Teatro do Absurdo foi a designação criada em 1961 pelo crítico húngaro radicado na Inglaterra, Martin Esslin, tentando sintetizar uma definição que agrupasse as obras de dramaturgos diversos como o escritor romeno, radicado na França, Eugène Ionesco (1909 – 1994), o irlandês Samuel Beckett (1906 – 1989), o russo Arthur Adamov (1908-1970), o inglês Harold Pinter (1930-2008), o espanhol Fernando Arrabal (1932), o francês Jean Genet (1910-1986) e o estadunidense Edward Albee (1928); no Brasil, um gaúcho, de Porto Alegre, também é apontado como um baluarte precoce desta abordagem: José Joaquim de Campos Leão – 1829/1883 , conhecido pelo nome de sua principal obra Qorpo Santo. Características deste “Teatro do Absurdo”:: um sentido tragicómico, quadros não necessariamente conectados; alternância entre elementos cômicos e imagens horríveis ou trágicas; personagens presas a situações sem solução, forçadas a executar ações repetitivas ou sem sentido; diálogos cheios de clichês, jogo de palavras e nonsense; enredos que são cíclicos ou absurdamente expansivos; paródia ou desligamento da realidade.
Esta abordagem do Teatro do Absurdo acompanhou, no início do século XX , com variantes similares, a literatura, as artes plásticas e a música, todas marcadas pela desconstrução da harmonia do real, com suas equilibradas proporções, em resposta às profundas e velozes mudanças da sociedade industrial moderna. Hoje parece que chegamos onde estes autores todos prenunciaram: Uma Era da Pós Verdade. Tudo é narrativa. O REAL SE DEFEZ. Um anônimo post numa Rede Social vale mais que toda a Ciência acumulada…
A ideia de uma CPI para “investigar” a quebradeira do 8 de janeiro, proposta por defensores de quem as instigou – bolsonaristas indignados com a vitória e posse de Lula – é simplesmente um absurdo. Até as paredes sabem que houve uma conclamação por bolsonaristas pelas Redes, com financiamento de interessados num golpe, para que houvesse uma grande manifestação no dia 8 de janeiro. Há até um ex-Ministro da Justiça e Secretário da Segurança na data dos acontecimentos, preso. Arredores de quarteis nas capitais estavam concentrando partidários do golpe com o tácito apoio de comandantes militares contagiados pelo discurso antidemocrático. Então houve a explosão do dia 8, com milhares de pessoas politicamente motivadas, usando camisetas indicativas de sua filiação a Bolsonaro, ocupando a Praça dos Três Poderes e fincando, no patamar do Congresso Nacional a faixa : “Intervenção Militar”. O resto, todo mundo viu pela televisão. A reação dos Poderes constituídos foi rápida e o golpe frustrado, com mais de um milhar de manifestantes presos, hoje respondendo a processo por danos ao patrimônio público e atentado ao Estado de Direito Democrático. Salvou-se a democracia; e as investigações sobre responsabilidades políticas e criminais estão em curso sob a égide do Supremo Tribunal Federal. Não obstante, todas as evidências deste REAL, a extrema direita, responsável pelos atos, frustrada em seu intento golpista, tenta safar-se de sua aventura criando uma narrativa ABSURDA: Foi o Governo que estimulou o quebra- quebra para se vitimar perante a opinião pública e com isso firmar-se no Poder. Esta narrativa foi retomada ontem diante da revelação de um malfadado e talvez editado vídeo colhido naquele dia no Palácio do Planalto, no qual o General Gonçalves Dias, então Chefe do GSI, encarregado da Segurança da Presidência da República, passeia entre manifestantes, ao lado de outro militar.
De nada adiantaram as explicações do referido general, da estrita confiança de Lula, de que lá estava tentando retirar os manifestantes do terceiro andar, à espera das forças de segurança que, afinal, os retirariam do recinto. Gonçalves Dias não só ficou mal como abriu uma grave crise política no Governo, com reflexo nas relações de Lula com os militares. Seu maior erro foi ter calado sobre sua presença no Palácio no momento da invasão da turba associado à não divulgação imediata de todos os vídeos do ocorrido. No mínimo, um cochilo… Expôs o Governo à narrativa oposicionista, que se fortaleceu no propósito de criar uma CPI para investigar os atos de 8/1, já agora defendida, também, por líderes governamentais. Tal CPI, a essas alturas, já não tem nada a investigar.
Os atos daquele dia não só já foram investigados como seus perpetradores já estão sendo incriminados em processo judicial como réus: Todos confessadamente golpistas. A CPI do Absurdo servirá apenas como manobra diversionista, dificultando, mais uma vez a entrada em ação do novo governo, hoje com pautas importantes a serem apreciadas pelo Congresso, como ANCORA FISCAL e REFORMA TRIBUTÁRIA. Contudo, é um direito da Oposição, reivindicá-la fazendo de seu curso o ESPETÁCULO da narrativa non-sense de que o Governo tinha um pé no quebra-quebra. Como diria Guimarães Rosa: ORESSA!