ao homem como recriador de si mesmo e de suas condições no mundo: Física Quântica, Biotecnologia, Neurociência, Engenharia Genética, etc. O Homo Deo…Já no campo da Política, Razão e Sensibilidade disputam espaço. Não está excluída a hipótese do holocausto nuclear em escala mundial, nem assumida consensualmente a máxima de que é a democracia e suas instituições que garantem a Liberdade. Por paradoxal que pareça, mais uma vez, são os autoritários que falam em liberdade. Ó Liberdade, quantos crimes são cometidos em teu nome. Meu novo livro procura, enfim, demarcar alguns passos desta contraditória travessia. Aguardem!




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