OPINIÃO – A destruição dos Biomas Brasileiros

Enquanto ainda sofremos no Rio Grande do Sul o trauma das inundações que alagaram o Estado neste copioso maio, abundam reflexões sobre as causas do incidente (...) Aproveitemos, pois, para ver um antecedente das mudanças climáticas no que tange à maneira como tratamos nossos grandes biomas

1 de junho de 2024

Enquanto ainda sofremos no Rio Grande do Sul o trauma das inundações que alagaram o Estado neste copioso maio, abundam reflexões sobre as causas do incidente, onde não faltam acusações às omissões de governantes e fórmulas para a ação corretora no futuro. A capital, Porto Alegre, não é a cidade que mais sofre. Cidades como Eldorado, do outro lado do Guaíba, foram integralmente arrasadas. No Vale do Taquari, várias foram varridas pela lama. Pelotas, ao sul da Lagoa dos Patos ainda está ameaçada. A pergunta que todos se fazem é a seguinte: Isso foi uma fatalidade da natureza, eis que já outrora outras enchentes se sucederam, ou houve, realmente, falhas na prevenção e descaso frente aos alertas das mudanças climáticas? É cedo, ainda, para um veredito definitivo, mas, com o tempo as respostas preencherão laudos técnicos, páginas de livros, extensas decisões judiciais e não poucas suposições. Até lá, valham as ações emergenciais de atenuação do sofrimento das populações direta e indiretamente afetadas.

Aproveitemos, pois, para ver um antecedente das mudanças climáticas no que tange à maneira como tratamos nossos grandes biomas.

O Brasil tem cinco biomas, Amazônia, Mata Atlântica, Pantanal, Pampa e Cerrado . O mais extenso, sem dúvida e o mais rico em biodiversidade, a AMAZÔNIA, tem merecido a maior atenção internacional e do próprio Brasil, à vista de seu  desmatamento desenfreado nos últimos anos. Pagamos caro para nos tornarmos uma potência agrícola que, de resto, enriqueceu regiões marginais como Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e partes significativas do Piauí, Bahia, Pará e Maranhão, povoando-a de pioneiros amantes de rodeios, música sertaneja e ‘caminhonetões’. Nosso Centro Oeste produtivo e conservador. Fornecedor de divisas que alimentarão nossas Reservas Internacionais, mas que pouco contribuem para os Orçamentos Públicos. Exportações de bens primários não pagam impostos e geram poucos empregos diretos.

Dados atuais, no entanto, apontam  que o desmatamento está caindo na Amazônia, mas vem aumentando no Cerrado, no Planalto Brasileiro, onde nascem as vertentes de nossas principais bacias hidrográficas. Um dia secarão…O Cerrado foi preservado historicamente pela fraqueza de seu solo, que pouco reteve mão de obra por séculos, depois do fim do ciclo da mineração no sec. XVIII. Desde os anos 1970, porém, com a criação da EMBRAPA que desenvolveu tecnologia para o seu aproveitamento agrícola associada aos avanços da Revolução Verde, este bioma foi literalmente devastado. O Jornalista Washington Novaes, já falecido, deixou páginas de indignação com este processo que agora se acentua. Com o maior controle sobre a Amazônia,  o agrobusiness se volta para o Cerrado e liquida suas últimas reservas. Morei muitos anos em Goiás e vi de perto essa devastação. Vi como tratores com correntes puxavam as retorcidas árvores de raízes profundas do cerrado amontoando-as em valões da estrada. Aí esperavam a seca. Queimavam, sem deixar vestígio.

Mata Atlântica já foi praticamente destruída. Temos a sorte de termos aqui em Torres um pequeno torrão do que ela foi um dia, ao longo de toda nossa costa. O Pantanal tem sofrido uma sucessão de secas e queimadas como nunca. E nosso Pampa, no Rio Grande vai se transformando lentamente em deserto. Poucos têm ideia que mais da metade do nosso Estado é uma imensa planície fartamente irrigada, outrora ocupada pelo mar que deixou no seu recuo imensas lagoas alimentadas por rios que escorrem da Serra do Mar sem saída para o Oceano, além de dois pontos meio entupidos ao sul: A barra de Rio Grande e o Canal de São Lourenço, que nos liga a Lagoa Mirim. No “estouro” das águas, as inundações.

Um dia, um gato. No outro, o carrapato…Aliás, em boa hora, estão colocando placas de advertência sobre um nocivo bichinho que convive com as capivaras: o carrapato estrela.

 




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