O episódio do Hamas sobre Israel, que já está fazendo, numa semana, mais de 2.000 vítimas, é o principal assunto da conjuntura mundial. Soterrou, até, a guerra na Ucrânia, com igual potencial de se converter no estopim de um conflito mundial. Nada direi sobre o fato. Serei, como juramentado esquerdista, tomado como suspeito. Mas as coisas nunca são o que parecem. Deixo-os com as palavras dos conservadores de “O Globo”, que comenta Editorial do Haaretz, principal jornal de Tel Aviv. Insuspeitos. Leiam: ‘Responsabilidade pela guerra com Hamas é de Netanyahu’, diz principal jornal israelense (Por O Globo — Tel Aviv).
Em editorial, o Haaretz aponta decisões de um ‘governo de anexação e desapropriação’, conduzidas por ministros da extrema direita antiárabe que o premier incluiu no Gabinete, entre os elementos que levaram à explosão brutal da violência.
Em um duro editorial, o Haaretz, principal jornal israelense, apontou nesta segunda-feira o primeiro-ministro de Israel, Benjamim Netanyahu, como o responsável pelos ataques sem precedentes orquestrados pelo Hamas, que deixaram mais de mil mortos. O Haaretz destacou a incapacidade do premier de avaliar os riscos para a escalada do conflito representados pelas políticas francamente hostis aos palestinos e pela presença no governo de representantes da ultradireita religiosa radicalmente antiárabes.
“O primeiro-ministro, que se vangloria da vasta experiência política e da sabedoria insubstituível em matéria de segurança, falhou completamente em identificar os perigos a que conscientemente direcionava Israel, ao estabelecer um governo de anexação e desapropriação, ao indicar Bezalel Smotrich [ministro das Finanças] e Itamar Ben-Gvir [ministro da Segurança Nacional, da extrema direita] para postos-chave, enquanto adotava uma política externa que abertamente ignorava a existência e os direitos dos palestinos”, diz o texto.
O Haaretz pondera que as falhas dos serviços de inteligência e das Forças Armadas vão surgir à medida que os fatos sejam apurados e que haverá pressão para que seus chefes sejam afastados e responsabilizados. No entanto, argumenta que as falhas dos outros setores do Estado não reduzem a centralidade do papel do primeiro-ministro na eclosão da crise, já que é “o árbitro final das questões externas e de segurança de Israel”
Sobre a guinada à direita do governo do premier que mais tempo governou na História do país, o Haaretz lembra que, no passado, Netanyahu adotou o perfil de um líder cauteloso que evitou guerras e muitas perdas de vidas israelenses, mas, “após sua vitória na última eleição, ele substituiu esta cautela pela política de um ‘governo totalmente de direita’ com passos claros tomados para anexar a Cisjordânia, de levar adiante limpeza étnica em partes da área-C definida pelos Acordos de Oslo, incluindo as Colinas de Hebron e o Vale do Jordão”.
O Haaretz afirma que o Hamas aproveitou a crescente revolta na Cisjordânia, onde “os palestinos começaram a sentir a mão mais pesada” da ocupação israelense, com a ampliação de assentamentos e do aumento do número de colonos judeus no território, perto do Monte do Templo e da Mesquita de al-Aqsa.
O jornal ataca ainda as acusações que Netanyahu enfrenta na Justiça, e sua cruzada para aprovar uma polêmica reforma do Judiciário, amplamente considerada antidemocrática. “um primeiro-ministro denunciado em três casos de corrupção não pode cuidar de questões de Estado, já que os interesses nacionais vão necessariamente ser subordinados a liberá-lo de uma possível condenação à pena de prisão”.