A semana foi pródiga em incidentes políticos, ressaltando a deterioração da situação internacional, às portas de um conflito nuclear em torno da guerra na Ucrânia, da indignação generalizada da ação brutal de Israel sobre Gaza, já admitida como genocida, e das tensões internas nos Estados Unidos. No Brasil, o clima não é mais ameno. Aliás, até mesmo o outono se revela impiedoso: Em Santa Catarina, os termômetros marcaram seis graus abaixo de zero. Mas a temperatura política é alta, estressando as relações entre os Poderes da República. Por sorte, seus respectivos titulares são pouco belicosos. Aqui releva a firme disposição do Presidente Lula, animado pelas honrosas homenagens recebidas em Paris, quando foi retratado como “lenda”, de contornar conflitos. Deve ter lido com atenção o livrinho de um general chinês que escreveu “A Arte da Guerra” no qual ensinava, seis séculos antes de Cristo, que a primeira lição de qualquer exército diante da guerra – que é “a continuação da política por outros meios” – é conhecer sua própria força. Depois, conhecer também, a do inimigo. Pois bem, Lula sabe que está, senão “só”, quase isso. Tem contra ele um Congresso conservador, uma elite empresarial insaciável, uma classe média de 50 milhões que se considera ameaçada, a grande imprensa que pauta todas a rede de comunicações espalhada pelo interior do país, e uma massa de renda baixa que já não se satisfaz com os Programas Sociais. Até o PT parece perplexo…Uma autora, atenta, Sara Goes, publicou, nestes dias uma pérola: A SOPA, A ONÇA E O PRESIDENTE LULA – Lula carrega nas costas um país que finge não depender mais dele, mas que não sabe andar sem sua bússola. Resultado: Sua reprovação é maior do que a aprovação. Com tudo isso, as manchetes dos jornais e televisões do país, se detiveram e repercutiram as palavras do ex Presidente Bolsonaro, com outros altos membros de seus governo, na Ação Criminal que responde por tentativa de golpe.
O ex presidente Jair Bolsonaro foi ouvido no Supremo Tribunal Federal, junto com outros réus no processo que investiga tentativa de golpe no Brasil ao final de 2022. Comportou-se surpreendentemente sereno, respondendo com desenvoltura às indagações do Ministro Moraes, sempre negando que tivesse comandado qualquer ato com vistas à ruptura institucional do país. Reitera que teve sempre em mente “as quatro linhas da Constituição”, cujo exemplar o acompanhava. Essa, entretanto, é apenas uma retórica, como ele mesmo gosta de dizer, pois não há “quatro linhas” na Constituição de 88. Ela tem artigos e cláusulas pétreas que devem ser seguidos à risca por todos os brasileiros, sobretudo investidos de funções públicas. Não um campo de futebol. Bolsonaro permitiu-se, até, fazer um convite ao Ministro Moraes como companheiro de chapa, na condição de seu vice, em 2026, que o Ministro imediatamente declinou, sem censurá-lo. Afinal, Bolsonaro está inelegível. Para a maioria dos analistas, o ex presidente entrou condenado e saiu condenado, pois confessou que discutiu medidas que poderiam levar a anulação das eleições “dentro da Lei”. Alguns explicam sua descontração na expectativa de que dificilmente seria preso por muito tempo, considerando, inclusive, que a sentença, sem margem de chicanas jurídicas, só sairia no final deste ano e que, na eventual vitória, em 26 , de um aliado à Presidência, seria indultado.
Em seu depoimento Bolsonaro minimizou ações de seus seguidores que culminaram nos eventos de 8 de janeiro de 23 – e disse que Forças Armadas jamais aceitariam intervenção militar. Estigmatizou o golpe. E chamou os que pediam intervenção militar, depois de sua derrota, de “malucos”. Com isso acabará perdendo a aura de durão que tradicionalmente cultivou. Na verdade, diante da perspectiva de condenação, “amarelou”. Quanto às aglomerações em frente aos quartéis, de onde emanavam os ecos pedindo “intervenção militar”, afirmou que não ultrapassaram os limites da legalidade, embora aninhassem radicais:- “Agora, tem sempre uns malucos ali que ficam com aquela ideia de AI-5, intervenção militar, que as Forças Armadas jamais iam embarcar nessa porque o pessoal tava pedindo ali, até porque não cabia isso aí e nós tocamos o barco”, afirmou o ex-mandatário. Esta estratégia, porém, contrasta com a série de acusações que fez, desde o famoso discurso do 7 de setembro de 21 em São Paulo, tanto às instituições do sistema eleitoral do país, como ao próprio Ministro Moraes. Desculpou-se, inclusive, instado por Moraes sobre denúncia de membros do TSE estariam recebendo até 30 milhões, afirmando ter se tratado apenas de retórica, sem provas.
Além de Bolsonaro, vários outros réus, todos ocupantes de altas funções no campo da segurança nacional e jurídica em seu Governo, inclusive um patético ex Ministro da Justiça, também foram ouvidos. Sem exceção, declararam-se inocentes, não sem deixar de evidenciar a falta de altivez quanto ao caráter e propósitos que deles se esperariam.
Diante de tudo isso, ninguém se lembrou de celebrar, dia 10 de junho, o “Dia da Lingua Portuguesa”. Os poemas, entretanto, abundaram dois dias depois: Dia dos Namorados