OPINIÃO – BALONISMO EM TORRES: Dos eventos ao acontecimento

"Embora não tenha assistido a todos os Festivais, tenho para mim que este de 2023 se excedeu em beleza e organização. O balonismo preencheu uma lacuna na vocação turística de Torres e já pode ser considerado o maior de seus eventos, justificando os elevados custos em dinheiro público nele envolvidos. Por isso mesmo, justifica-se pensá-lo melhor numa estratégia de desenvolvimento da cidade"

5 de maio de 2023

 O Festival de Balonismo de Torres teve seu marco em 1989 quando apareceram em caráter promocional na antiga Feira da Banana, evento agrícola da cidade. Os balões fizeram tanto sucesso que logo ganharam um evento próprio…

O balonismo vem de longe: ocorreu no ano de 1783, quando dois irmãos franceses, Etiene e Joseph Montgofier, realizaram o primeiro teste com um balão. O vôo foi um sucesso e visto por quase toda a população de Paris da época. Já no Brasil o primeiro vôo de balão  aconteceu no ano de 1885. Um antecedente importante do balonismo foi o fato de que ele inspirou Santos Dumont às alturas, fazendo-o pioneiro da aviação. Um belo depoimento dele pode ser encontrado no seu memorável relato “Os meus balões” , Biblioteca do Exército1973, no qual conta seu fascínio em voar e suas peripécias com a série de balões dirigíveis entre 1900 e 1904 , em Paris: “Às 11 horas os preparativos estavam terminados. Uma brisa fresca acariciava a barquina, que se balançava suavemente sob o balão. A um dos cantos dela, com um saco de lastro na mão, eu aguardava com impaciência o momento da partida. Do outro, o Sr. Machuron gritou: – Larguem tudo!

No mesmo instante, o vento deixou de soprar. Era como se o ar em volta de nós se tivesse imobilizado. É que havíamos partido, e a corrente de ar que atravessávamos nos comunicava sua própria velocidade. Eis o primeiro grande fato que se observa quando se sobre num balão esférico. Esse movimento imperceptível de marcha possui um sabor infinitamente agradável. A ilusão é absoluta. Acreditar-se-ia, não que é o balão que se move, mas que é a terra que foge dele e se abaixa.

No fundo do abismo que se cavava sob nós, a mil e quinhentos metros, a terra, em lugar de parecer redonda como uma bola, apresentava a forma côncava de uma tigela, por efeito de uma fenômeno de refração que faz o círculo do horizonte elevar-se continuamente aos olhos do aeronauta.”

 

Volto aos balões e ao balonismo para concelebrar com organizadores, competidores e grande público presente o sucesso do 33º. Festiva de Balonismo de Torres. Quis o bom Deus nos brindar, naqueles dias, com um clima excepcional. Embora não tenha assistido a todos os Festivais, tenho para mim que este se excedeu em beleza e organização. O balonismo preencheu uma lacuna na vocação turística da cidade e já pode ser considerado o maior de seus eventos, justificando os elevados custos em dinheiro público nele envolvidos. Por isso mesmo, justifica-se pensá-lo melhor numa estratégia de desenvolvimento da cidade. Sua realização comprova, sobretudo, a necessidade de se complementar o cronograma de verão com eventos que se sucedam ao longo do ano. Ruy Rubem Ruschel, patrono dos historiadores da cidade, já escrevia fartamente sobre isso há mais de 30 anos: – “Precisamos mais do que o veraneio”, chamando a atenção para a importância de parques temáticos na cidade, maior apoio à cultura e ao turismo rural. =

Pois bem, tudo isso para dizer que muito devemos a empresários que deram os primeiros passos para o balonismo na cidade e outros tantos desportistas que se lançaram ao balonismo. Hoje, segundo Tommaso Mottironi, que concedeu uma entrevista  à Cultura FM sobre o evento, Torres é uma cidade privilegiada com o número de equipes. Destaca o Professor Roni Dalpiaz, também, em sua Coluna em A FOLHA de 29 de abril passado, que nosso Festival já está entre os dez maiores do mundo. Resta, agora, não deitar sobre os louros conquistados, mas planejar melhor para os futuros Festivais. Um evento desta magnitude e com as projeções que adquiriu não pode ser organizado apenas pela Prefeitura Municipal nas últimas semanas de sua realização. Mister criar uma Comissão Mista Permanente, com membros da sociedade civil,  para tratar do assunto, com assento no Conselho Municipal de Turismo e capacidade de diálogo com todos os interessados. Uma das reclamações, por exemplo, se refere ao contingenciamento do local dos balões. Há necessidade de mais espaço. Talvez se possa pensar em outra e mais ampla área, até para evitar o congestionamento do trânsito ali onde está. Mottironi, urbanista, destaca a importância de um novo layout na área do balonismo, com a criação, inclusive de galpões para as várias equipes e oficinas. Ao mesmo tempo, pela natureza da atividade, aérea, ela se desdobra além dos limites da cidade, sugerindo a necessidade de se incorporar ao evento pelo menos Passo de Torres. Isso, aliás, aponta para a importância de fazer do balonismo um instrumento de valorização de todo o Vale do Mampituba, igualmente privilegiado em termos de paisagem.

Com tudo isso, ir-se-ia deslocando o olhar para os balões para um olhar dos balões para pontos importantes da nossa realidade: o rio, lagoas, parques, artesanato etc.. Palestras, Seminários, Encontros Temáticos e Concertos poderiam completar o ciclo. Um bom Plano de Comunicação Social do evento, com a produção final de um Vídeo Institucional da Prefeitura consagraria e divulgaria estes esforços.  Finalmente, parece ter chegado a hora de transformar o evento balonismo num acontecimento, no sentido que cientistas sociais dão a este termo: a capacidade do evento produzir resultados além do seu tempo. A Economia do Balonismo. Sua capacidade de gerar renda e empregos além do período do Festival. Fica o desafio.




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